 
          maio/junhode2012|
        
        
          
            RevistadaESPM
          
        
        
          
            27
          
        
        
          De vocação fundamentalista, umdessesmovimentos se
        
        
          atribuiuatarefadedirigiraeducaçãodenossascrianças,em
        
        
          substituição dos pais e educadores, como se seus adeptos
        
        
          fossemmaissabidosqueospaisdosfilhosdosoutros.Como
        
        
          se a escolha do “sim” oudo “não” da família devesse ficar ao
        
        
          arbítrio de umaONG.
        
        
          Recentemente, uma dessas organizações cometeu
        
        
          
            bullying
          
        
        
          ao divulgar aos quatro ventos que a Organização
        
        
          Pan-Americana da Saúde (Opas) havia aprovado novas
        
        
          diretrizes para a publicidade e o marketing de alimentos e
        
        
          refrigerantes.
        
        
          Anotícia era falsa.
        
        
          No documento original, a Opas advertia que se tratava
        
        
          da opinião de pessoas físicas, que não refletia a posição
        
        
          daquele organismo.
        
        
          É
        
        
          
            bullying
          
        
        
          ! Para forçar o Estado a impormais regulação à
        
        
          publicidade, na contramão do que preconizamatualmente
        
        
          aOrganizaçãoMundialdaSaúde,oParlamentoEuropeueo
        
        
          FDAnorte-americano, queestãoencorajandoas iniciativas
        
        
          de autorregulamentação para alimentos e refrigerantes.
        
        
          Concluindo, vou alinhar alguns pontos para reflexão do
        
        
          plenário, comocontribuiçãoà tesedaComissãodeLiberda-
        
        
          de de Expressão e Democracia:
        
        
          1º. Produtos lícitos e seguros para o consumo podem,
        
        
          sim, ser anunciados, admitindo-seque restrições sejames-
        
        
          tabelecidaspormeiode leisedeautorregulamentação, que
        
        
          elas sejam necessárias, justas, razoáveis e proporcionais.
        
        
          Afinal, o Brasil já tem leis demais e os ímpetos de ampliar
        
        
          a regulação revelama crença equivocada de que restringir
        
        
          a liberdade de expressão fará bem aos brasileiros.
        
        
          2º.Oanunciantenãodeveráserobrigadoà“autodetração”,
        
        
          ou seja, falar mal de si ou de seus produtos, defeito reinci-
        
        
          dente emvários projetos de lei e nas resoluções da Anvisa.
        
        
          3º. Devemos combater com igual vigor a censura à in-
        
        
          formação e a censura ao direito de escolher, de dissentir
        
        
          e de ser diferente. Nesse sentido, devemos estimular o
        
        
          consumidor a empregar todas as suas faculdades, como
        
        
          dizia Stuart Mill.
        
        
          4º. Nenhum cidadão deverá sofrer
        
        
          
            bullying
          
        
        
          em razão de
        
        
          suasescolhas.Gostardebatatas fritaserefrigerantes,apre-
        
        
          ciarmanteiga, ovo, carne vermelha e cerveja, ou preferir a
        
        
          bicicletaaoautomóvel... Todasestas sãoescolhasbaseadas
        
        
          principalmente nas informações tão abundantes quanto
        
        
          controversas veiculadas na imprensa.
        
        
          5º. Nenhumconsumidor deverá sofrer
        
        
          
            bullying
          
        
        
          por fazer
        
        
          parte da minoria. A democracia não deve prescindir dos
        
        
          contrários e das minorias. Omercado tambémnão.
        
        
          6º. Devemos combater o
        
        
          
            bullying
          
        
        
          em todas as suas abo-
        
        
          mináveis formas, como a intolerância, o mau humor e o
        
        
          politicamentecorreto,queobscurecemacriaçãopublicitária
        
        
          e podem aniquilar a liberdade de expressão comercial que
        
        
          honramos.
        
        
          Apropaganda comercial é a principal fonte dos recursos
        
        
          que viabilizam o direito à informação, respeitando a inde-
        
        
          pendência dos veículos e a liberdade de imprensa.
        
        
          Esse nobre papel institucional e político da propaganda
        
        
          comercial nos impõe o dever de lutar pelas prerrogativas
        
        
          constitucionais da atividade com o mesmo destemor com
        
        
          que o fazemos jornalistas.
        
        
          Essenobrepapelnosimpõeodeverderepelirastentativas
        
        
          maliciosasdebanircategoriasanunciantesoudeafastá-las
        
        
          damídia para, dessemodo, colocar em risco a saúde finan-
        
        
          ceira das empresas de comunicação.
        
        
          Encerrando, cito trecho do poema que foi adotado como
        
        
          legenda pelo Centro de Referência sobre Liberdade de Ex-
        
        
          pressão, instituído pelo Conar e pela ESPM-SP. De autoria
        
        
          dopoetafluminenseEduardoAlves daCosta, chama-se
        
        
          
            No
          
        
        
          
            caminho, comMaikóvski
          
        
        
          :
        
        
          
            Tu sabes,
          
        
        
          
            Conheces melhor do que eu
          
        
        
          
            A velha história.
          
        
        
          
            Na primeira noite eles se aproximam
          
        
        
          
            E roubam uma flor
          
        
        
          
            Do nosso jardim.
          
        
        
          
            E não dizemos nada.
          
        
        
          
            Na segunda noite, já não se escondem:
          
        
        
          
            Pisam as flores,
          
        
        
          
            Matam nosso cão,
          
        
        
          
            E não dizemos nada.
          
        
        
          
            Até que um dia,
          
        
        
          
            Omais frágil deles
          
        
        
          
            Entra sozinho em nossa casa,
          
        
        
          
            Rouba-nos a luz e,
          
        
        
          
            Conhecendo nosso medo,
          
        
        
          
            Arranca-nos a voz da garganta.
          
        
        
          
            E já não podemos dizer nada.
          
        
        
          
            Gilberto Leifert
          
        
        
          
            Presidente do Conar