Julho_2006 - page 89

cionaria como um duplo do mundo,
operando com regras próprias e ine–
xoráveis em prol da despolitização
e pacificação do público.
Fortemente influenciadopelas idéias
de Debord, Kellner também entende
que a vida cotidiana seria permeada
por diferentes níveis de espetáculo.
O espetáculo é mesmo descrito
pelo autor como "um dos princípios
organizacionais da economia, da
política, da sociedade e da vida co–
tidiana" (2006:119), estendendo-se
por campos tão diversos quanto o
comércio, a política, os esportes, a
moda, a arquitetura, o erotismo, as
artes e o terrorismo, por exemplo.
comportamentos sociais e fornecendo
o material com que as pessoas forjam
sua identidade" (2001:9).
Cunhado na primeira metade do sé–
culo passado por Adorno e Horkhe-
imer para designar o deslocamento
do valor simbólico dos produtos
culturais para um valor mercantil
advindo de seus modos de produção
em massa, o conceito de "indústria
cultural" é retomado por Kellner.
Servindo-se do concei to frank-
furtiano, o autor esclarece que a
cultura da mídia é industrial e que
seus produtos são mercadorias que
visam ao dos gigantescos conglome–
rados midiáticos transnacionais que
a controlam. "A cultura da mídia",
diz o autor, "organiza-se com base
no modelo de produção de massa
e é produzida para a massa de
acordo com tipos (gêneros), segun–
do fórmulas, códigos e normas
convencionais", diz o autor (idem).
O grande produto oferecido pela
cultura damídia éo entretenimento,
que espetaculariza o cotidiano para
seduzir as audiências e levá-las
a identificar-se com as represen–
tações sociais e ideológicas nela
presentes.
Na década de 1960 causaram
grande repercussão as teses formu–
ladas pelo francês Guy Debord, que
propunha uma análise da sociedade
moderna como uma "sociedade do
espetáculo". A crítica situacionista
dirigia-se tanto ao chamado "capi–
talismo avançado" - gerador do
"espetáculo difuso" da sociedade
de consumo -, quanto ao bolche–
vismo, denominado "capital ismo
de Estado" e que daria origem ao
"espetáculo concentrado" da bu–
rocracia centralizada. Em ambos
os casos, a noção de espetáculo
aparece como uma forma al ie–
nante de manipulação ideológica e
econômica que nutre uma cultura de
lazer e entretenimento fácil, visando
àdocilizaçãodasmassasproletárias.
Nesse contexto, o espetáculo fun-
O papel desempenhado pelos pro–
cessos de globalização de mercado
e o surgimento da informática e
da microeletrônica redesenhando
nossas práticas cotidianas levam
Kellner a propor que estaríamos
imersos em uma sociedade do
infoentretenimento. Conforme nos
ensina, "anúncios, marketing, re–
lações públicas e promoção são
uma parte essencial do espetáculo
global" (idem:126).
Entretanto, há significativas dife–
renças entre o pensamento desses
dois autores que merecem nossa
atenção. Em Debord o espetáculo
é pensado como um mecanismo
de passividade e alienação, "o
momento em que a mercadoria
ocupou totalmente a vida social"
(1997: 42, grifos no or iginal ),
afastando o indivíduo de uma
vida produt iva. Trata-se de um
modelo totalizante e monolítico
uti l izado para descrever a mídia
e a sociedade com o objetivo de
fazer uma crítica ao capital ismo e
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