Revista ESPM Mai-Jun 2012 - NEM BABÁ, NEM BIG BROTHER a eterna luta do indivíduo contra o Estado - page 54

Revista da ESPM
|maio/junhode 2012
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mídia responsável
Sem imprensa livre e independente não existe de-
mocracia e vice-versa. E, justamente por essa ligação
visceral, a imprensa deve pautar seu trabalho na obser-
vância intransigente dos preceitos fundamentais que
sustentam o estado democrático, principalmente no
que concerne às garantias constitucionais individuais
que existem para proteger o cidadão do poder estatal
opressivo e que estabelecem as regras do jogo. Não é à
toa que a imprensa sempre teve papel decisivo no resta-
belecimento das liberdades nos países em que vigorava
a escuridão dos governos totalitários. Da mesma forma,
cumpria aos advogados exercerem função estratégica
de serem porta-vozes dos direitos individuais durante
os regimes ditatoriais.
Afora os momentos em que advogados eram valoriza-
dos por lutarem pelo restabelecimento da ordem demo-
crática, sempre existiu um clima de incompreensão com
a função desempenhada pelo defensor. É cada vez mais
frequente ouvir da opinião pública que os advogados
são aliados da impunidade. No entanto, a justiça só se
realiza quando se observa o devido processo legal, o que
só é possível com o amplo exercício do direito de defesa.
Com muita frequência confunde-se a pessoa que está
sendo investigada com o advogado que atua em sua defe-
sa. No entanto, na lição do jurista, escritor e político Rui
Barbosa: “Quando quer e como quer que se cometa um
atentado, a ordem legal se manifesta necessariamente
por duas exigências, a acusação e a defesa, das quais a
segunda, por mais execrado que seja o delito, não é me-
nos especial à satisfação da moralidade pública do que a
primeira. A defesa não quer o panegírico da culpa ou do
culpado. Sua função consiste em ser, ao lado do acusado,
inocente ou criminoso, a voz dos seus direitos legais”.
Hoje, contudo, observa-se que em muitos casos a
imprensa dissemina esse clima de incompreensão e
intolerância. Nesse espírito, a fala da defesa tem muito
pouca relevância durante a apuração jornalística. Não
são poucos os casos de jornalistas que preferem ouvir a
versão da defesa já perto do fechamento da reportagem
para não correrem o risco de perder a “história” e o su-
posto “furo”. É uma pena, pois sem dúvida, assim como
a justiça se faz de um equilíbrio entre acusação e defesa,
a boa reportagem é fruto de uma apuração rigorosa de
todos os lados envolvidos na história. Os novatos na
profissão, que vivem a pressão surreal do jornalismo ins-
tantâneo, deveriam ficar mais atentos à lição dada pelo
jornalista Sidnei Basile [ex vice-presidente de Relações
Institucionais da Abril, que faleceu em março de 2011]:
“Corra o risco de perder o furo; não corra o risco de dar
uma notícia errada”.
É notório e histórico o interesse da sociedade nas
reportagens policiais. O que sempre garantiu às cobertu-
ras de crimes, envolvendo ou não pessoas públicas, um
grande espaço na mídia. Não são poucos os exemplos em
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