 
          maio/junhode2012|
        
        
          
            RevistadaESPM
          
        
        
          
            71
          
        
        
          instintivo, mas resultado de um pacto, um contrato ori-
        
        
          ginal que põe fim ao estado de natureza. No século 17, a
        
        
          teoria contratualista foi sustentada tanto pelas filosofias
        
        
          políticas favoráveis ao absolutismo (Hobbes), quanto por
        
        
          aqueles que defendiam o liberalismo (John Locke).
        
        
          A teoria política defendida por Locke, em oposição ao
        
        
          absolutismo de Hobbes, se tornou o fundamento teórico
        
        
          da democracia moderna:
        
        
          1) Ocontrato social é estipulado não somente entre
        
        
          os cidadãos, como afirmava Hobbes, mas também
        
        
          entre estes e o Estado.
        
        
          2) O escopo do Estado é a salvaguarda dos direitos
        
        
          fundamentais do indivíduo (liberdade e proprieda-
        
        
          de privada).
        
        
          3) O Estado não está acima da lei, sendo obrigado
        
        
          a observá-la.
        
        
          4) Ocidadão reserva-seodireitode rebelião, quando
        
        
          umaparato do Estado tenta lesar os direitos inalie-
        
        
          náveis do indivíduo.
        
        
          A necessidade de uma organização territorial, perma-
        
        
          nente e unitária, comreferência a uma demarcação espe-
        
        
          cial e à organização de sua comunidade, desdeMaquiavel
        
        
          conhece-se com o nome de Estado. Sua função consiste
        
        
          na organização e ação autônoma da cooperação social
        
        
          dentrode umterritório, fundada na necessidade histórica
        
        
          de um
        
        
          
            status vivendi
          
        
        
          comum, que harmonize todas as
        
        
          oposições e interesses dentro de uma zona geográfica.
        
        
          A relação existente entre a função estatal e a econo-
        
        
          mia é uma das questões mais discutidas na atualidade,
        
        
          mesmo que hoje seja um exagero, se pensarmos que o
        
        
          elemento comum de crítica ao liberalismo se bifurcava
        
        
          em diferentes formas de resgate da democracia. Isso a
        
        
          desvinculava de suas conotações liberais, impregnadas
        
        
          pela economia demercado e responsabilizada pela anar-
        
        
          quia que teria gerado a crise de 1929 e suas dramáticas
        
        
          consequências sociais. No livro
        
        
          
            A refundação do Estado
          
        
        
          
            e da política
          
        
        
          (Editora Civilização Brasileira), Emir Sader
        
        
          mostra que o nazismo resgatava a soberania como ele-
        
        
          mento da identidade nacional, atacando osmecanismos
        
        
          da democracia partidária como forma de corrosão dos
        
        
          interesses nacionais, contrapondo-lhe propostas de
        
        
          democracia corporativa.
        
        
          A relação entre Estado e economia, mesmo nos
        
        
          tratados científicos da Teoria do Estado, supõe-se que
        
        
          se trata de conexões e atividades com leis próprias, as
        
        
          quais praticamente possuem uma função específica no
        
        
          sentido da vida social.
        
        
          Mesmo o marxismo atual mostra-se incapaz de pro-
        
        
          por uma solução ao problema da relação entre Estado e
        
        
          economia, por conta do dogma de que o Estado é só um
        
        
          meio para uma função econômica. As diferentes pesqui-
        
        
          sas entre essa relação têm formalizado uma identidade
        
        
          própria, relacionada com a força militar, para resolver a
        
        
          falta de ordenamento jurídico existente atualmente no
        
        
          mundo, onde o poder cada vez é mais e mais associado
        
        
          aos vetores econômicos das corporações. Nos últimos
        
        
          anos, o lucro dos bancos tem estado em torno de 50%.
        
        
          A esquizofrenia do Estado depois da queda das
        
        
          torres gêmeas fez surgir, de um lado, um poder hege-
        
        
          mônico absoluto e, de outro, uma presença cada vez
        
        
          mais marcante nas decisões econômicas, sobretudo a
        
        
          partir da crise de 2008: violação sistemática do direito
        
        
          internacional, fim da soberania dos Estados-nações,
        
        
          imposições de primeiros-ministros nos casos da Grécia
        
        
          e da Itália, sem falar da Espanha, Irlanda, Portugal e
        
        
          mesmo da França.
        
        
          Se o Chile foi o laboratório para uma nova ordem
        
        
          econômica internacional (crise do petróleo de 1973), o
        
        
          perigo crescente é a militarização das decisões político-
        
        
          econômicas. Nessa ótica, o Estado é hoje o princípio e o
        
        
          fimna atual crise econômica e no ordenamentomundial,
        
        
          onde devemos voltar ao Estado social e gestionário, que
        
        
          leveemcontaodireito internacional, o respeitoaohomem
        
        
          e ao seu meio ambiente.
        
        
          
            Ameus alunos, hoje avós, que, nos anos 1970,
          
        
        
          
            acreditaramemsonhos, e que hoje, noChile,
          
        
        
          
            se revoltamna Ilha de PuertoAguirre (caletaAndrade),
          
        
        
          
            província deAysén, pelo alto custo e  insustentável
          
        
        
          
            preço a pagar pela “modernidade e  progresso”
          
        
        
          
            Jorge Lorenzo Valenzuela Montecinos
          
        
        
          
            Professor da ESPM-SP,  doutor pela Universidade de Paris
          
        
        
          
            em História Social, pós-doutor pela USP em Política Internacional e
          
        
        
          
            Comparada  e especialista em Ética pela PUC-Seminário Campinas-SP
          
        
        
          Seapalavra-chaveésoberania,
        
        
          ospoderesdeumaassembleia
        
        
          democrática, deumsenadoaristocrático
        
        
          oudeumrei devemser osmesmos