Marco_2007 - page 118

Consumir é
pecado?
responsável, trabalhando a dimensão
da consciência.Mas issoultrapassa de
muitoaaçãodomarketingedacomuni-
cação;éumproblemadeeducação.Da
mesma formaqueensinamosalguém
a tereducação,cumprimentarosou-
tros, respeitar,não roubar,nãomatar,
nãopecar, temos de convencer esse
indivíduo, de que, agora, além dos
10mandamentos háo11
o
: respeitar
omeio ambiente.
MARIO
–Achei que todos iriamdizer
asmesmascoisas,sobreconsumo,con-
sumismo.Masvejoqueasdiscussões,os
pontosdevistadivergentes,sóreforçam
aminha sensaçãodequeaindapouco
seescreveueestudounessaáreadocon-
sumo.Temos luminares,pesquisadores,
profissionais domeio acadêmico, um
neurologista, com opiniões díspares.
Acho isso fascinante. Prova quemuita
coisa temde ser feita.Hácampo, tanto
nomestrado em práticas do consumo
quanto no próprio pós-graduação em
ciências do consumo, para investigar
issoa fundo.SegundoapistadoClovis,
de reforçopositivo.Lembrei-medo fato
dequenaAlemanha, por exemplo, as
pessoas têmde levara sacolaao super-
mercado.Seosupermercadodesseum
descontoparaquemlevasseasuasacola
–vejaaquantidadede sacolasque são
usadasumaveze jogadas fora– talvez
começassem amudar os hábitos. Um
reforçopositivo, àspessoas; se têmum
prêmio–comomencionouoClovis:um
elogioaoaluno,umdescontonaconta,
umdescontono IPTUquando sepinta
a fachada – tudo isso podemudar os
comportamentosemdireçãoàsustenta-
bilidade,queoRicardodefende.
ROBERTO
–Creioque essa tendência
aoconsumoresponsávelé irresistível.A
própriahistóriadoconsumolevaaoque
poderiachamardeneoepicurismo,que
é consumir demaneira responsável. A
palavra
persuasão
temamesma raizda
palavra
hedonismo
.Ohedonismoeraa
buscadoprazer aqualquer custo, e se
expressava,porexemplo,nofatodeque
osescravoseramenterradoscomosseus
senhores... Aí, foi dado aos escravos o
direitodelutarantesdesermorto,como
gladiadores. Houve os estóicos, que
achavamqueaelevaçãoespiritualvem
comosofrimento,queéuma formade
consumoresponsável.Corintoeraocen-
trodoatletismo,dosofrimento,doculto
aocorpo.Asíntesedoestoicismocontra
ohedonismoeoepicurismo.Ouseja,o
consumocomprazer,semosofrimento
deoutroserhumano.Daívieramagas-
tronomia, amaneirade se vestir –que
são conseqüências, inclusive, da vida
urbana. Na vida rural, temos de livrar-
nosdosmosquitosepiolhos... Então, o
consumo é justificável, para se ter um
mínimodeconforto,contraessascoisas.
Masachoqueoconsumo responsável,
preservando omeio ambiente, é uma
questão sódepersuasão,disseminação
doconhecimentoedoneoepicurismo,
e que já está acontecendo. Vemos
produtos que já não têmmais oCFC,
produtosquenãoengordam,alutacon-
traaobesidade, contraoalcoolismo.A
debacle
docigarroocorreuemmenos
de10anos. Era
status
antes, passoua
serpecado.Essascoisassãoexpressão
dadisseminaçãodoconhecimento,da
busca do bem-estar – e o bem-estar
incluivivernumambientepreservado,
ondeseapreciaoverde– mas issose
dáatravésdapersuasão.
RICARDO
–Queroexpressar aalegria
que senti, ao discutir com vocês um
tema tão importante. E cumprimentar
aEscolapor trazeresse temaconsumo,
inoculando em todos a necessidade
do consumo sustentável, consciente e
responsável. Este tema não podemais
sair das mesas de debate. Temos, sim,
de dedicar um “tempinho” da nossa
vida para refletir que é precisomudar:
noconsumo,naprodução,nasrelações
coletivasepessoais.Amudançacomeça
emcadaumdenós. Equeria sugerir à
Escola trazerparaseucurrículodiscipli-
nassobreconsumosustentável,porque
oque sediscutenessaEscola repercute
noBrasil inteiro.
GRACIOSO
–Pensandorealisticamente,
achoquea soluçãodesseproblemado
consumoresponsávelnãoestánospaíses
pobres;nãoestánoBrasilondemetade
dapopulação aindanão chegou aum
nível decente de consumo. Ou na
China,onde2/3aindaestãodefora;na
Índiaemque4/5aindaestãode fora.
Não se pode pedir a toda essa gente
que se negue o prazer de um banho
quente,depoisdeduashorasno trem
daCentral.A solução estános países
ricos.Restasaber–comooPaulodisse
muitobem–seconseguirãocontrariar
anaturezahumana.Pessimistamente,
prevejo que a próxima guerra mun-
dial será pelo controle das matérias-
primas. Os grandes países talvez já
perceberam que as matérias-primas
sãofinitas.Nãoémuitobonitoofuturo
que sedesenha.
JR
– Como o Gracioso tocou uma
notameiopessimista, quero apenas
levantar um aspectode ordemmais
didática. Muitas vezes, o papel de
uma escola – ou de um professor
–nãoéodecriarcertezas,mas fazer
comqueosalunos façamaspergun-
tas certas.Vocês cumpriramonosso
objetivo e espero que continuemos
a estimular os leitores da
Revista
da ESPM
– e também os alunos e
professores – a continuar a fazer as
perguntascertas, tentando respondê-
las damelhor forma.
ES
PM
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MARÇO
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ABRIL
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2007 – R E V I S T A D A E S P M
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