Marco_2007 - page 114

Consumir é
pecado?
uma pessoa cujo comportamento se
manifestaatravésdocartãodecrédito,
depoiselevaiaocinema,depoisaosu-
permercado,abasteceocarro... Todo
fimde ano saiode férias eprocuro ir
a locais incomuns, para tentar com-
preendermais as pessoas, aculturae
o comportamento humano. Logo se
percebequeexistealgocomumentre
as diferentes coletividades, que são
indivíduos procurando desenvolver
e melhorar a sua condição de vida.
Isso fazpartedanaturezahumana.O
homemsempre irábuscaressedesen-
volvimento.ORicardo fazodiscurso
político da mudança, até concordo
com você. AChina, por exemplo, se
existeum fator paradetê-la, éomeio
ambiente.Sóquepromovermudança
passa por uma compreensão muito
claradoque sejaomodobásicodos
indivíduos.
ROBERTO
–Aquela cidade no Piauí
– onde foi lançado o fome zero.
Depois de lançado o programa, na
cidade-símbolo,fizeramumapesquisa
sobre outras coisas que a população
desejava.Deudoisresultados:umaes-
taçãode rádioeum salãodebeleza.
PAULO
– O Roberto falou da pasta
de dente, lembrei-me de quando
comeceiaestudar–oxampu,erauma
parcelamuito pequena da sociedade
que usava. Essas coisas são simples.
Como se propagam? Pelomarketing,
pela forçaavassaladoradomarketing?
Não. Propagam-se porque a pessoa
acaba descobrindo que o cheiro de
umabocaescovadacomcremedental
émelhordoqueocheirodeumaboca
sem creme dental. O cara descobre
queapessoaaoseulado,queusadeso-
dorante,émaisagradáveldoqueuma
quenãousa.Então temosdeentender
a origem do processo para escolher
direitooalvo,porquesenãonóséque
seremos o alvo... Focar apropostada
mudançanomarketing, noconsumo,
está errado, porque há outra coisa
por trás, que é o indivíduo buscando
atender às suasnecessidades.
JEAN
– Pecado – por definição
teológica – é errar o alvo. Então
quando o consumo erra o alvo, ele
está pecando.
JR
–Eoconsumidor?
JEAN
–Oconsumidorpode ter cons-
ciênciadoerroounão. Interessasaber
seoprodutoqueeleestáusando tem
issoouaquiloe iráprejudicaromeio
ambiente. Trata-se de lidar com uma
culturade todaapopulação.
PAULO
–Mas não éumproblemade
marketing;éumproblemadeeducação
do indivíduo,quecomeçanaescola.Se
não conseguirmos entender osmodos
básicos do comportamento humano,
ficamos sem saber onde agir, e vamos
proporumaaçãoemcimadealgoque
éconseqüência e não causa.
GRACIOSO
–Secruzarmosacurva
do índicedequalidadedevidacom
acurvadoconsumodos vários paí-
ses, veremosqueelas sãoparalelas.
É óbvio: quanto mais se consome,
melhor se vive.Apropensão a con-
sumir não tem limite e consumir
cadavezmais–oqueéopiorde tudo
– fazpartedanaturezahumana.Seria
possível,em teoria, levarosvaloresde
uma sociedade a prezar o consumo
de coisas que não ajudam o meio
ambiente. Mas, repito, isso é função
deumaditadura.
JEAN
–Eumorei naFrançae láexiste
umaditaduracultural.Aqui –quando
abrimosa
Folha
,
OEstadodeS.Paulo
– vemos, nomesmo jornal, diversas
linhas de pensamento. Quando se
abre o
Le Monde
na França, é a
mesma linha, é fluido. Isso é uma
ditaduradepensamento.
MARIO
–Nóstemosopapelreciclado,
eécoisaqueoconsumidor aceita.O
Estado deu, no domingo, notícia so-
bre um “casamento sustentável”, no
parqueTrianon,comoalgoquegerou
status
.Aspessoasachamomáximoo
talão de cheques de papel reciclável
do banco Real, embora a maioria
não saibaoque é sustentabilidade. Se
pudermosofertarprodutospoliticamente
“ADEBACLEDO
CIGARROOCORREU
EMMENOSDE 10
ANOS.”
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MARÇO
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ABRIL
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