Julho_2006 - page 47

O que consideramos como História
baseia-se nessa economia da sal–
vação. A filosofia da história, com
Hegel, todas as grandes teorias da
emancipação - queiramos ou não
- constituem o substrato da nossa
ideologia. No meu entender, há,
atualmente, um "escorregamento"
da história em direção aoespaço, da
economia em direção à ecologia.
Se a economia são as leis conferidas
de maneira exterior à casa - ao oikós
-, aecologia é uma lei interior-a do
logos -, eis aí a grande diferença.
JR
- Como podemos interpretar isso?
MAFFESOLI
- Esta expressão,
que propus: o escorregamento da
história rumo ao espaço, remete à
perspectiva da lei da relatividade, de
Einstein, quedizque, no final, háuma
I contração do tempo no espaço. E por
fim, as imagens; eentreessas imagens,
a publicidade é simplesmente a ex–
pressão ou ilustração contemporânea
dessa einsteinização do tempo.
Ao longo da história existe, aomesmo
tempo, um medo da imagem e um
ódio do mundo, que se configura na
desertificação, devastação, deserção
- em todos os sentidos do termo. A j
iconoclastia é uma luta que vem de
muito longe, no Velho Testamento,
contra o ícone e o ídolo, porque o
ícone e o ídolo eram espaciais. Deus
é balizado e limitado por um pedaço
de pedra ou de madeira. Em termos
mais prosaicos, o ícone, a imagem,
eram algo que favorecia a orgia - não
exatamente no sentido sexual. Temos,
então, uma luta -por parte dos profe–
tas-contra o íconeecontra a imagem,
porque a imagem pode despertar os
sentidos e levar ao desbragamento
sexual.
JR
- Poderia explicar mais?
MAFFESOLI
- Acho que o que está
em jogo, no espaço é, justamente, o |
amor à terra, oamor aos frutosda terra.
A ecologia é, no fundo, algo erótico
- um erotismo social.
Pessoalmente, não acho que se deva
pôr a questão em termos de trans–
gressão. Discutocomalgunsdosmeus
pesquisadores a esse respeito; alguns
deles continuam a empregar o termo
transgressão. Não concordo, porque
a transgressão é uma forma de con–
testação, de luta, e o que me parece,
atualmente, équenãohácontestação.
Basta ver a maneira como as pessoas
estão vestidas ou despidas, como o
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