 
          
            Revista da ESPM
          
        
        
          |maio/junhode 2012
        
        
          
            30
          
        
        
          sociedade
        
        
          Não tinhamnomes, mas números. E todos pensavamda
        
        
          mesma forma. E os povos que conquistavam tinham de
        
        
          ser “assimilados”, isto é, passavam por um processo de
        
        
          reeducação e robotização, senão seriam “eliminados”.
        
        
          Roddenberry pretendeu, na sua série, criticar as dita-
        
        
          duras ideológicas, que excluem a liberdade de pensar,
        
        
          condenando aqueles que ousam discordar.
        
        
          Àevidência, a evoluçãopolíticado ser humano leva-nos
        
        
          a outra dimensão: a da busca dos ideais democráticos, em
        
        
          que as liberdades individuais, o direito de representação
        
        
          e de eleger seus representantes terminam por gerar a
        
        
          possibilidadedopovode interferir no comandoquedeseja
        
        
          para suas aspirações.
        
        
          Neste particular, o ceticismo de Thomas Hobbes (
        
        
          
            Le-
          
        
        
          
            viatã
          
        
        
          , Ícone Editora), não compartilhado por John Locke
        
        
          (
        
        
          
            Dois tratados sobre o governo
          
        
        
          , Martins Editora), que via
        
        
          a possibilidade de uma participação real do povo na con-
        
        
          dução dos governantes, desemboca em Charles Louis de
        
        
          Montesquieu, que, conhecendo a natureza humana no
        
        
          poder, termina por sistematizar a divisão dos poderes
        
        
          (
        
        
          
            Do espírito das leis
          
        
        
          , Editora Edipro). Na época, criticado,
        
        
          porque diziamque opoder divididonão é poder, contraba-
        
        
          lançou coma assertiva de que o homem, no poder, jamais
        
        
          é confiável, razão pela qual havia necessidade de o poder
        
        
          controlar opoder.Odireitode legislar, dadoa totalidadeda
        
        
          nação, seria exercidopeloParlamento (onde se encontram
        
        
          representadas tanto a situação quanto a oposição); o de
        
        
          governar, executando as leis, seria exercitado pelo Poder
        
        
          Executivo, constituído pela maioria da nação (a oposição
        
        
          não participa doExecutivo); e o poder de julgar, outorgado
        
        
          a um poder técnico, que não é político.
        
        
          Emoutraspalavras,Montesquieupercebe, comparticu-
        
        
          lar acuidade, que a identificação do homem com o poder
        
        
          torna-oumrepresentante inconfiável. Equedevemais ser
        
        
          controlado por outros poderes do que pelo próprio povo
        
        
          que, mesmo nas democracias, tem instrumental de con-
        
        
          trole reduzido, sobre o poder ser manipulado facilmente,
        
        
          por aquilo que Rawls denominou de o “véu de ignorância”,
        
        
          pertinente à grande maioria da sociedade, que não tem
        
        
          uma visão de conjunto do Estado.
        
        
          Neste quadro, é de compreender, como procurei mos-
        
        
          trar no livro
        
        
          
            Uma breve teoria do poder
          
        
        
          , que sãoasoposições
        
        
          fortesquegarantemademocracia.Oposições fracas levam
        
        
          os detentores do poder a enfraquecer as instituições para
        
        
          seu domínio, como ocorreu na Venezuela, na Bolívia e no
        
        
          Equador, em que os maiores instrumentos de controle e
        
        
          repressão são dados aos presidentes da República, como
        
        
          o de derrubar o Congresso, convocar plebiscitos etc.
        
        
          Oamadurecimento social, todavia, comuma presença
        
        
          cada vez maior da imprensa como fiscalizadora dos atos
        
        
          de governo, facilita a tomada de consciência pelo povo de
        
        
          suas responsabilidades e direitos perante os governantes,
        
        
          como que seus integrantes podemexercermelhor a cida-
        
        
          dania, sempre com o risco de serem facilmente manipu-
        
        
          lados pela própria imprensa, que, como ironizava Mark
        
        
          Twain (pseudônimo de Samuel Langhorne Clemens, que
        
        
          é autor de
        
        
          
            As aventuras de Tom Sawyer
          
        
        
          ), tem a tendência
        
        
          de separar o joio do trigo e publicar o joio.
        
        
          Comasérie
        
        
          StarTrek
        
        
          ,
        
        
          GeneRoddenberry
        
        
          pretendeucriticaras
        
        
          ditaduras ideológicas, que
        
        
          excluemaliberdadede
        
        
          pensar, condenandoaqueles
        
        
          queousamdiscordar
        
        
          divulgação