Marco_2007 - page 110

Consumir é
pecado?
consumoà felicidadepessoal.Quem
satisfaz uma necessidade se sente
melhor.OClovispartiuparaocampo
oposto: eu consumo para que todos
pensembemdemim...
PAULO
– Uma estrutura básica de
raciocínio que ajuda a compreender
a questão é a Escala deMaslow, que
mostra como diferentes indivíduos e
sociedadesvãoatendendoadiferentes
níveis de necessidades. As necessi-
dadesbásicasdos sereshumanos são
a proteção e a segurança.Mas a pri-
meirade todaséasobrevivência,que
implicacomeredormir;depoisvema
segurança,precisamosdehabitaçãoe
dealgum tipodeproteção...
MARIO
–Acho que estamos pondo,
nomesmo balde, vários consumos e
várias pessoas. Existe um consumo
símbolo. Quando o Roberto e o
Paulo falamde comida e proteção, é
oconjuntodenecessidadeshumanas,
queacivilizaçãoocidental,nospaíses
desenvolvidos, aparentemente su-
perou. Acho que a grande discussão
sobreconsumonãoé sobreasneces-
sidades humanas;mas, sim, sobre os
desejos.Asnecessidadeshumanassão
quase universais. “Estar com fome”
– seja no Brasil ou na África – é a
mesma coisa. Mas, quando falamos
deespecificidade–dealgoparticular
– elapassa a ser individual e infinita.
Aí entramos no “consumir é pecado,
ounãoé”,entramosnodesejo.Nisso,
tanto a esquerda convencional –União
Soviética, Alemanha, PT, xiitas e
até a igreja católica – não condena
a necessidade, o consumo básico;
condenam – se é que tem de ser
condenado – desejo. Isso está até na
origemde uma dasmaiores religiões
do planeta – que é o budismo – que
vêodesejo comoumdos 7pecados
capitais. Posso alimentar-me, como
necessidade, ou simbolicamente, no
restaurante Fasano, para que todos
vejamqueestounoFasano.
PAULO
–Qualéadiferençadodesejo
deum índioquererumacamisa igual
a um “branco” – e eu querer uma
BMW?
MARIO
–Nenhuma. Sepegarmosos
grandesautores ligadosaconsumo,de
JeanBaudrillardpara frente, isso, dos
anos60e70paracá, quandoeleera
um dos únicos. Se o Clovis verificar
toda a biografia do mestrado, verá
queé recente.Há, também,oVeblen,
considerado como uma das grandes
referênciasdoconsumo.
RICARDO
– Nos jornais deste fim
de semana –
Folha
e
O Estado
– as
manchetes de primeira página, com
cadernos especiais, foram sobre o
aquecimento global. Será que nós
– que fazemos parte da elite bra-
sileira – ao ler isto no jornal, nos
assustamos?Seráquedizemos: “Eu,
comoprofissional, tenho a ver com
o aquecimento global”?
PAULO
– Por que você acha que
milhões de pobres chineses querem
sair das áreas rurais emigrar para as
cidades, para ter trabalho, consumir
e viver melhor? Ao fazer isso, eles
precisam comprar e – ao fazer isso
– destroem o meio ambiente. São
duas discussões diferentes: uma é a
motivação do indivíduo e a outra o
que issopodecausar.
RICARDO
–Não!Trata-seda respon-
sabilidade de cada um. Há muito
tempoestouenvolvidocomaquestão
da sustentabilidade. Este tipodecon-
sumo–por impulso– temdemudar.
A formadeconsumir temdemudar.O
consumo é apontados processos de
“CONSUMONÃOEXISTE – SÃO
SERESHUMANOSATENDENDO
ÀSSUASNECESSIDADES.”
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MARÇO
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ABRIL
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