Revista ESPM Mai-Jun 2012 - NEM BABÁ, NEM BIG BROTHER a eterna luta do indivíduo contra o Estado - page 76

Revista da ESPM
|maio/junhode 2012
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entrevista
no meu tempo tinha mais qualidade.
As pessoas precisam ter um apreço
pela educação, não apenas para for-
mar conhecimentos, mas também a
personalidade de pessoas que saibam
avaliar, mensurar e equilibrar. Uma
das funções da educação é tornar a
vida social commenores taxas de con-
flito. Hoje é citada uma palavra que se
faloumuito no tempo do Jefferson, que
é a felicidade. Quando Jefferson fez a
Declaração da Independência dos Es-
tados Unidos há cemanos, ele colocou
como um dos direitos fundamentais a
busca da felicidade.
Gracioso
O tal índice de qualidade de
vida
.
José Gregori
– E agora estamos ven-
do que sociólogos, economistas e
politólogos estão novamente falando
em felicidade e acham que as taxas
medidoras de progresso, como o PIB
(Produto Interno Bruto), são uma for-
ma muito materialista e insuficiente
para julgar, já que a vida é prioritária
em todos os sentidos. O fato de o
Brasil hoje estar numa democracia
é algo auspicioso. Em alguns aspec-
tos, como na representatividade do
poder, essa democracia apresenta
índices que são quase incomparáveis
em termos de mundo, porque não
há nos últimos 50 anos nenhum
país onde um príncipe acadêmico,
que fez bonito na Universidade de
Sourbonne, tenha sido presidente da
República. Depois dele, assume um
príncipe sindicalista de fazer inveja
a todo o sindicalismo inglês e, na se-
quência, a primeira mulher chega à
Presidência da República. Isso com-
prova o quanto está aberta a nossa
democracia. Mas ainda temos muito
a caminhar em diversos aspectos,
porque as tendências que levam o es-
tado democrático de direito para um
modelo mais autoritário desaparece-
ram, mas ressurgem o tempo todo.
Por exemplo, agora notamos que há
pessoas em conflito com a imprensa.
Não sou contra isso, mas temos de
informar os setores que contestam
essa tendência de querer colocar a
imprensa num nível de maior quali-
dade e sacrificar a sua liberdade.
JR
Através de um controle social
.
José Gregori
– Um controle social
que, em última análise, será o con-
trole do poder. Isso é uma discussão
democrática, que precisa ser apre-
sentada como uma questão que não
é unânime. O mesmo acontece com
a Anvisa, em relação a outros óbices
que possam surgir. Nessa discussão
há de estar sempre presente o espírito
de negociação e diálogo. O estado
democrático de direito não convive
bem com aqueles que acham ser
possuidores do sal da verdade. Cristo
conversava com os apóstolos, ele não
impôs as verdades de forma absoluta.
Gracioso
Ele pedia frequentemente a
opinião deles
.
José Gregori
– Às vezes, ficava im-
paciente, porque os apóstolos não
pediam a sua opinião, mas ele nunca
cessou o diálogo. Nós, que somos
mortais, com maior razão temos de
discutir. Daí a importância de a im-
prensa ser livre. Claro, não podemos
permitir que a imprensa se torne
apenas o veículo de uma ideia ou de
uma verdade. Temos de combater
isso não fechando a imprensa, mas
discutindo. Toda atividade é capaz
de não só colocar em linha de van-
guarda a atividade em si, mas tam-
bém criar mecanismos de discussão.
No meu tempo, eu, como ministro da
Justiça, mandei casos para o Conar
(Conselho Nacional de Autorregu-
lamentação Publicitária), um órgão
de publicitários no qual o governo
não tinha a menor ingerência. Fiquei
bem impressionado com o trabalho.
Também tenho o maior respeito pela
entidade que vocês dirigem, porque
sei o quanto é importante o trabalho
que desenvolvem para aumentar a
qualidade dessa atividade.
JR
Nas avaliações feitas interna-
cionalmente com as universidades, o
Brasil tem um papel ruim. Não temos
nenhuma instituição de nível superior
entre as 100 melhores no mundo.
Quando se amplia isso para 200, a
única instituição que entra no ranking
é a USP (Universidade de São Paulo).
Estou há 30 anos nisso e nesse convívio
com escolas americanas, europeias e
asiáticas, tenho a sensação de que, no
Brasil, a regulamentação do Estado na
educação ultrapassa os limites do que
“Nomeu tempo, eu,
comoministroda
Justiça,mandei casos
para oConar, um
órgãode publicitários
noqual o governo
não tinha amenor
ingerência. Fiquei
bemimpressionado
como trabalho”
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