Alberto
Saraiva
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M A R Ç O
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A B R I L
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
De R$ 0,59 passei para R$ 0,39,
para enfrentar o mês de fevereiro,
que normalmente é ruim. Tivemos
a maior lucratividade de todos os
tempos doHabib´s nomês de feve-
reiro – vendemos quase80milhões
de unidades.
JR
– Você sabe que foi assunto de
um
chat
de profissionais na inter-
net?Umgrupode1.200executivos
discutiramdurante 15dias essa sua
campanha...
ALBERTO
– Foi o maior resultado
de todosos tempos– faturamos36%
a mais nesse mês de fevereiro do
quenomesmomês doanopassado
e tivemos uma lucratividade de
23% contra 14% do ano passado.
Lógico que há o marketing, mas
apoiado nesse item fortíssimo, que
foi o preço. Na reunião com o
pessoal da agência, eles brincaram
e o pessoal da mídia disse para a
criação: “Bom, com esfiha a 0,39,
vocêsnãoprecisamcriar nada”. Foi
essa filosofia de vender barato que
mudou a minha vida na parte
profissional. Comecei vendendo
barato porque não tinha estrutura,
qualidade, funcionários... Aprimo-
rei isso, passei a ter estrutura, fun-
cionário e qualificação, e conti-
nuei vendendo barato. É o que deu
certo, no Habib´s.
JR
–Ecomo foi ocaminhodapada-
ria aoHabib´s?
ALBERTO
– Após um ano e meio,
vendi a padaria por um valor bem
mais altodoque ela havia custado.
Mas o sonho de ser médico conti-
nuavaecorri paralelo, comamedi-
cina e o comércio. Eu me formei,
fiz especialização na Santa Casa
mas, em seguida, deixei a medi-
cina. Fazer o curso exigiu persis-
tência: tranquei a matrícula no
primeiro ano; no terceiro estava
com dificuldade, tranquei nova-
mente.Umcursode seisanos levou
oito. Tive várias experiências co-
merciais, sempre relacionadas com
restaurantes – casa de pastel,
pizzaria, churrascaria, sempre com
a mesma filosofia, o mesmo con-
ceito e com as casas sempre lota-
das. O restaurante Ragazzo, por
exemplo, abri sem propaganda e,
no último sábado, entraram 1.100
pessoas e teve fila de duas horas,
na porta. É lógico que atrás disso
há outros conceitos: estrutura forte
e produção.
JR
– Isso tem a ver com a obser-
vaçãoquevocê fez, sobreopessoal
de produção na padaria, que era
fraco?
ALBERTO
– Foi a padaria que me
ensinou.Porexemplo,descobrique
tinha de aprender a fazer as coisas,
porque meu padeiro era ruim. Ele
tinha problemas familiares; às
vezes, largava tudo e ia embora. E
demanhã não tinha pão. Então fui
para a área de produção e virei
padeiro. Aprendi as receitas doHa-
bib´s com um árabe; as receitas do
Ragazzo são quase todas minhas.
JR
– Como você abriu o primeiro
Habib´s? Você teve uma padaria,
depois churrascaria. Como, de re-
pente, entrounessemercadoárabe?
ALBERTO
– Eu tinha uma lancho-
nete na rua Lins de Vasconcelos,
conheci um senhor, já de certa
idade, aposentado, que veio pedir
emprego. Perguntei a ele o que sa-
bia fazer e ele disse que tinha sido
cozinheiro árabe; descobri que ele
tinha sido um dos melhores cozi-
nheiros da rua 25 de Março, zona
de comércio árabe na cidade de
SãoPaulo. Isso foi em1985. Foi ele
quemme ensinou toda a culinária
árabe. Ele disse que sabia fazer
esfihas abertas, que só existiam em
dois lugares. Aprendi as receitas
com ele e decidi fazer um
fast food
de comida árabe, coisa que ainda
nãoexistia.Havia restaurantes,mas
não tinham esse conceito de
rapidez e preço. Achei um ponto
na ruaCerroCorá,noSumarezinho,
e apliquei a filosofia de preço
barato – na época, o preço de um
cafezinho dava para comprar 3
esfihas. Acordava às 4 horas da
manhã e, junto commais duas ou
três pessoas, ia para a cozinha e
produzia tudo: recheio,pão, tabule.
Onze horas abria o restaurante e ia
para o salão, na parte de aten-
dimento. Trabalhava 14 a 16 horas
por dia.
CARLOSMONTEIRO
– E os outros
negócios?
ALBERTO
– Na época, só tinha o
da Cerro Corá, porquemeu esque-
ma era demontar o negócio e ven-
der. Havia também a Santa Casa e
não tinha tempo. Eu gastava pouco
“COMACAMPANHADABABYESFIHAR$0,39,TIVEMOSA
MAIORLUCRATIVIDADEDETODOSOSTEMPOS.”