Marco_2007 - page 79

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R E V I S T A D A E S P M –
MARÇO
/
ABRIL
DE
2007
Entrevista
Nos EUA enoCanadá essas formas
de consumo “pularam por cima”
de gerações, em parte porque as
pessoas se sentiram, decerta forma,
inadequadas. Quem não tivesse
20mil músicas no seu iPod estaria
passando ao largo da vida. A outra
postura é dizer: “Recuso-me a lidar
com estas coisas”. NoCanadá, não
tenho celular. Livrei-me dele, era
demais.
GRACIOSO
–Você não tem?
ROB
– Não, mas provavelmente
seráaprimeiracoisaquecomprarei
quando regressar – depois de ver
vocês todos,brasileiros, tãoenvolvi-
dos, imersos na telefonia celular!
GRACIOSO
– Você não tem ou
perdeu?
ROB
– Não, eu não tenho. Recu-
sava-me a usar. Depois de ficar
horasao telefone, pager etc., queria
colocar-me numa posição de “por
favor, se quiser falar comigo, ligue
no escritório, das 9h às 17h”. Esta
foi minha reação individual à in-
vasãoculturaldasnossasvidas.Uma
espéciede forçarabarrapara terum
“consumovirtuoso”–ovirtuosismo
do consumo. Às vezes, as pessoas
juntam vários cacos, troços, sem
um template, um modo individu-
alizado, com seu próprio “aroma”,
sua individualidade, ao invés de
se conformar com uma nova tribo
consumista. Não é fácil de fazer,
com regras de consumo bem de-
terminadas e preestabelecidas. Um
bom exemplo é a moda. Há uma
indústria solidamente estabelecida,
dizendo às pessoas o que comprar,
mesmoquenão sejamuitoadequa-
doàestação.Háumalgoritmopara
observar e seguir.
GRACIOSO
– Os supermercados
nãogostamdevendaspela internet.
Quando compramos os produtos
na internet, sabemos exatamente o
quequeremos. Jáno supermercado,
além daqueles itens, acabamos le-
vando dez outras coisas mais. Isso
é para exemplificar, simplesmente,
como as pessoas se sentem, mas
vai mudar.
MÁRIO
–Não lhe parece que toda
essaconversade internet,cyberetc.,
possaserum tipodesubstituiçãodos
contosde fadas?Porqueashistórias
que li quando criança parecem-se
com
second life
, Big Brother, To-E-
To, Imagination, Peter Pan,What is
going on? Amitologia de estar em
todo lugar, saber tudo, ser outra
pessoa. Será que estamos diante da
concretizaçãoeletrônicadosContos
deGrimm?...
ROB
– Temos de ser cuidadosos,
porque os contos de fadas não
dizem respeito a abstrações, não
sãoficção.Quandoos lemos como
adultos,ospercebemoscomo100%
ficcionais.Masnãoascrianças; elas
vêem as histórias de seres que não
existem, mas são invisíveis, mági-
cos, estão elididos. Minha palavra
para isto é que são ficcionais. São
intangíveis, invisíveis,nessesentido.
Citando Proust, a respeito desta
definição de virtualidade: “É real,
mas irreal-ideal, não abstrato”. Vir-
tualidadeéum tipodemediaçãoou
distinçãoem relaçãoaomundocon-
creto, corpos que sepodemver, eo
mundoabstratocontémpersonagens
inteiramentefictícias.Avirtualidade
é “o que é real, mas imaterial”. Há
um site importante, das coisas que
estão vindo à existência, site sobre
inovações,
e-comings.
Deixe-medar
umexemplo: imagineumseuamigo
de muitos anos. Decorrido certo
tempo, as células que formavam
seu corpo físico serão totalmente
renovadas, serão outras, mas o
amigo é o mesmo. Materialmente,
são outras células, mas o amigo é
a mesma pessoa. A identidade da
pessoa tevecontinuidadeeevoluiu.
Isto tudo é intangível, mas é real,
sobreumapessoaquenãoéfictícia.
Quandopensamosdopontodevista
filosófico, as reflexões que fizeram
Proust e seus seguidores? E os filó-
sofos pós-modernistas, Deleuze e
Guatari... Seriamente, precisamos
deuma linguagempara falar destas
realidades que, contudo, não são
concretas, tangíveis. Os filósofos
refletem: “Mas o que é inovação?”
Evoltamaestacategoriaontológica,
que denominamos de virtual. O
ciberespaço não passa da mani-
festaçãodeumdeterminadoentusi-
asmo.Avirtualidade se referea tudo
que é real, porém intangível. Cons-
tantemente, nas ciências sociais,
lidamos com esse tipo de objeto,
causas-sociais, estruturas-sociais,
comunidades, tudoquediz respeito
a identidade. Como os contos de
fadas, sãomuitopoderosos.Mas de
“A INTERNETESTÁ-SE
TORNANDOAMÍDIADASMÍDIAS.”
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