Janeiro_2007 - page 91

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(1994) – e nem todas são simples de
se definir. Aliás, mais importante do
que tentar resumi-la numa definição
é ter consciência dos elementos que
ela abarca, que, para ser adequada-
menteassimilados,envolvemenormes
transformações às quais as pessoas
nem sempre estão dispostas a fazer.
Sejacomo for, as evidências sugerem
queaquestãodaespiritualidadepode
significarum roteiroconsistente tanto
paraaspessoas comoparaasorgani-
zações seguirem. Afinal, conforme
alerta Bruce (2000), ela afeta tanto a
vidapessoal comoaprofissional.
NocontextodosLTs, quenos interes-
sa abordar com mais ênfase neste
trabalho, a espiritualidade pode ser
definida como “...um novo modo
de descrever as organizações que
sustentam aceitáveis valores compar-
tilhados” (Turner, 1999, p. 41). E se
considerarmos, de acordo com Bur-
roughseRindfleisch (2002), aampla-
mentedifundidanaturezamaterialdas
mensagens na sociedade moderna,
os valores daí oriundos parecem in-
congruentes para muitos indivíduos.
Os referidos autores sugerem que a
natureza autocentrada domaterialis-
mo entra em flagrante oposição aos
valoresorientadosaocoletivismo, tais
comoreligiãoefamília.Convenhamos
que os tempos hodiernos têm sido
palco de grandes conflitos advindos
dosdualismos:material
versus
espiri-
tual e carreira
versus
vida particular.
Muitas obrigações e aspirações têm
sido sistematicamente postergadas
pelas pessoas, dadas as crescentes
exigências no trabalho, conforme já
comentamos. Ousadamente, Mitroff
e Denton (1999a) asseveram que a
administração da espiritualidade é
umadasmais fundamentais tarefasda
direçãodasorganizações.
Já Cavanagh (1999) acrescenta que
alguns executivos e empreendedores
religiosos vêem a espiritualidade nos
negócios como a afirmaçãodeDeus
edoEvangelhonoLT.Tal afirmaçãoé
congruentecomoEvangelhoquepre-
ga,entreoutrascoisas,quese façaaos
outros tudooquequeremosqueeles
nos façam
2
. Além disso, outra reco-
mendação expressa claramente que
tratemos a todos como gostaríamos
que nos tratassem
3
. Entendemos que
implementarvaloresdessamagnitude
no seio das organizações só é pos-
sível quando seus recursos humanos
neles se inspiram e conduzem. As
empresas–nãonosesqueçamos–são
aglomerados de pessoas. Quando
elas comungam de tais ideais, as re-
lações intra-organizacionais tendem
a ser mais agradáveis e respeitosas,
contagiando, positivamente, também
os relacionamentos com os demais
stakeholders
.
Na mesma linha de raciocínio,
Butts (1999) sugere, como forma
de integraçãodaespiritualidadeno
local de trabalho (ELT), autilização
de um sagrado e completo sistema
de valores – que permita ao es-
pírito humano crescer e prosperar,
o que pode também melhorar o
lucro e a produtividade, sem falar
na verdade, confiança, liberdade,
justiça, criatividade, inteligência
e harmonia coletiva – calcado em
mais profundo e alto propósito.
Ademais, ele acrescenta que a
maximização do capital humano
é outra direção da EAT. Tais bene-
fícios potenciais e outros serão
discutidos mais adiante. Por ora,
entendemos ser adequadoverificar
ograudeconvergênciaediferenças
entre religião e espiritualidade,
tema da próxima seção.
4.
RELIGIÃOE
ESPIRITUALIDADE:
CONVERGÊNCIASE
DIFERENÇAS
Repetimos que não é nossa intenção
fazer a apologia desta ou daquela
religião. Mas o tema exige que se
façam as devidas distinções e co-
nexões com o universo empresarial,
focodeste trabalho.Apesardoestreito
vínculo entre os dois construtos, eles
não são absolutamente sinônimos
(McCormick,1994).Dentreosmuitos
equívocosexisteodeseconfundires-
piritualidadecom religiãooupiedade
(Pierce, 2001). Na verdade, prati-
cantes de religião e espiritualidade
empregam termos comuns como:
suporte, ética, moral, crenças, mis-
são,valores,contemplaçãoespiritual,
envolvimento com a comunidade, o
que torna a distinção entre ambas as
práticasdifícildeseestabelecer (Cash
eGray, 2000).
De acordo com Bruce (2000), a
espiritualidade é normalmente en-
contradadentroda tradição religiosa,
embora não seja religião, isto é, não
éassociadaàquela (Cavanagh,1999),
chegandomesmo a estarmuito além
dasâncorasnaquelacontidas (Burack,
1999). Destituídas do dogmatismo
e mesmo do fanatismo que amiúde
cercam as religiões, assim pensamos
nós,o tópicodaespiritualidade torna-
semais isentoparaseranalisadopelas
menteshumanasquenãosesentemà
vontadecomdeterminados cultos.
Entretanto,somos forçadosareconhe-
cerqueasdificuldadesnãoparampor
aí.Afinal, é complicado enxergar – e
separar – valores não determinados
pela religião daqueles determinados
Anselmo Ferreira
Vasconcelos
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