 
          maio/junhode2012|
        
        
          
            RevistadaESPM
          
        
        
          
            77
          
        
        
          José Gregori
        
        
          
            seria desejado. Parece-me que, na área
          
        
        
          
            do ensino superior, teríamos melhores
          
        
        
          
            resultados se houvesse uma participa-
          
        
        
          
            ção maior da iniciativa privada. Como
          
        
        
          
            é que o ministro vê esta questão?
          
        
        
          
            Gracioso
          
        
        
          –
        
        
          
            Nos Estados Unidos, por
          
        
        
          
            exemplo, o aluno de um curso superior
          
        
        
          
            pode escolher a profissão que vai seguir
          
        
        
          
            depois de um curso básico de dois anos,
          
        
        
          
            o que dá mais segurança à escolha que
          
        
        
          
            ele fará. No Brasil, estamos engessados
          
        
        
          
            de tal forma que o aluno não pode
          
        
        
          
            sequer mudar de curso. Se ele cursa ad-
          
        
        
          
            ministração e chega à conclusão de que
          
        
        
          
            o curso dele seria engenharia, tem de
          
        
        
          
            voltar e fazer um novo vestibular.
          
        
        
          
            José Gregori
          
        
        
          – Sou produto da
        
        
          educação pública, fiz grupo escolar,
        
        
          colégio do estado e faculdade na
        
        
          USP. A opção brasileira não é pela
        
        
          exclusividade da escola pública.
        
        
          Hoje, fico muito entristecido pela
        
        
          escola pública não ter, ao menos no
        
        
          grau fundamental, a mesma quali-
        
        
          dade que tinha no meu tempo. É um
        
        
          problema em aberto que precisamos
        
        
          resolver. Agora, tenho tido nas mi-
        
        
          nhas andanças pelos direitos hu-
        
        
          manos, contato com universidades
        
        
          particulares e colho delas uma boa
        
        
          impressão.
        
        
          
            Gracioso
          
        
        
          –
        
        
          
            Houve uma melhora muito
          
        
        
          
            grande
          
        
        
          .
        
        
          
            José Gregori
          
        
        
          – São pessoas interes-
        
        
          sadas em assegurar uma educação
        
        
          qualitativamente superior à de al-
        
        
          guns anos. A verdade é que, de uns
        
        
          anos para cá, o Brasil está tendo
        
        
          uma espécie de explosão e, nessa
        
        
          época de muita demanda, realmen-
        
        
          te a forma de ser mais criterioso e
        
        
          exigente aumenta a dificuldade. É
        
        
          preciso mais atenção e, aí sim, o Es-
        
        
          tado pode exercer um papel fiscali-
        
        
          zatório grande. O governo Fernando
        
        
          Henrique é titular de três marcas
        
        
          pioneiras: a saúde financeira do país
        
        
          com o fim da inflação; os direitos
        
        
          humanos; e o programa de controle
        
        
          da qualidade de ensino, algo que
        
        
          não existia. É possível que o sistema
        
        
          ainda não funcione a contento, mas
        
        
          já se criou a consciência de que o
        
        
          ensino deve ser avaliado. Criar esta
        
        
          obrigatoriedade de rever, fiscalizar
        
        
          e avaliar o nível de competitividade
        
        
          foi um avanço, porque o mundo atu-
        
        
          al é muito competitivo e temos de
        
        
          criar uma juventude capaz de com-
        
        
          petir. Por enquanto, não andamos
        
        
          bem nisso, porque todo concurso
        
        
          em que colocam meninos contra
        
        
          meninos em termos de várias na-
        
        
          ções, os brasileiros não têm se saído
        
        
          bem. É um sinal amarelo que acen-
        
        
          deu no sentido de comprovar que
        
        
          precisamos melhorar nosso ensino.
        
        
          
            JR
          
        
        
          –
        
        
          
            No Brasil, o Estado ultrapassa
          
        
        
          
            em várias áreas as suas funções tra-
          
        
        
          
            dicionais. Ele entra na indústria, nos
          
        
        
          
            serviços. E aí ocorre que o poder de
          
        
        
          
            regular é confiado a um participante,
          
        
        
          
            um concorrente. No caso do ensino
          
        
        
          
            superior, as cartas são marcadas no
          
        
        
          
            sistema de avaliação em favor das uni-
          
        
        
          
            versidades públicas
          
        
        
          .
        
        
          
            Gracioso
          
        
        
          –
        
        
          
            O sistema deixado pelo
          
        
        
          
            ex-ministro da Educação Paulo Rena-
          
        
        
          
            to Souza era muito mais perfeito que
          
        
        
          
            o atual citado pelo professor Whitaker
          
        
        
          .
        
        
          
            JR
          
        
        
          –
        
        
          
            É possível. Isso pode ser dito
          
        
        
          
            também em relação à proteção do
          
        
        
          
            consumidor. O Procon (Fundação de
          
        
        
          
            Proteção e Defesa do Consumidor), é
          
        
        
          
            uma entidade ligada ao Estado. Da
          
        
        
          
            mesma forma, o Estado presta servi-
          
        
        
          
            ços ao cidadão de várias maneiras,
          
        
        
          
            como os serviços públicos ou conces-
          
        
        
          
            sões, às vezes monopólios concedidos.
          
        
        
          
            E aí ficamos diante do nosso tema:
          
        
        
          
            a intervenção do Estado e direitos
          
        
        
          
            do indivíduo. Como fica o indivíduo
          
        
        
          
            diante de uma entidade – seja ela fis-
          
        
        
          
            calizadora da educação, seja ela regu-
          
        
        
          
            ladora das questões do consumo –, se
          
        
        
          
            ele tem queixas ou agravos a resolver
          
        
        
          
            diante do fornecedor desses serviços,
          
        
        
          
            o próprio governo, que fiscaliza a si
          
        
        
          
            mesmo? Há certa contradição nisso
          
        
        
          .
        
        
          
            José Gregori
          
        
        
          – Não há dúvida. Mas,
        
        
          de certa maneira, já temos mecanis-
        
        
          mos que precisam ser aperfeiçoados
        
        
          para fiscalizar melhor a fiscalização
        
        
          do Estado. Democracia é isso. O ide-
        
        
          al democrático é que todos saibam
        
        
          – pela educação que receberam na
        
        
          escola, na família e na vida – o míni-
        
        
          mo múltiplo comum que precisa ser
        
        
          respeitado. Quanto menos o Estado
        
        
          intervir, melhor, diante das experi-
        
        
          ências que temos do Estado proven-
        
        
          do tudo, sendo babá, mãe e madras-
        
        
          ta. O Estado-mãe, mais dia menos
        
        
          dia, torna-se um Estado-babá.
        
        
          
            “Hoje, ficomuito
          
        
        
          
            entristecido pela
          
        
        
          
            escola pública não
          
        
        
          
            ter, aomenos no grau
          
        
        
          
            fundamental, amesma
          
        
        
          
            qualidade que tinha
          
        
        
          
            nomeu tempo”