Marco_2006 - page 17

Alberto
Saraiva
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M A R Ç O
/
A B R I L
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
ES
PM
ALBERTO
–Minha vida nunca foi
voltada para o ganho do dinheiro
nem para a lucratividade das
coisas. Tanto que dificilmente
faço cálculos matemáticos para
saber quanto vou ter de lucro. É
lógico que tenho esses números,
mas não é isso que pesa nas
minhas decisões. Quando coloco
a esfiha a R$ 0,39, não fico
lamentando que vou ganhar R$
0,20 a menos, mas, sim, analiso
o outro lado: a atração do cliente,
o estar atendendo a um desejo,
ampliandoo lequedepessoas que
podem gastar. Acho que naminha
vida, primeiro tive o exemplo do
meu pai. Ele veio para o Brasil
sem nada, sem perspectiva de
emprego, sem formação; veio
para tentar vencer. Quando o
imigrante é assim – sai do seu
país, vai para outro sem saber o
que vai acontecer – já há algo de
diferente nele. Essa coisa de
vencer na vida, buscar um sonho,
um caminho melhor para a
família, herdei do meu pai.
Sempre vi nele essa dedicação a
mais, porque–comoelenão tinha
cultura, escrevia e lia mal –
tentava superar-se pela quan-
tidade de horas a mais que traba-
lhava. Ele nunca chegava cedo
em casa, ou passava o sábado e
domingo sem fazer nada. Então,
isso serviu de exemplo. E também
sonhar faz parte da minha vida,
porque sonhei em ser médico.
Prestei vestibular em 6 faculdades
de medicina e não entrei em ne-
nhuma. Continuei querendo. No
segundo ano, prestei em 8 facul-
dades e não consegui. Um outro
já teria desistido. Mas eu con-
segui. Aí tranquei a matrícula no
primeiro ano, porque meu pai
tinha morrido. No terceiro ano,
tranquei novamente. Quando já
estava bem, financeiramente,
poderia ter abandonado a facul-
dade. Por isso acho que persis-
tência, determinação, acreditar
no seu sonho é uma característica
dos empreendedores bem-suce-
didos. Isso é mais importante do
que uma maneira especial de
comercializar, a ambição, ou a
busca pelo dinheiro. Sempre
sonhei em ter alguma coisa, mas
nunca fiz as coisas para ter cada
vez mais.
JR
–Quandovocêolhaessemerca-
do, o que vê –muita concorrência
oumuitas oportunidades?
ALBERTO
– Vejo muito mais opor-
tunidades no varejo – e princi-
palmentenomeuramo,alimentação.
JR
–Não é possível vender roupa,
boi, carro, outros produtos a
preços baixos?
ALBERTO
– Claro. Se aplicar essa
nossa filosofia, em qualquer ramo
vai dar certo. No meu livro, digo
que a maior herança que posso
deixar para meus filhos é ensiná-
los a vender pelo menor preço
possível.Tenhoumamigoque tem
loja de roupa em
shopping
, e só
reclamada vida. Semprepergunto
se ele não tem condição de
vender mais barato. E ele sempre
respondequenão.Umdia, ele fez
uma promoção de verão e me
disse: “Comessapromoção, vendi
tudo, acabei com o estoque,
paguei minhas dívidas e ganhei
um bom dinheiro”. Eu disse: está
vendo? Por que você não faz isso
o ano inteiro e não somente no
verão ou no inverno? O cara
vendeu barato, acabou com o
estoque, ganhou dinheiro, resol-
veu seus problemas... Aí acabou
a “promoção”, renovou o estoque
e continuou vendendo pelos
mesmos preços que vendia antes.
Ou seja, não aprendeu a lição.
Tenho sócios que estão comigohá
10ou15anos, queestãoganhando
dinheiro e até hoje, no fundo,
rejeitam a idéia de vender mais
barato. Parece uma coisa cul-
tural... Aqui, no Ragazzo, no
último fim-de-semana, já lotou.
Nós ficamos na dúvida, se comu-
nicamos ou não, ao público, ou
deixamos que ele perceba no
cardápio. De qualquer forma, o
que não vou fazer é aumentar os
preços. As pessoas passam e vêem
que aqui vão gastar R$ 4,90; se
têm R$ 20 no bolso, entram. Sem
a placa com o preço não sabem
se podem vir aqui ou não. Mas
fico na dúvida se comunico isso
ounão, porqueestounoMorumbi.
Se estivesse, por exemplo, na
Zona Leste, já teria comunicado.
JR
– Alberto, nós vamos acom-
panhar esse novo caso de sucesso
que será o Ragazzo. E queremos
agradecer a você, pois nós somos
professores da ESPM e tivemos
uma magnífica aula com você.
“TUDOCOMEÇACOMODESEJODE
VENCERNAVIDAPELASPRÓPRIASMÃOS.”
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