Julho_2006 - page 48

corpo é um espetáculo, como existe
um erotismo no ar, especialmente na
publicidade.
Portanto, a ecologia é paradoxal, é
algo que remete a essa lei, esse orde–
namento do interior; que remete, no
fundo, àquilo que eu chamo de "o
prazer dos frutos da terra", simples–
mente. Quando não se tem mais que
contestar os frutos da terra, usufrui-se
deles. Isso levanta outros problemas:
a partir do momento em que existe
a imagem, existe algo de trágico,
mais do que de dramático. Por isso, o
gozo - como maneira de responder à
transgressão-nãoé, necessariamente,
feliz. Existe, por exemplo, de fato no
punk, na musique-boutique algo de
vinculação entre o amor e a morte.
Com certeza, o trágico.
CLÓVIS
- De que forma isso se rela–
ciona com a publicidade?
MAFFESOLI
-Emborasejadifícil dizer
isso para vocês, em uma escola como
essa - com relação à publicidade, à
propaganda e ao marketing -, acho
que seria necessário ter a coragem de
mostrarque, no fundo, apublicidadeé
oque chamaria de uma homeopatiza-
çãodamorte. Uma forma deaceitação
damorte. Algocruel. Maseu frisobem:
homeopatização quer dizer: chega-se
a integraramorte sem ser submergidos
por-mas também sem negá-la.
Tenho sustentado que a publicidade
pode ser uma mitologia da nossa
época. Isso émais sutil do que amera
contestação, que não sepodesimples–
menteanalisarem termosdealienação
- uma velha perspectiva marxista
que não é mais pertinente, no meu
entender, mas que remete, ao invés, a
esse lado trágico.
Digo, portanto: a publicidade é ami–
tologia da época. Ou seja, não mais a
história segura de si mesma, que tem
um propósito, uma finalidade, mas
as pequenas histórias, com um "h"
minúsculo, que vamos contar a nós
mesmos - não mais a História, e sim
aspequenashistóriasquepassamater
uma funçãoagregativa.
Creio que é preciso aceitar essa idéia,
de um fundo trágico na publicidade.
Todos os períodos que enfatizaram
a imagem foram épocas trágicas. A
partir do momento em que se encena
alguma coisa, a finitude é pronun–
ciada. É preciso ter a coragem de
dizer que a publicidade não é amera
funcionalidade. Ela é outra coisa.
Uma pista, que eu daria, é a idéia de
1 luxo: existe, napublicidade, um luxo,
a expressão de um porvir luxuoso do
mundo. Eis aí por que eu não acredito
na economia.
JR
-
Isto pode ser desconcertante para
os economistas..
MAFFESOLI
- Atualmente, estou
trabalhando em alguns textos sobre
o luxo; onde mostro como existia a
conotaçãode luxúria (na Renascença),
a luxuriância (eflorescência barroca),
mas existe, igualmente, um elemento»
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