Julho_2006 - page 45

CLÓVIS
- No encontro de ontem,
falandodeum "mundo imundo", você
aponta para uma inclinação do pen–
samento moderno, de deslegitimação
do mundo e dos corpos. Isso estaria
na raiz do desrespeito a questões que
temos debatido ligadas ao planeta, à
ecologia etc. - justamente por desres–
peitar as coisas do "mundo imundo'"
-emprivilégioda razão-ohomemse
permitiria torná-lo imundo de vez?
MAFFESOLI
- No momento que
vivemos, creio que nada é heresia,
tudo édiscutível. Oque está em jogo
é odesafio teórico importante -que
nos preocupa - e tem a ver com a
ecologia. A grande especificidade
da nossa época - da modernidade,
por assim dizer - é, fundamental
mente, uma concepção econômica
do mundo.
O termo "economia" vem da an-
tiga tradição judaico-cristã: que é
economia da salvação. No seu
sentido simples, o termo quer dizer
que existem leis exteriores à casa. A
economia do século 19 tem raízes
nessa concepção. Posteriormente,
a economia da salvação veio a tor–
nar-se a economia stricto sensu e é,
aparentemente, a nossa concepção.
Não tenho certeza de que a econo-
mia tenha, ainda, um grande futuro
pela frente, mas o atual conceito é
hegemônico e é uma concepção
bastante cristã do mundo.»
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