Janeiro_2007 - page 87

Inicialmente, convém lembrar que a
crença em algo superior não é algo
absolutamente estranho para a maior
partedahumanidadeque,Inicialmente,
convém lembrar queacrençaemalgo
superior não é absolutamente estranho
para a maior parte da humanidade
que, commaioroumenor intensidade,
abraçauma religião. Em contrapartida,
o ambiente organizacional tem sido
marcado–atépelasuapróprianatureza
ecaracterísticas–pelaculturaeprática
devalorespredominantementemateriais
eimediatistas.Alémdisso,dadososcon-
stantesprocessosde
downsizings
,fusões
e enxugamentos (para exemplificar
comalgumasexpressõesdamoda)que
tantodesalentoedecepção têm trazido
aos trabalhadoresde todososníveisdo
mundo inteiro, oconstrutodaEAT tem
sidomuito bem recebido, segundo o
queapuramos,na literaturaconsultada.
Por outro lado, também constatamos
que a EAT não pode ser confundida
comomaisumaferramentadegestão.
A
priori
, talvezsejamaiscorretodizerque
se tratadeumafilosofiacujosprincípios
podemajudar –considerandoquenão
detectamosobjeçõesconsistentes–tanto
pessoascomoorganizações.
2.
ANTECEDENTES
Emsituaçõescaóticascomoaquetemos
vivido nas últimas décadas – especial-
mente nos ATs e, por extensão, com
os empregos não tão seguros como
outrora foram – levam as pessoas a
procurar desesperadamente entender
e acreditar em algo (Cohen, 1997). A
competência,preparoededicaçãonão
são mais antídotos para a demissão.
Alémdisso, nãodámaispara sedeixar
emcasanossascrençaspessoaisevalo-
res. Nesse sentido, Neal (1999) afirma
queaspessoas estãocansadasdeviver
de formacompartimentalizadanaqual
aspartesnãoestejamconectadas entre
si. Seguedaíodesejodelasdecarregar
todas as dimensões inerentes ao ser
humano. Já para Cash e Gray (2000)
parece que as pessoas estãobuscando
maior significadoemseus locaisde tra-
balho (LTs); iniciativaessa intensificada
pelaspreocupaçõesadvindasdosefeitos
perniciososdosavanços tecnológicose
dasreestruturações.Poroutro lado,para
KonzeRyan(1999)talbuscatranscende
assimplestrocaseconômicas.Osautores
lembram, com razão, que o trabalho
tem sido transformado num fórum no
qualaspessoassedesenvolvem.Afinal,
jáqueé láquepassamos boapartede
nossas vidas –aomenospor enquanto
–, entãodeveríamos também láencon-
trar as condições ànossaevolução (no
sentido lato).
De qualquer forma, segundo Neal
(1999), nós estamos experimentandoo
começo de uma transformação no LT.
Paraoautor,nãoéaúltimamoda,mas
o reconhecimentogenuínodequeoLT
temumimportantepapeladesempenhar
emnossanecessidadedecompletudee
integração.ParaBarret (2003), agrande
transformação corporativa acontece
quando semuda a atitude de “O que
hánistoparanós (eu)?”paraalgocomo
“Oqueémelhorparaobemcomum?”
edaconsciênciadoamorprópriopara
a consciência organizacional. Assim,
as evidências sugerem que a temática
daespiritualidade temmuitoavercom
todaessatransformação,exatamentepor
tudoqueelaprovoca,ou seja, aneces-
sidadedenãoesquecermos: (1)porum
lado, que as organizações têm outras
obrigações e responsabilidades além
das com os acionistas; e, (2) de outro,
que as pessoas devem cultivar valores
não exclusivamente materiais. Mitroff
eDenton (1999a:p.XIX) reforçamessa
percepçãoaoapresentar sólidas razões
para a inserção da EAT, ou seja: “[...]
Contrárioaopensamentoconvencional,
espiritualidade não fornece simples-
mentepaze‘concordância’;elatambém
‘inquieta’ profundamente. O propósito
dessa inquietaçãoéodenos estimular
constantementeamelhoraracondição
humana [...].”
McCormick(1994)defendequeháboas
razõespara seestudar espiritualidadee
administração. Segundoele, aprimeira
dizrespeitoàinfluênciaqueaespirituali-
dadetemsobreocomportamentogeren-
cial. Ea segundaenvolveaperspectiva
de um trabalho mais espiritualmente
significativo.Entretanto,somosforçados
anosalinharaLaabs(1995),quandoele
afirma que se trata de um tópicomais
confortávelemnossascasasdoqueem
nossas mesas de trabalho. Aparente-
mente, trata-sedeumassuntoqueestá
se infiltrandonoLTmuitoalémdeuma
simples tendência.
ConformeConlin(1999),paraasempre-
sas talvez o aspectomais amplodessa
tendênciaéacrescenteevidênciadeque
osprogramasvoltadosàespiritualidade
servemadoispropósitos:aliviarapsique
dos empregados e aumentar a produ-
tividade. E produtividade – convém
relembrar–éofluídovitaldasempresas.
Naverdade, as empresas estão sempre
dispostasaexperimentarnovidadesque
melhorem seus desempenhos. Para os
trabalhadores, por outro lado, significa
pertencer a um ambiente onde se é
respeitadoevalorizado;significa,enfim,
fazerpartedeumacomunidadeverda-
deiramentehumanizadaealicerçadaem
princípiosgenuinamenteelevados.
Mas, seja como for, segundo Conlin
(1999), o que está acontecendo,
pelomenos emparte, é a reflexãode
Anselmo Ferreira
Vasconcelos
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