Janeiro_2007 - page 88

tendênciasmais amplasque, aliás, es-
tão recebendo inclusiveoendossodo
mundo acadêmico através de centros
de pesquisa dedicados ao assunto,
como, por exemplo, os daUniversity
ofDenver,UniversityofNewHavene
aMinnesota’sUniversity of St.Tomas.
Alémdisso, dezenas deuniversidades
já introduziram a disciplina de espi-
ritualidadeemseusprogramasdeMBA
(Reaching In...,2003;McDonaldapud
Garcia-Zamor,2003),oquerespaldaa
presente investigação.
Outraprovadaseriedadedesse tópico
éaexistênciade jornais acadêmicos,
totalmente dedicados ao seu estudo,
como o
Spirit at Work
e o
Business
Spirit
,amboscomseisediçõesporano
(Cavanagh,1999),do J
ournalofMana-
gement
,
Spirituality,andReligion
além
daexistênciadeumgrupode trabalho
ligado à Academy of Management,
estabelecido no ano 2000 intitulado
Management, Spirituality, and Reli-
gion atualmente composto de 200
membros (Bell eTaylor, 2003).Ainda
segundo Conlin (1999), pesquisa
efetuadapelaconsultoriaMcKinseyda
Austráliacomprovaquenasempresas
que se engajaram emprogramas que
utilizam técnicas espirituais para os
seusempregados,aprodutividadeau-
mentaeo
turnover
ésubstancialmente
reduzido. Já Gunther (2001) salienta
que a construção da EAT descarta a
antiga idéiadeque fé edinheironão
se misturam. Ao contrário. Portanto,
parece-nos plausível a coexistência
pacífica de ambas aspirações. Como
dizopreceitoevangélico“DaiaCésar
o que é de César e a Deus o que é
de Deus.”
1
De qualquer maneira,
a (re)descoberta da espiritualidade
significa, com base no exposto, a
introduçãodepropósitosmaisnobres
nouniversoempresarial.
2.1.
ORENASCIMENTO
DA ESPIRITUALIDADE
A essa altura, contudo, pode-se perfeitamente
perguntar,comoumtópicotão,digamos,distanteda
práticaempresarial,emerge. Inicialmente,épreciso
reconhecerqueo“renascimentodaespiritualidade”
ocorreexatamentepela incapacidadedasociedade
ocidental, emespecial,deharmonizar as váriasdi-
mensõesdavida.Decertaforma,nostransformamos
emcidadãosautômatos.Tornamo-nos,porforçadas
circunstâncias, escravos da carreira emáquinas a
serviço das organizações. Não obstante a signifi-
cativa evolução obtida no campo tecnológico, algo
muito importanteestá faltando (talvezatéporqueo
progressoéacessívelapoucos).Écomosefôssemos
personagensorwellianos,nãodeumaobradeficção,
masdeumdrama real,quenosabsorveacadadia
mais emais e, em contrapartida, nos proporciona,
paradoxalmente, uma sensaçãode vazioprofundo,
insegurança, insatisfaçãopessoal e frustraçãosem
precedentes. Em decorrência, conforme Cash e
Gray (2000), os administradores sedefrontam com
anecessidadedepromover–nósdiríamosa tarefa
permanentemente penosa – redução de custos, o
que implica,nãorarasvezes,emdemitirfuncionários
eaindaexecutaromesmovolumede trabalhonum
ambiente inseguro,instáveleaindaatormentadopor
ininterruptas revisõesdeprocessosedemudanças
tecnológicas,oquepodenos tornarobsoletos,aliás,
aqualquermomento.
Comosubprodutodetãoprofundastransformações,
avidacorporativapassoua invadirsubstancialmente
a vida particular das pessoas. A carga horária, por
exemplo, é cada vezmaior. Em função disso, pro-
postasvoltadasaoequilíbrioentretrabalhoefamília
nãodeixamdeconterumcertocinismo.Comoéde
amploconhecimento,asorganizações,aoexigirem,
crescentemente, de seus funcionários, absorvem,
portanto,o temponecessárioparaopreenchimento
deoutrasatividadesanãoseras ligadasaotrabalho
propriamentedito.
Observando esse conflito e reforçando o nosso
raciocínio já explicitado, Lama (2000) julga que a
sociedade industrialmodernaàsvezesassemelha-
seaumaenormemáquinaautopropulsionada.Nesse
contexto,ossereshumanos tornam-sepequenose
insignificantes componentes àmercêdamáquina.
Quandoestasemove,aqueles tambémsemovem.
Para ele, o grande responsável por esse estado
de coisas é a propalada retórica do crescimento e
desenvolvimentoeconômico.Essacrençagera,por
suavez:(1)atendênciadaspessoasparaacompeti-
tividadee inveja; e (2) apercepçãodanecessidade
de manter as aparências – fonte de problemas,
tensõese,sobretudo,infelicidade.Briskin(1997),por
outro lado,afirmaquequantomaismaterialistasnos
tornamos,mais desesperada e neurótica se torna
nossabuscapelasatisfaçãoespiritual.
Existem fortes indíciosqueexplicamaênfasedes-
proporcionaldadaaoprogressoexterior (causa)ea
infelicidade, aansiedadeeodescontentamentoda
sociedademoderna(efeitos),segundoassuposições
de Lama (2000). Nomesmo tom, a físicaefilósofa
DanaZohar eopsiquiatrae terapeuta IanMarshall
expressamumacríticaacerbaem relaçãoàcultura
ocidental.Paraessesautores,areferidaculturaestá
impregnadado imediatismo,domaterial,bemcomo
damanipulação egoísta de coisas, experiências e
pessoas (Zohar e Marshall, 2000). Entretanto, nós
entendemosqueosestragosnãoparamporaí. Por
exemplo, Palmer apud Cavanagh (1999) destaca
queoateísmo funcional –ou LTdesespiritualizado
na classificação deThompson (2000) – conduz ao
comportamentodisfuncional em todososníveisde
nossasvidas,oque leva,por suavez,aoworkaho-
lism,burnout,à faltadeatençãoàspessoascomas
quaisconvivemos,àdesintegraçãofamiliaremesmo
àviolência.Soma-sea isso:amanifestaçãodeuma
moral em baixa, alto turnover, freqüente estresse
relacionado a doenças e elevado absenteísmo
(Thompson,2000).
Palmer apud Cavanagh (1999) também alerta que
oateísmo funcional ea resultantevisãoestreitade
vida e trabalho laçam as pessoas em armadilhas
representadasporestilosdevidaecomportamentos
quesãonãoapenasopostosaqualquernoçãoespi-
ritual,mastambémnãosãosequerhumanos.Diante
de tais argumentos e evidências, entendemos que
adisseminaçãodapercepçãosobreespiritualidade
poderiaajudaraspessoasnoLT,diminuindo,signifi-
cativamente,boapartedosmalesacimadescritos.
Porém, infelizmente ainda fomenta-se um des-
gastante e perigoso sentimento de desconfiança
e mesmo medo que mina as melhores intenções
e degrada o AT. Dessa forma, a proliferação da
Espiritualidade
no ambiente de trabalho
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R E V I S T A D A E S P M –
JANEIRO
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FEVEREIRO
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