Janeiro_2008 - page 83

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R E V I S T A D A E S P M –
JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2008
Entrevista
Eis o primeiro grande obstáculo:
as pessoas não tiveram oportuni-
dade de passar pela escola; não
conseguem ingressar nomercado
de trabalhoporquenão têmensino
médio, ensino fundamental. Se-
gundo: a pessoa quando sofre um
acidente, ou mesmo nasce com
uma deficiência, acaba tendo di-
reito de receber uma aposentado-
ria por invalidez. Se ela conseguir
umemprego, essaaposentadoriaé
suspensanamesmahoraeelanão
conseguedepois, casopercaoem-
prego, reaver a aposentadoria...
JR
– Isso é um defeito da lei, pois
a aposentadoria não pode ser ne-
nhuma fortuna, não é?
MARA
– É um tipo de Bolsa
Família, um incentivo à pessoa
ficar ociosa.Há famílias queusam
essa aposentadoria do deficiente
para semanter. Claro que ele não
vai sair de casa, fazer um rally de
cadeirade rodas, penar parapegar
umônibus acessível para ir para o
trabalho–eganhar praticamentea
mesma coisa. Ele prefere ficar em
casa. Esse é um grande obstáculo
para a inclusão no mercado de
trabalho. Outro obstáculo é a
própria dificuldade física que as
pessoas têm para chegar ao local
de trabalho, isso é um impeditivo
muito grande.
JR
– Eu representei a ESPM num
encontro, na Câmara Municipal,
com você, e tratamos das formas
comoas instituições deensinopo-
deriam oferecer mais e melhores
oportunidades às pessoas comde-
ficiência.Nas escolas particulares,
semprehá aquestão custo-benefí-
cio. Por exemplo, uma escola que
possibilite às pessoas portadoras
de deficiência visual acompanhar
o seucursodeMarketingnãoéum
investimento muito grande, com
pouco retorno? Quantos alunos
cegos terá esse curso?
MARA
– Na cidade de São Paulo
há 150mil pessoas com deficiên-
cia visual. Isso inclui cegueira
e baixa visão. Para você ter um
aluno cego em um curso de mar-
keting, o investimento émínimo.
JR
– Talvez eu esteja pensando
de uma forma demasiadamente
comercial...Maspor queumaluno
cego, por que não dez – ou cem
– alunos cegos?
MARA
–Maséque semprecomeça
com um... Os investimentos não
são tão grandes assim. Se você
instalar um piso tátil, ele poderá
andar sem ajuda. Vai precisar de
uma impressoraBraille, ou– se for
nocomeço–háprogramas dapre-
feituraparamandar imprimir oque
quiser sem pagar nada. Tem insti-
tutos que fazem isso. No caso de
um vídeo que vá ser transmitido,
existe uma coisa chamada “auto-
descrição”, que fazumadescrição
oral para que o cego possa en-
tender o que está a acontecer ali.
Se você quiser ter alunos surdos,
você tem de ter intérpretes de Li-
bras (Língua Brasileira de Sinais),
que é uma pessoa que vai fazer a
traduçãoparaaquelealuno surdo,
e acessibilidade para qualquer
cadeirante, ou pessoa que tenha
deficiência intelectual e tenha
dificuldade de circular.
JR
– Você acha que, se uma ou
várias faculdades criarem esse tipo
de facilidades, haverá um número
importante de candidatos?
MARA
– Acho que pode começar
lentamente, irá aumentando, e
tenho certeza de que vamos inter-
ferir diretamente nos 80mil – esse
número vai subir, emuito!
JR
– E as escolas primárias e as es-
colas de formação que são em sua
maioria do Estado?
MARA
–Por issoque, antesde fazer
o requerimentopara todas as facul-
dades de SãoPaulo, primeiro eufiz
para as escolas. Mas não estamos
falandodeabsurdos, ouanomalias.
Imagine uma escola que só aceita
pessoas de um 1,70 m para cima,
baixinhos não entram; quem tem
cabelo encaracolado não pode
freqüentar a faculdade, só quem
tem cabelo liso. No fundo o que se
combate é não dar a oportunidade
para as pessoas freqüentarem o es-
tabelecimento, ao determinar: “eu
queroesse,masnãoqueroaquele”.
Eu sempre gostei de estudar, de tra-
balhar, aí acontece uma fatalidade
e eu quebro o pescoço – poderia
ser o braço, mas foi o pescoço – aí
“APENAS 1%DASMULHERESCOM
DEFICIÊNCIATEVEOPORTUNIDADE
DEPASSARPELAESCOLA.”
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