Janeiro_2008 - page 82

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JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
Mara Cristina
Gabrilli
trar pessoas com deficiência para
preenchê-las.
JR
– A situação inverteu-se. Mas
tenho visto números muito eleva-
dos, por exemplo, deque10%das
pessoas têmdeficiências. Como se
chega à definição do que é uma
pessoa com deficiência?
MARA
– As visões variammuito.
Fui a uma convenção da ONU,
em Nova York, sobre os direitos
das pessoas com deficiência. Foi
a maior concentração de diversi-
dade humana que vi, por metro
quadrado. Havia 192 países par-
ticipando durante 15 dias, com
representantes de todo tipo de
deficiência. E essa foi uma das
principais discussões: quem é a
pessoacomdeficiência.NaChina,
usa-se o laudo médico. Fulano
teve uma isquemia e paralisou tal
coisa, então tem tal deficiência.
Teve uma lesão na vértebra 12,
tem outra deficiência. No Brasil,
não se define mais deficiência
dessa forma, porque há que se
levar emconsideraçãooambiente,
omeio social onde a pessoa vive.
Uma pessoa como eu, que, pelo
diagnóstico médico, teve uma
deficiência gravíssima –quebrei o
pescoçonuma vértebramuito alta
enãomexonadadopescoçopara
baixo –,mas por termais recursos
e ferramentas que me propor-
cionam trabalhar, fazer ginástica,
ter prazer, entretenimento, uma
vida digna e completa, a minha
deficiência diminui. Às vezes,
nem me lembro dela e consigo
fazer tudo o que quero. Mas uma
pessoa que mora numa favela,
quenão tem acesso à informação,
pode estar muito “melhor” do
que eu fisicamente, mas tem uma
limitação tão grande, que acaba
sendo mais deficiente do que eu.
Logo, para se definir a pessoa
com deficiência é preciso julgar
a situação física com a condição
social, para traçar o quadro mais
próximo da realidade.
JR
–Você disse que há 80mil pes-
soas empregadas, com carteiras
assinadas.Quantashádisponíveis,
que poderiam estar trabalhando?
MARA
–SónoEstadodeSãoPaulo
há 4 milhões de pessoas com
deficiência: desde possibilidade
zero até pessoas idosas, com de-
ficiência auditiva, visual, mental
e/ou física. Se, neste grupo, você
destacar os que têm entre 18 e
45 anos, dá em torno de metade
ou mais...
JR
– Você pode afirmar que, no
Estadode SãoPaulo, há 2milhões
de pessoas com algum tipode de-
ficiência – e compossibilidadede
ser economicamente ativas?
MARA
– Posso afirmar sim.
JR
– O que, então, separa os 80
mil que estão empregados, desses
outros quase 2 milhões que não
estãonuma atividade economica-
mente ativa?
MARA
–Eucitariaalguns itens: um
você já falou, queéacapacitação.
Esses 80 mil empregados foram
provavelmente capacitados para
isso;mas as pessoas comdeficiên-
cia “capacitáveis”estãoacabando;
porquenãoadiantavocêcapacitar
alguém em informática se ele não
aprendeuportuguês ematemática.
“SEOUSARMOSSER FELIZES, TUDOSETRANS-
FORMAEDÁQUALIDADEAONOSSOTRABALHO.”
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