Marco_2007 - page 109

Mesa-
Redonda
estou-me definindo. Discordo um
poucodequehajaessaesterilidade
acadêmica de reflexão sobre o
consumo. Acho, até, que há uma
produção acadêmica imensa sobre
o consumo. Fui obrigado a fazer
esse inventário por conta de um
programademestrado–autorizado
pelaCAPES – que se chamaComu-
nicação e Práticas de Consumo.
Levantamos toda uma produção
–nacional e internacional –queme
deixouconvencidodequeoestudo
do consumo é bastante extenso.
Por exemplo: o consumo cultural é
uma forma bastante esclarecedora
sobre “quem sou” – pois não é a
mesma coisa dizer-se consumidor
de cinema iraniano e dizer-se
apreciador da música de Amado
Batista. Ao consumir certo produto
cultural, estou pedindo permissão
para pertencer a um determinado
universo de consumidores com as
mesmas características, e estou-me
diferenciandodeoutraspessoasque
não têm as mesmas inclinações de
consumo.Oconsumo, então, passa
a ser condição de uma categoriza-
ção social.Posso jogarcomaminha
reputação,comomeucapital social,
em função do consumo. Como,
então,oconsumopode serpecado?
Porque a sociedade é exigente,
castradoraem seuspertencimentos,
e – toda vez que um consumo for
desviante, inapropriadoaopertenci-
mento a um certo universo ao qual
eu desejo pertencer – serei punido
como tendomaugosto,comosendo
cafona, inadequado ou destruidor
da natureza. Por isso, consumir é
maisdoqueadquirir algooudispor
deum serviço; consumir éexistirde
umacertamaneiranomundosocial,
que vai me categorizar, classificar
e julgar em função dessas mani-
festações. Épraticamenteexistir em
sociedade.
ROBERTO
– Você já pensou na
hipótese de que o consumo – em
vezde servirparacomunicar “quem
sou” – possa ser apenas umprazer?
Porexemplo,oconsumodecomida
nãoprecisadessa longaexplicação;
o consumo de saúde também não.
O consumo de coisas essenciais,
o consumo hedonista – pelo mero
prazerdeconsumir–não temmuito
a ver com essa preocupação de
se comunicar o tempo todo. Se
formos simplificar, o consumo
fundamental é comer e dormir; o
resto é convenção.
PAULO
– Essa discussão sobre se é
pecado ou não assusta-me; porque
umdos grandesmales doBrasil é a
nossaherançacatólica,quenos leva
a complicar as coisas.Mas eu diria
que o consumo não é pecado por
uma razão muito simples: porque
o consumo não existe – são seres
humanos atendendo às suas neces-
sidades. Analisando a história da
humanidade, o que vemos são
indivíduos buscando atender às
suas necessidades, em diferentes
estágios, eoatendimentodeneces-
sidades, no contexto atual, dá-se
sob a forma de consumo.
GRACIOSO
–CreioqueoClovis eo
Paulo e o Roberto estão em campos
opostos. Paulo e Roberto associam o
“APUBLICIDADEEOMARKETINGNÃO
DEVEMSERDIRIGIDOSPARACRIANÇAS.”
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MARÇO
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ABRIL
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