Julho_2006 - page 53

significa, no fundo, ter um ponto
de ancoragem. E esse ponto
de ancoragem é a natureza, a
terra.
Havia-se pensado uma concepçãodo
mundo puramente progressista e eu
introduzo uma pequena nuance: um
pensamento progressista quer dizer
uma concepçãoque, dealgummodo,
explica o mundo, no sentido latino
do termo explicare - tirar o plissado,
desdobrar. Apoiando-me em autores
como Gilles Delleuze, procurei mos–
trar que havia implicação - a impli–
cação é a dobra. Isso é outro modo
de dizer uma sensibilidade ecológica,
obviamente. Não pensar que se pos–
sam explicar todas as coisas, mas que
toda e cada coisa só existe porque há
esse extrato, e que a sociedade é esse
extrato.
Nesse livro, falo também um pouco
de publicidade, a que eu conheço
na Europa e na França. Não se pode
compreender a publicidade atual se
não tiver em mente essa implicação.
As coisas que provêm da terra, do
fogo, da água, muito humanas, muito
naturais; eis aí, tipicamente, no nível
da publicidade, um processo de im–
plicação que é uma outra maneira
que não o mero progressismo que
acreditava resultar no progresso.
Em francês, não temos a palavra
ingresso - que não é progresso. In–
gresso, tal como eu entendo, é uma
energia IN, de dentro. Em francês
não se diz ingrès, mas, em italiano,
em espanhol e em português, vocês
têm a palavra ingresso: que não é
apenas o progresso, mas remete ao
processo de implicação - as dobras
que constituem o ser humano e que
constituem a sociedade.
Será interessante verificar como
- ainda que não de modo consciente
-a publicidade remete a esse ingresso,
a essa dobra, essa sedimentação: o
oikos, a ecologia. O oikos é a casa
- em latim, domus. Porém, oikos ou
domus, trata-se, efetivamente, da fau-
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