 
          
            Revista da ESPM
          
        
        
          |maio/junhode 2012
        
        
          
            36
          
        
        
          mercado
        
        
          Em 2005, o Ibope apresentou
        
        
          o seguinte dado: ”Crianças
        
        
          brasileiras de 4 a 11 anos, que
        
        
          em 2004 assistiram a 4 horas, 48
        
        
          minutos e 54 segundos de tevê
        
        
          por dia, passaram a ver 4 horas, 51
        
        
          minutos e 19 segundos em 2005”.
        
        
          Na época, o índice colocou o Brasil
        
        
          em primeiro lugar em um ranking
        
        
          mundial que aponta a quantidade
        
        
          de tempo que as crianças ficam
        
        
          diante do televisor. No mesmo
        
        
          ano, outro levantamento chamou
        
        
          a atenção do Instituto Alana: o
        
        
          índice de obesidade infantil subiu
        
        
          de 5% em 1964 para 20% em 2005
        
        
          e continuou crescendo. De acordo
        
        
          com a Escola Paulista de Medicina
        
        
          (Unifesp), 14% das crianças são
        
        
          obesas e 25% estão acima do
        
        
          peso, curvas que acompanham o
        
        
          crescimento do volume investido
        
        
          no marketing infanto-juvenil. Após
        
        
          cruzar esses dados, o Instituto
        
        
          Alana decidiu criar o projeto Criança
        
        
          e Consumo para tratar do assunto.
        
        
          Resultado: a entidade passou a
        
        
          ser fonte de diversos veículos de
        
        
          comunicação e acabou conhecida
        
        
          no meio como ”aquela ONG que fala
        
        
          mal da publicidade”. A seguir, você
        
        
          confere qual é o posicionamento
        
        
          do Instituto Alana com base nesta
        
        
          entrevista concedida por Isabella
        
        
          Henriques, diretora de defesa e
        
        
          futuro dessa organização sem fins
        
        
          lucrativos criada em 1994.
        
        
          Revista da ESPM
        
        
          – Por que proibir a
        
        
          propaganda de produtos infantis?
        
        
          Isabella
        
        
          – Não somos contrários
        
        
          à propaganda. Somos favoráveis
        
        
          à restrição do direcionamento da
        
        
          comunicação mercadológica às
        
        
          crianças. Esse tipo de mensagem
        
        
          comercial deveria ser voltada a
        
        
          pais, mães e responsáveis, para que
        
        
          possa haver uma mediação entre a
        
        
          mensagem publicitária e o público
        
        
          infantil. Dirigir conteúdo comercial
        
        
          diretamente às crianças – de até 12
        
        
          anos – é inadequado, porque elas não
        
        
          têm condições de fazer uma análise
        
        
          mais crítica.
        
        
          Revista da ESPM
        
        
          – Muitos estudiosos
        
        
          alegam que melhor do que proibir
        
        
          seria debater o problema com o
        
        
          setor, para juntos chegarem a uma
        
        
          solução e, quem sabe, até uma
        
        
          autorregulamentação. Você acredita
        
        
          que isso seja viável?
        
        
          Isabella
        
        
          – Sim. Mas ainda encontramos
        
        
          muita resistência em relação à
        
        
          possibilidade de haver uma mudança
        
        
          de postura nessas relações de
        
        
          consumo. Ainda que, de fato, existam
        
        
          passos importantes dados emdireção
        
        
          à proteção da infância, como, por
        
        
          exemplo, os
        
        
          pledges
        
        
          assumidos pelas
        
        
          empresas do setor alimentício – os
        
        
          quais demonstramque o setor está
        
        
          atento às discussões e concorda ser
        
        
          a publicidade um fator importante no
        
        
          agravamento do quadro de obesidade
        
        
          infantil no país. A autorregulamentação
        
        
          não depende da sociedade civil
        
        
          organizada, nemdos governos. Ela
        
        
          pode acontecer independentemente
        
        
          desses atores. A que já existe mostrou-
        
        
          se insuficiente, até por isso a demanda
        
        
          da sociedade como um todo é cada dia
        
        
          maior. Se ela melhorar e for, de fato,
        
        
          eficaz, teremos umnovo cenário – que
        
        
          não conflitaria com a existência de uma
        
        
          Abaixoapropaganda
        
        
          colocar em xeque a democracia e a própria atuação dos
        
        
          representantes políticos. “Afinal, quem não tem capaci-
        
        
          dade de comprar um pacote de biscoito também não é
        
        
          capaz de escolher seus governantes.”
        
        
          Easmedidascontraapropagandadealimentosebebidas
        
        
          representam apenas a ponta desse iceberg de restrições,
        
        
          que atinge também os setores farmacêutico, agrícola e
        
        
          até de marketing direto. Entre as de maior impacto está o
        
        
          anteprojeto de lei sobre privacidade e proteção de dados
        
        
          pessoais no Brasil. Elaborado pela Secretaria de Assuntos
        
        
          Legislativos(SAL)epeloDepartamentodeProteçãoeDefe-
        
        
          sadoConsumidor (DPDC) doMinistérioda Justiça, o texto
        
        
          visa assegurar aos cidadãos o controle sobre suas infor-
        
        
          maçõesnaweb. De acordo comopresidentedaAssociação
        
        
          BrasileiradeMarketingDireto(Abemd),ainiciativapoderá
        
        
          engessar o setor domarketing direto ao criarmecanismos
        
        
          para fiscalizar e regulamentar as atividades relacionadas
        
        
          à coleta, tratamento e armazenamento de dados pessoais.
        
        
          “O avanço da internet e o surgimento das redes sociais
        
        
          tornam a regulamentação necessária, mas o projeto do
        
        
          governo é detalhista ao extremo e apresenta uma série
        
        
          de excessos.” Na tentativa de reverter esse panorama,
        
        
          Kapulski abordou o assunto na comissão “Comunicação
        
        
          
            one to one
          
        
        
          ”, realizada durante oVCongresso Brasileiro da
        
        
          Indústria da Comunicação (
        
        
          
            ver boxe na página 35
          
        
        
          ).
        
        
          Desta discussão saiu um projeto de lei para regula-