Marco_2007 - page 88

Pedro de
Santi
91
MARÇO
/
ABRIL
DE
2007 – R E V I S T A D A E S P M
O consumo cai como uma luva para
esta forma de sensibilidade: cada
produto é uma promessa de gozo
duplo, com seuencontroecomade-
cepçãoquesepodeanteciparpelodes-
gastede suapossibilidadededesfrute.
Aqui podemos evocar filmes clássicos
sobre o Romantismo, como
Razão e
Sensibilidade,
ou clássicos recentes
sobrea sensibilidadee insaciabilidade
contemporânea, como
Closer.
5.
CONSTRUÇÃODEUM
ESTILO PRÓPRIO
Com esta quinta perspectiva, atingiría-
mosopontomáximodecrençanapos-
sibilidadede sepensarumconsumidor
ativoeconscientedeseuconsumo.
Oautordereferênciaparanós,aqui,será
Richard Sennet, no clássico
Odeclínio
dohomempúblico.
Sennet trabalha com a idéia de que
ohomemmoderno foimergulhando
cada vez mais em sua intimidade,
uma vez que foi perdendo as refe-
rências externas tradicionais. Esta
intimidade desvinculada, no en-
tanto, torna-seo lugardeansiedades
e incertezas.Oconsumoapareceria
neste contexto comouma formade
expressãoeprojeçãode seumundo
interior.Atravésdosobjetosadquiri-
dos poderia sematerializar a singu-
laridade diferenciada da pessoa.
Assimos objetos de consumonão são
“falsos” objetos ou formade alienação
devalores legítimos.
A idéiadequeos impulsos, fantasias e
aprópria identidadepessoalnão sejam
substânciaspuras,naturaisouinatas,cuja
expressão legítima seriadistorcidapela
cultura,éprópriaàpsicanálise.
Pelo contrário, os objetos precisam ser
encontrados contingentemente no am-
bientedoindivíduo.Assim,abre-seapos-
sibilidadedesepensarqueaescolhapor
bensdeconsumonãosejaalienanteou
umaprocurapor substitutosporobjetos
maislegítimoseoriginaisdedesejo,mas
simuma formaderealizaçãoeconcreti-
zaçãodenossasaspiraçõessingulares.
O que sempre me vem à mente ao
pensar nesta perspectiva é a chamada
das lojas Renner: você tem seu estilo,
temos todos.
Deumlado,afirma-seofatodevivermos
numa sociedade de consumo, sem a
possibilidadedeescaparmosdisto.Cos-
tumodizeraosnossosalunos, jovensde
uns20anos,queseelesseachammuito
diferentes e alternativos, eles devem
freqüentar a Rua Theodoro Sampaio,
galeria tal, loja tal;mas seeles são real-
menteloucosdesadaptados,aíémelhor
procuraremaGaleriaPajé, loja tal.
AQUI PODEMOS EVO-
CAR FILMES CLÁSSICOS
SOBREOROMANTISMO,
COMO
RAZÃO E SENSI-
BILIDADE
OU CLÁSSI-
COS RECENTES SOBRE
A SENSIBILIDADE E IN-
SACIABILIDADE CON-
TEMPORÂNEA, COMO
CLOSER
.
SENNET TRABALHA COM A IDÉIA
DEQUEOHOMEMMODERNOFOI
MERGULHANDO CADAVEZ MAIS
EM SUA INTIMIDADE, UMA VEZ
QUE FOI PERDENDOAS REFERÊN-
CIAS EXTERNAS TRADICIONAIS.
ESSA INTIMIDADEDESVINCULADA,
NOENTANTO,TORNA-SEOLUGAR
DEANSIEDADES E INCERTEZA.
ASSIMOSOBJETOSDECONSUMO
NÃO SÃO “FALSOS” OBJETOS OU
FORMA DE ALIENAÇÃO DE VA-
LORES LEGÍTIMOS.
Foto: Filme-Razão eSensibilidade-EmmaThompson eKateWinslet
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