Marco_2008 - page 15

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MARÇO
/
ABRIL
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
Chieko
Aoki
JRWP
–Coisadomachismo japonês?
CHIEKO
–Eunascinumaregiãodosul
do Japão,queé tipicamentemachista.
Láoshomensmandameasmulheres
ficam quietas. Só para ilustrar isso
– não se lavavam juntas as roupas de
homens e mulheres. As dos homens
atépoderiamficar àvista,mas as das
mulheres,nunca.Eeumeperguntava:
porquenãopode lavar roupasdemu-
lher ehomem juntas?Eunãoviadife-
rença. Talvez porque as dos homens
estivessemmaissujas!Outracoisatam-
bém era quemulher tinha de comer
raspadepanela.Nacozinha japonesa
se comemuito arroz.Naquela época
não havia panela elétrica, então se
cozinhava no fogo e queimava um
pouco. Eu tinha de comer essa parte
queimada, eme perguntava: por que
euenãoosmeus irmãos?Adesculpa
–diziam–eraqueasmulheres tinham
deserpreparadasparaasdificuldades
da vida. E eu pensava: e os homens
não?Oshomens tinhamde ter outros
tipos de preocupação, mas amulher
tinha de aprender desde cedo, di-
gamos, certos tipos de diferenças e
sacrifícios, que fossem absorvidos de
uma formanatural,comoumamissão.
Assim, cresci nesse meio em que os
homens sempre tinham os melhores
pedaçosdos sashimi e sushi, enósos
piores. Paramim, ouvir que tinha de
CHIEKO
– Se for, então é uma dis-
criminaçãopositiva.Porquequandose
temessacaradeoriental jáexisteuma
predisposição de que se seja sério,
honesto. Então para mim se há um
legado importante que os imigrantes
deixaramparanósé isso:essecarimbo
de credibilidade, de confiança que
achoseromaiormérito,amaiorcon-
quistados imigrantes japoneses.
GRACIOSO
– Você se formou na
USP, emDireito, na São Francisco.
De repente você aparece como uma
executivadehotéis.Comoaconteceu
essa transição?
“QUANDOSETEMESSACARADE
ORIENTAL, EXISTEUMAPREDISPOSIÇÃO
DEQUESESEJAHONESTO.”
me dedicar aomarido...
eraumacoisanormal.
JRWP
– Onde estava
vocênessa época?
CHIEKO
–EmSãoPaulo.
Meus pais ficaram dois
anos em Bastos, depois
viemos para a cidade de
SãoPaulo.Minha infância
foi interessante.Meuspaiserammuito
focados na educação – comecei a
freqüentar a escola com três anos! E
não era só um pré-primário, eu estu-
davacanto,dança,balé,pintura,cali-
grafia japonesa, tudocomessa idade.
Eu acho que minha mãe pensou
assim: “Vou preparar essa menina
para qualquer coisa: se casar, será
umaboaesposa, senãocasar, estará
preparadaparaavida”. Isso foimuito
bom, e talvez venha disso o meu
espírito de assumir riscos, desafiar
as coisas, inovar.
JRWP
–Você acha que o brasileiro
discriminaos japoneses?
CHIEKO
–Não.
JRWP
– Então por que brasileiros
falam que têm amigos japoneses e
nunca dizem que têm amigos ale-
mães ou italianos?
CHIEKO
–Achoqueporcontadacor,
do estilo, achoque o rostooriental...
Enfimessasdiferenças visíveis.
JRWP
– Mas não é uma forma de
discriminação?
“COMOORIENTAL, ACREDITO
MUITONASORTE.”
Ð
RE/ Veja-Edição 1896- 19demaio de 2004-Arquivo daPropaganda
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