Julho_2006 - page 96

da significação fundada na intro-
jeção do tecnicismo. O existencia–
lismo midiático que se nutre tanto
da serialização da cultura quanto da
midiatização irreversível do self é,
nos termos do canadense, a base de
uma falsa socialidade. Contentamo-
nos com nossos espectros vazios que
se exibem no espelho invertido da
tevê, conectamo-nos a este sistema
nervoso eletrônico, gigante e exte–
riorizado, o mesmo que nos diverte
o olhar ante o empobrecimento do
dia-a-dia na sociedade tecnológica
e nos oferece, em troca, simulacros
de estilos-de-vida. A colonização do
olhar procede de uma ordem a um
só tempo neural e tecnológica. As
imagens compartilhadas pelo écran
televisivo são, por seu turno, formas
seriais de "modos de ser", espectros
a serem alegremente consumidos.
Na chamada pós-modernidade,
as imagens ganham um destaque
ímpar, e isto se deve, na crítica inter–
pretação de Fredric Jameson, ao fato
de elas, hoje, mais do que adoradas,
terem se convertido em um campo
cultural profundamente autônomo
e, em essência, arrebatador. Para o
crítico literárioeteóricomarxista, no
momento pós-moderno, a imagem
toma parte da ilusão de uma nova
naturalidade.
A própria imagem se cotidianiza,
tornando-se elemento constitutivo
de nosso dia-a-dia. Com a estetiza-
ção da real idade, ele cont inua,
as fronteiras que confeririam es–
pecificidade ao estético tendem a
desaparecer. Deste modo, a inten–
sidade do visto, a interpelação das
imagens convida-nos ao mergulho
na visualidade mas, também, pode
nos distanciar ou, como postula
Jameson, abstrair os receptores de
seus contextos sociais imediatos.
À dissolução de fronteiras localizada
por Jameson na simbiose consumo/
entretenimento, corresponde, em
Kroker, a enfática definição da
tevê - aparato social total - como
expressão paroxística da forma-
Imercadoria. A reificação, nestes
termos, é solapada pela linguagem
da significação.
Mais do que excesso ou pura e
simples obscenidade das imagens,
destaco destas reflexões críticas
uma pista analítica que me parece
sugestiva. Trata-se, em resumo, da
inserção original das imagens na
malha cultural e nas interações
sociais contemporâneas, através
da qual efetiva-se o consumo de
imagens/sensações e de imagens/
estilos-de-vida.
Autores como Kroker, Jameson eVi-
rilio não são propriamente otimistas
em relação ao estatuto das imagens
naquela que vem sendo chamada
uma sociedade midiática. Para
eles, a cultura da visualidade que
produzimos e consumimos possui
sérias implicações políticas, com-
preendendo-seestepolíticoem uma
acepção abrangente.
Af inal, como pondera Vi r i l io, a
produção em larga escala de re–
presentações visuais tecnicamente
mediadas responde a uma estratégia
historicamente articulada de con–
trole social, atualmente expressa»
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