Julho_2006 - page 50

mundo - mundus. O mundo torna-
se imundo, mas, ao contrário, há o
fato de levarmos a sério esse mundo
atravésdassuasaparências. Daíeuter
dito ontem: a forma é formadora. Não
fui oprimeiroadizer isso. Foi Spinoza.
Euo reitero, pois acreditoqueé, justa–
mente, na visualização da publicidade
que reside a filosofia da pompa.
Certamente, há uma estigmatização,
que vem de muito longe - um medo
da imagem, ummedo do mundo. No
fundo, é preciso amar esse mundo
obscuro. Para mim é isso: o amor fati
(destino) é amor mundi. Por bem ou
por mal, é preciso chegar a termos
com esse mundo.
Sob muitos aspectos, na dimensão
lúdica, na dimensãoonírica que nos
prodigaliza a publ icidade - pois,
para além da estigmatização, exis–
te o sonho, o jogo e o imaginário
-esta permanece como a coisa mais
interessante.
Confidencialmente, eu pouco as–
sisto televisão, mas sempre vejo os
anúncios, porque considero que são
a coisa mais interessante, talvez a
única coisa interessante, a bem dizer,
natelevisão.
CLÓVIS
- Gostaria de saber o que
achou da nossa idéia, de juntar
publicidade e modernidade? Você
nos aconselharia a prosseguir nesse
caminho?
MAFFESOLI
- Sim; como opinião
professoral, e também um conselho
de amigo, é preciso prosseguir sobre
esse tema, da pós-modernidade. Eu
participo de debates sobre a pós-
modernidade em diversos países; mas
sempre há uma reticência, uma es–
pécie de desconforto com respeito ao
tema. Para falar a verdade, considero
isso como uma espécie de bloqueio
psicológico, para usar as categorias
que não são as minhas, e sim as psi–
canalíticas, para analisar o medo em
relação à pós-modernidade.
Em muitos lugares, inclusive na
França, fala-sedehiper-modernidade,
de segunda modernidade, da mo–
dernidade tardia, enfim todos esses
termos para não pronunciar a palavra
pós-modernidade. Tem a ver com o
que se chamade politicamente correto
- ou incorreto. Para descrever o que
foram os séculos 2 e 3 da nossa era,
dizíamos "a decadência romana", e
agora é "antigüidade tardia".. Não se
ousa mais dizer que alguém é cego,
diz-se que a pessoa não enxerga, ou
tem limitações de visão. Não se diz
que alguém é gordo, mas que está
com excesso de peso. Assim, temos
medo das palavras, e com a pós-mo-
demidade é amesma coisa: já que não
se ousa falar em pós-modernidade,
procuramos termos paralelos.
Mas por que não admitir a decadência
de alguma coisa? Quando algo cai
em latim, decadare -, algo tam–
bém ressurge. Há textos belíssimos,
de Heidegger, mostrando que, no
momento em que há a decadência
de
alguma coisa, ocorre, ao mesmo
tempo, uma emergência. A idéia de
pós-modernidade mostra isso: caem
os grandes valores modernos e, ao
mesmo tempo, emergem outros. »
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