Marco_2007 - page 78

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MARÇO
/
ABRIL
DE
2007 – R E V I S T A D A E S P M
GRACIOSO
– Na minha opinião,
persuasão requer emoções. Não
vejomuitaemoçãona internet.Estou
certoou errado?
ROB
– Não concordo. Acho que há
paixão na internet. Vejo as pessoas
procurando algo só porque gostam
de determinado objeto. Este tipo de
prazer,amaneiracomoaspessoasgas-
tamdemasiado tempoedeixampara
comprar no dia seguinte, na semana
seguinte, tudo é indicativo de que as
pessoasestãoprocurandoumaexten-
são do seu momento de “compra”.
A crítica que faço é que procuram
no lugar errado, gastando horas na
frentedocomputador.Nãocreioque
oqueaspessoasestejam fazendoseja
racional. É uma atividade muito efi-
caz, persuasiva. Requer emoção no
sentido em que estou “traduzindo”
emoçõescomo“acompanharosaltos
e baixos da emoção”. O que acabo
dedizerficamaisclaro,sepensarmos
em jogos de computador, mas acho
que também cabe na procura de
um novo produto ou para avaliar a
opiniãodeusuários...
MÁRIO
– Qual a mídia mais forte,
em termosdeemoção,paraosenhor:
TV? Rádio?Qual delas faz a pessoa
respondermais?
ROB
–A internet está-se tornando
amídiadasmídias, está absorven-
do, abarcando, as mídias auditi-
vas, visuais, de textos, commuita
facilidade. Há essa conversão e
está cada vez mais difícil separar
as mídias. Por exemplo: visitar
U-2. É TV? Big Brother? Todos
seriam pop stars nesse preencher
de lacunas em todos os países. Isto
é totalmente emocional.
MÁRIO
– Talvez haja momentos
para assistir àTV, ou navegar na in-
ternet. Suponhamosque sejam20h,
horade verTV, nãoháuma espécie
de aberturamais receptiva para ver
a televisãonohorárionobredoque
para navegar?
GRACIOSO
–Vocêparececonside-
rar a internet como uma fonte de
conteúdo informativo, acima de
tudo.A informaçãopode serpersua-
siva?Podea informação ser tornada
em algo persuasivo?
ROB
– Fascina-me ver professores,
senhores da academia, filmarem
a si próprios, fazer filmetes de si
mesmos, em seus escritórios, para
depois pedir a opinião de um es-
pecialista... A riqueza desta mídia,
o que se pode dizer em 6minutos
permite a difusão de uma opinião
legal, por exemplo, sobre direito
internacional,emdeterminadacrise.
Você pode ser um professor júnior,
numa escola do fim do mundo e,
mesmoassim, ter acesso. Creioque
isto é persuasivo, no sentido de in-
formação autêntica, ou algum tipo
determinado de informação, muito
precisa.ATV édiferente.VemosTV
para,nodia seguinte,poder falardo
quevimos.Ocomputadorémais in-
dividualista,nestesentido.BillGates
já disse: “Nos próximos cinco anos
veremos o fim da televisão como
hojeaentendemos”.Provavelmente,
ela continuará a existir, mas será
algo amais numdispositivomóvel.
Quando se é a única pessoa, num
país inteiro, assistindo, no Brasil,
a um determinado vídeo feito por
alguém emTaiwan, isso é um con-
sumo radicalmente individual.
GRACIOSO
–Outroponto:OMário
Renédeu, comoexemplo,
second life
,
a segunda vida. Isto é típico da ci-
bercultura, e estámudando amen-
talidadedaspessoas, demilhõesde
jovens.Àmedidaque seestabelecer
cada vez mais, que a cibercultura
criar um comportamento formal da
juventude (diferente do comporta-
mento que costumamos associar à
sociedade de consumo), será que
isto levará a outras formas de con-
sumo?Outrosmeiosqueaspessoas
verão de “possuir alguma coisa”?
Você sabe, o consumo está relacio-
nado à necessidade de possuir, de
usar coisas. Será que a cibercultura
mudará amaneira pela qual enten-
demos consumohoje em dia?
ROB
– Acho que não. Este é um
processode longoprazo–que torna
a construção do self muito mais
óbvia – é assustador, aberto, e até
incômodo. Mas é algo frágil, algo
queestá sendoconstruídoedeve-se
salientar que esta construção passa
por coisas que não se podem ver
(como “quantas músicas você tem
no seu iPod?”). Vive-se cada vez
mais nomundo dos intangíveis e é
issoque, verdadeiramente,denomi-
namosde sociedade–oueconomia
– do conhecimento. Também tem
suas repercussõesnoconsumo, nos
tangíveis.Háduas reaçõespossíveis:
Rob
Shields
“DIZEMCOISAS, PELOCOMPUTADOR,
QUE JAMAISDIRIAMCARAACARA.”
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