Julho_2006 - page 52

Psicologia etc; poderíamos dizer, à
maneira de Michel Foucault, que são
confinamentos disciplinares.
Você me conhece, já leu alguns dos
meus livros, a minha posição é, ao
contrário, transversal. Minha cadeira,
na Sorbonne, é Sociologia, mas leio
Filosofia, Psicologia, Ciência Política,
Direito, leio os místicos - ouTeologia
- tanto faz. Procuro retomar essa
dimensão horizontal que é própria
da
universitas
no verdadeiro sentido
etimológico do termo.
Com certeza, é importante incor–
porar a Psicologia, apenas tomando
certos cuidados. É preciso encontrar
intervenientes ou protagonistas que
não estejam confinados às suas dis–
ciplinas: não engajar sociólogos que
sejam apenas sociologizantes, filó–
sofos filosofantes, psicólogos apenas
psicologizantesetc. Precisamos trazer,
para esse debate, a obra de Marx, a
obra de Freud, as obras deWeber ou
deDurkheim. Eaomesmo tempo, re–
cuperar muito conhecimento jurídico,
econômico, psicológico, etc.
A Psicologia também sofreu um confi-
namento. Um autor que utilizo muito
nos meus últimos livros (na França,
um autor maldito) éCarl Gustav Jung.
Li, de forma sistemática, mas à minha
maneira, uma dúzia de suas obras,
e isso transparece nos meus livros.
Eis um autor que trata da Psicologia
profunda, mas, ao mesmo tempo,
consegue integraremsuaanáliseuma
série de autores múltiplos e diversos,
de disciplinas múltiplas e diversas.
Acho que Jung é um deles, que pode
nos ajudar a refletir sobre o proces–
so de epidemiologia e o processo
de contaminação da imagem, por
exemplo. No fundo, o que se busca
em um autor é aquilo que eu chamo
de "alavanca metodológica". Se não
tenho vontade de estudar um autor
em si mesmo, tudo bem. Mais que
a erudição, interessa-me o que esse
autor me permite compreender - ou
seja, a alavanca.
CLÓV IS
- Parece-me que a Socio–
logia - como a Economia - sempre
pensou, não a casa, mas as relações
humanas - foi antropocêntrica.
Nesse sentido - no elemento tribal
do Brasil, das comunidades indí–
genas - a maioria pensa na aldeia
como lugar habitado não só por
humanos, mas também pelas onças,
pelas árvores. É uma sociedade
não-antropocêntrica. Não acha
que a Sociologia, mesmo na pós-
| modernidade, não conseguiu ainda
desenvolver um pensamento pós-
antropocêntrico?
MAFFESOLI
- E
U O
aconselharia a
ler omeu livro
O ritmoda vida,
que
trata disso. Como sempre, recorro à
etimologia: a palavra ritmo vem do
grego réo, reen. Isso quer dizer que
não existe porvir senão a partir de
uma fonte. A palavra ritmo significa
que há um movimento a partir de um
ponto fixo.
Por exemplo, alguém que dança
uma valsa só poderá valsar bem
na medida em que tiver os pés
bem f irmes no chão. A partir
desse pé firme, pode-se dançar
uma valsa rápida. Ter um ritmo»
1...,42,43,44,45,46,47,48,49,50,51 53,54,55,56,57,58,59,60,61,62,...126
Powered by FlippingBook