Marco_2006 - page 8

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R E V I S T A D A E S PM –
M A R Ç O
/
A B R I L
D E
2 0 0 6
JR
– Alberto, como se sente, sendo
português, de ser o maior em-
presáriodecomidaárabenoBrasil?
ALBERTO
– São coisas do destino.
Nem sempre o que planejamos
para nossa vida acontece.Osmeus
planos eram de ser médico, entrei
numa faculdade demedicina; toda
minha vida foi planejada para
exercer essa profissão...
JR
– Mas o seu pai era um comer-
ciante razoavelmente bem-suce-
dido. Por que você ia ser médico?
ALBERTO
– Nas minhas origens,
nunca houve alguém que tivesse
cursouniversitário, ouque sedesta-
casse, numa profissão liberal como
advogado, médico, dentista etc. E
por ser de origem humilde – nasci
numa aldeia, em Portugal –, na
família, havia o sonho de ter al-
guém que se formasse, tivesse cul-
tura, uma profissão.
JR
– Ou seja, era mais valorizado
ser médico do que comerciante.
ALBERTO
– Sem dúvida. O sonho
dos meus pais era ter um filho for-
mado emmedicina. Muitas vezes,
a escolha da profissão é deter-
minada por alguém; nem sempre
você escolhe. Meu pai pôs na
minha cabeça que eu deveria me
formar emmedicina; cresci achan-
do que queria ser médico. Como
disse, nasci em Portugal, meus pais
vieram para o Brasil quando eu
tinha seismeses, e fomosmorar no
Paraná.Quando fiz17 anos,muda-
mos para São Paulo, onde eu iria
formar-me em medicina. Ao che-
garmos, meu pai comprou uma
padaria.Tivedificuldadeparaentrar
na faculdade, poisminha formação
escolar eramuito fraca, e fiquei três
anos na fila do vestibular. Passados
19dias dacompradapadaria, hou-
ve um assalto e meu pai foi assas-
sinado. Essa tragédia mudou a
minha vida. Eu já tinha consegui-
doentrar na faculdade,mas aúnica
coisa que tínhamos era a padaria.
Tranquei a matrícula, no primeiro
ano, e fui cuidar da padaria.
JR
–Você já tinha trabalhado com
seu pai?
ALBERTO
– Quando morávamos
no Paraná, meu pai era comer-
ciante – tinha representação de
doces –, e desde os meus 13 anos,
me levava junto, nas suas visitas
de vendas.
JR
–Você se interessouporqueeram
doces ou porque era venda? E se
ele vendesse peças de automóvel?
ALBERTO
– Interessei-me pelas
duas coisas. Era agradável, ele via-
java muito e havia um pouco de
aventura. Eu era o filhomais velho.
E o meu lado de comerciante tal-
vez tenhanascidodisso.Muitas ve-
zes, quando visitávamos bares, ele
me dava um e ia ao outro. Nós
disputávamos quem venderiamais.
Como era uma freguesia antiga, o
pessoal me atendia...
JR
–Quando você assumiu a pada-
ria, teve a ajuda de seus irmãos?
ALBERTO
–Não. Eu tinha 19 anos,
emeus irmãos 12 e13 anos – eram
crianças. A padaria era velha,
ultrapassada, ficavanoBelenzinho,
bem nomeio de outras 5 padarias.
Os clientes não tinham como che-
gar à minha, sem passar pelas ou-
tras. Tive todas as dificuldades do
mundo:não tinhaequipe,não tinha
equipamento, ponto comercial,
enfim, não tinha nada. Mas foi
nessapadariaque aprendi a grande
filosofia da vida, que é vender
barato. Ou fazia isso ou não sobre-
viveria, pois não tinha outra atra-
ção: a padaria não era bonita, não
tinha produtos bons porque minha
equipeera ruim.Naépoca, opreço
do pãozinho era tabelado pela
SUNAB e os patrícios diziam que
não dava lucro. Para tentar sobre-
viver, coloquei o pãozinho 30%
mais barato do que o preço da
tabela da SUNAB emais uma pro-
moção: quem comprava 10, leva-
va12. O foco era totalmente cen-
trado no preço. A partir daí, come-
çaram a acontecer coisas que mu-
daramaminhavida. Logoapareceu
o padeiro de rua, que é aquele que
compra na padaria e vende nos
bares. Esse padeiro de rua com-
prava muito, e fui conquistando
essa freguesia. Troquei os equipa-
mentos, aequipe,melhorei aquali-
dade dos produtos. Meus concor-
rentes achavam incompreensível o
que eu estava fazendo,mas era por
necessidade. Quando baixei assim
opreço,descobriqueosmeus resul-
tados começaram a aparecer. Estou
com uma campanha da baby es-
fiha: “O zero do Habib´s baixou”.
“COLOQUEIOPÃOZINHO30%MAISBARATODOQUEOPREÇO
DATABELADASUNABEQUEMCOMPRAVA10,LEVAVA12.”
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