Janeiro_2008 - page 86

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JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
Mara Cristina
Gabrilli
acolhertodomundodeumaformamais
generosa.
JR
–Vocênãoachaqueesseenfoque
é um tipo de ação afirmativa, como
a que se está discutindo em relação
à questão racial, especialmente para
osnegros?
MARA
–Achoqueébemparecida.Éa
questãodadiversidadehumana.Aforma
como se enxerga, a exclusãohistórica,
a falta de oportunidade que os negros
tiveram, queéhistórica.Houve lugares
eperíodosemque,quandonasciauma
pessoacomdeficiência,eraenviadapara
osacrifício.Elaserammortas.
JR
– Contam isso dos gregos, de
Esparta...
MARA
– Uma pessoa com de-
ficiência não tinha capacidade de
produção. Isso foi-se transformando,
atégerouumcertoassistencialismo,
queachoqueestámudando,porque
nãoprecisamos deassistencialismo,
precisamos de oportunidade para
produzir. E isso acontece de forma
muito semelhante com o negro,
porqueasbarreiras físicas impedem,
atrapalham;masnadaatrapalhamais
doque as barreiras de atitude.
JR
–Comovocê lidacoma indiferença,
queéapiordasbarreiras?
MARA
– É a mais comum. A pessoa
que não tem ninguém na família com
deficiência, entãonão “cai aficha” de
queumdiaelaserá idosaeprecisaráde
acessos fáceis, demanusear produtos
commais facilidades,commenosgasto
deenergia.Então,agecomosenãofosse
comela. Issoé resultadoda faltadehá-
bito, decultura, deconvíviocomessas
pessoas.Sãoosbrasileiros invisíveis.
JR
– Escrevi um artigo, para o JB, cha-
mado“Brasileiros Invisíveis”.
MARA
–Jura?!Poisháumdocumentário
sendoproduzido!
JR
–Você faz parte da associação dos
ex-alunosdaESPM?
MARA
–Não,masconvivocommuitas
pessoasquese formaramcomigo.
JR
–Vou ser indiscreto: quantos anos
você tem?
MARA
–40.
JR
–Oquevocêdiriaparaos jovensda
ESPM,queestãose formandoagora?
MARA
–Diria o seguinte: não importa
qualsejaaprofissão,emtudooquefaze-
mos,seousarmosserfelizes,tudosetrans-
formaedáqualidadeaonosso trabalho.
Ser felizpareceumacoisa tãovaga,mas
éumacondiçãoaque todomundo tem
direito.Achoqueissotemdeserrefletido,
pensado, resgatado. Se você se sentir
incluído, se você consegue pensar em
vocêmesmocomoagentetransformador,
seconsegueenxergarooutro,paratentar
transformaracidadee todaa sociedade
numambientemelhor.Euacreditomuito
que,seconseguimosmelhoraravidade
uma pessoa, melhoramos a nossa. Por
isso,quemtemoprivilégiodefreqüentar
uma faculdade tem a obrigação - e a
oportunidadenasmãos-de transformar
omundoparamelhor.
JR
–Vocêachapossívelensinaralguém
aser feliz?
MARA
–Euachoqueaprendemoscom
a vida,mas se observarmos exemplos,
como algumas pessoas ousam ser fe-
lizes,euachoque issoéque influencia
demais. É como ficar repetindo para
umfilho:“nãomente,nãomente,não
mente, que é feio!” É muito melhor
você não mentir, pois nisso ele vai
prestar atenção.
“SENÃO INICIASSEALGUMAATIVIDADE
PROFISSIONAL, EU IA FICARMUITOCHATA.”
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