Marco_2007 - page 29

Marcelo
Coutinho
comunidades “virtuais” são tão impor-
tantesparaelesquantoascomunidades
domundo“real” (DigitalFutureProject,
2007). No caso brasileiro, este tipo de
comunidaderespondepormaisde15%
dotempototalqueasosinternautasresi-
denciaispassamon-line,comoveremos
maisadiante.
Mas afinal, o que caracteriza uma
“comunidade”?Trata-sedeumapalavra
com“mil eumautilidades”, ecom sig-
nificados diversos conforme o campo
doconhecimentoqueautiliza.Basica-
mente,oconceitoemergedanoçãode
comprometimento com valores com-
partilhados,criadapelosociólogoÉmile
Durkheim no início do século XX. O
termoderivado latim
communis
,desig-
nandooqueécomum,público,dividido
portodosoumuitos.Oestudodascomu-
nidades fazpartedeuma longa tradição
sociológica,psicológicaeantropológica,
campos dos quais iremos retirar alguns
conceitosparaentendersuaconstituição,
dinâmicaepossíveisconseqüênciaspara
asdecisõesdeconsumo.
Comunidades atendem necessidades
sociais,psicológicasoueconômicas.As
primeiras comunidades eram limitadas
pela geografia, pela temporalidade e
pelos meios que seus integrantes pos-
suíampara interagir uns comosoutros
–basicamente,avozeapresençafísica
5
.
O desenvolvimento da comunicação
digitaleliminouestasbarreiras,masnão
alteroualgunsprincípios fundamentais:
a existência de interesses comuns, um
códigode conduta compartilhado (ex-
plícita ou implicitamente), um “senso
de intimidade” baseado em confiança
mútua, reciprocidade, estímulo para
a participação e uma liderança (nova-
mente explícita ou implícita) que se
preocupa em assegurar amanutenção
deumpropósito,aobservaçãodecertos
“rituais” (comemoraçãodedatas espe-
ciais,porexemplo)eoestímuloparaque
aspessoassigam interagindo.
Os interesses comuns que cimentam
uma comunidade podem ser de dois
tipos: práticos e/ouhedonistas.Nopri-
meirogrupo,encontram-setemascomo
informações sobreprodutos, empresas,
tecnologias, passatempos, economia,
condiçõesde trabalho, saúdeetc. Jáas
comunidadeshedonistas sãoorganiza-
das em torno da troca e do consumo
de experiências positivas em torno
de interesses pessoais, comomúsica,
alimentação, viagens ou características
demográficas (pessoas acima de 60
anos etc.), entre outros interesses. Nas
duas situações, a comunidade acaba
por se tornarou fornecerum“grupode
referência”, capazde influenciar esco-
lhasedecisõesdeconsumo (Bagozzi e
Dholakia,2002).
Asprimeiras “comunidadesdigitais” se
baseavamprincipalmentena interação
atravésde textos,eestavam restritasaos
grupos de consumidores commaior
familiaridadecomatecnologia.Mesmo
assim jádemonstravamgrandecapaci-
dadedeinfluenciarocomportamentode
umindivíduo,comodemonstrouSherry
Tucklenoclássico“Lifeon theScreen”,
onde ela analisa as interações de par-
ticipantesde jogosdeRPGem redeno
iníciodosanos90 (Tukle, 1995).
AevoluçãodaWebpossibilitouacria-
çãodenovas formasdecomunidades.
Emumprimeiromomento,aevolução
dosoftwarepermitiuqueo trabalhode
criação e edição de conteúdo escrito
fosse tremendamente facilitadoatravés
dosblogs (alguémaí se lembradoque
BASICAMENTE, O CONCEITO
EMERGE DA NOÇÃO DE COM-
PROMETIMENTO COM VALORES
COMPARTILHADOS,CRIADAPELO
SOCIÓLOGOÉMILEDURKHEIMNO
INÍCIODO SÉCULOXX.
TEMPOTOTALQUE
OS INTERNAUTAS
RESIDENCIAIS PASSAM
ON-LINENOBRASIL
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Ilustração: DesignCMSO© 2005
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MARÇO
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