Julho_2006 - page 97

ao discurso acadêmico sobre as
imagens, o olhar e a visualidade
na pós-modernidade. A primeira
delas: se eu me transformo ou sou
transformado em imagem e, cada
vez mais, estas imagens escapam
ao domínio privado sendo encam–
padas pela lógica midiática - o
desastre doméstico transformado em
"videocassetada", o namoro off-line
publ icizado no YouTube - como
poderei construir minha própria
auto-imagem? Se minha imagem
está em toda parte, onde mesmo
estaria este "eu"?
As dinâmicas de visibilização in–
cessante e, mais ainda, que acon–
tecem em lugares cada vez mais
estendidos e menos demarcados por
na generalização das dinâmicas de
televigilância e fundada em uma
verdadeira cultura da suspeição. O
"mercado do olhar", tornado expo–
nencial pela proliferação de câmeras
de registro no cotidiano das cidades
e das câmeras "ao vivo" na internet,
potencializa a um só tempo o espe–
táculo e a vigilância global.
Denúncia similar já foi feita por
Lucien Sfez, que identifica aspectos
preocupantes na transformação da
vida em espetáculo de imagens e
do pensamento em tecnologia do
espírito. Se seguirmos a proposição
do sociólogo francês, localizaremos
nas redes de comunicação contem–
porâneas um poderoso agencia–
mento político que estaria distante
de uma possível democratização
da informação. Neste jogo, propõe
Sfez, a interatividade generalizada,
tão sedutora, veste a roupagem de
uma ilusão de participação, ocul–
tando, entre outros aspectos, uma
universalidade apenas suposta, uma
transparência de todo modo opaca
e uma "igualdade de acesso" forte–
mente desigual.
Pensamos estar nos expr imindo,
diz-nos Sfez, mas é o mundo que
se exprime em nosso lugar. Vive–
mos esta ficção de participação,
como nas enunciações televisi–
vas: suponho participar da cena|
suponho realmente vê-la, suponho
estar me expr imindo, quando,
em verdade, estou sendo repre–
sentado pelo sistema. Simbiose
delirante máquina/homem, esta é
a sociedade tautista (tautológica
e autista), monólogo coletivo do
"não s i" para o "não si mesmo",
conformação esta que o autor se
esforça por criticar.
A questão capitaneada por Virilio
remete a problematizações caras
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