Janeiro_2008 - page 95

Mesa-
Redonda
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R E V I S T A D A E S P M –
JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2008
“AEMPRESAESTAVAENTENDENDO
CADAVEZMENOSDAPARTEMAIS
POBREDONOSSOMERCADO.”
JR
– Estamos reunidos para falar
sobre Recursos Humanos. Como
as nossas empresas e instituições
encaram o seu desenvolvimento
a partir do desenvolvimento das
suas pessoas? Gostaria de pedir
ao professor Gracioso que desse
início ao debate.
GRACIOSO
– O tema desta
mesa-redonda é como atrair,
desenvolver e motivar jovens
dotados de talento, de capaci-
dade administrativa para trans-
formá-los nos executivos da
empresa do futuro. Enfim, gestão
de talentos. Não é novo, mas
é, às vezes, insuficientemente
compreendido. Participei de
um almoço, com executivos
da Unilever – que tem um dos
mais tradicionais programas de
trainees
do Brasil – e ouvi que,
depois de 25 anos de seleção
de jovens vindos das elites, re-
crutados nas melhores escolas,
com bom inglês e conhecimento
sobre culturas estrangeiras,
começou-se a perceber que
a empresa estava entendendo
cada vez menos da parte mais
pobre do nossomercado.Muitos
daqueles executivos, que tinham
sido
trainees
, foram recrutados
por conhecer bem o ambiente
da empresa, muitas vezes até
do exterior. Mas poucos conhe-
ciam o próprio país. Cito este
exemplo para mostrar que – por
mais seguros que estejamos das
soluções – haverá sempre algum
pequeno ou grande problema
para atrapalhar. Gostaria de
propor que falem das suas visões
sobre gestão de talentos, hoje,
no Brasil.
LUIZ EDMUNDO
– Acho que
gestão de talentos deixou de
ser uma questão local para ser
global; porque – quando fala-
mos de talento, na acepção do
indivíduo que detém formação
e competência especiais – essa
pessoa também tem, hoje, uma
condição que se chama mobi-
lidade. Essa mobilidade resulta
em que tenha poder de escolha,
não somente dentro do próprio
país, mas também em relação
às oportunidades que as empre-
sas globais oferecem ao redor
do mundo. Os estudos sobre
tendências globais mostram que
já estamos vivendo – e continua-
remos a viver – uma redução
muito grande de talentos, desses
que nós estamos falando, em-
bora reconheça que o conceito
de talentopressupõeumavisãomais
ampla do que apenas um indivíduo
comdotes especiais...
JR
–Comovocêdefiniria talento, do
pontode vistada sua empresa?
LUIZ EDMUNDO
– Na minha
empresa, consideramos que
todos têm talento. Alguns têm
talentos evidentes, mas muitos
têm talentos que precisam ser
descobertos e aflorados; e um
time não se faz só com uma
categoria, mas sim combinando
as duas. Então é importante que
se criem as condições para a
organização aproveitar omelhor
das pessoas. Especialmente na
área de serviços, onde atuo, te-
mos de ter essa visão amplificada
de talento. Mas quando falamos
de dirigir um negócio, ser um
executivo top, estamos tratando
mais do talento que o professor
Gracioso citou. E é esse talento
que está ficando cada vez mais
escasso. É umproblemamundial,
que se tende a tornar sério nos
próximos anos. Uma pesquisa
feita pelo IMD, recentemente,
dentro de um estudo chamado
Global Trends, aponta que – a
partir de 2010, daqui a 3 anos
– vários países desenvolvidos
vão enfrentar sérios problemas
de talentos.
GRACIOSO
– Eles analisam as
causas, também?
LUIZ EDMUNDO
– Por volta de
2015, haverá 33 a 35 milhões
de universitários, dos quais 2/3
estarão em países em desen-
volvimento. Quando olhamos o
crescimento populacional dos
países desenvolvidos, com taxas
muito baixas, e as propostas de
crescimento de empresas com
taxas elevadas, é óbvio que vai
haver um descompasso.
JR
– Elas cresceriam nos merca-
dos emergentes?
LUIZ EDMUNDO
– A realidade
dosmercados emergentes é dife-
rente: há excesso de mão-de-
obra e falta de qualificação.
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