Marco_2007 - page 112

Consumir é
pecado?
específicas. O pessoal de marketing
sabedisso.Outracoisaéaassociação.
Por exemplo, o cheiro é estimulante
paraassociar idéias.Comoquando
vocês criam um anúncio, associ-
andoCoca-Colacommodernidade,
sol, verão etc.
CLOVIS
–Vou insistir: uma senhora
que entra na H. Stern para comprar
uma jóiaé regidapelomesmoprincí-
pio da necessidade que uma pessoa
que sealimenta.
MARIO
–Mas não é necessidade;
é desejo.
CLOVIS
–Necessidade, em filoso-
fia, querdizer: aquiloqueacontece
necessariamente.
MARIO
–Necessidade humana – sob
o ponto de vista comportamental – é
aquiloqueéessencialparasobrevivên-
ciabiopsíquica. Jóiassãodesejos.
JR
– Acho respeitável a posição do
Clovis, mas acho também que no
nosso meio – do marketing – fazer
distinçãoentrenecessidadeedesejo
é até uma necessidade nossa, de
ordemprática.
MARIO
–Agrandepráticapara saber
onde terminaanecessidadeecomeça
odesejo, em tese, está ligadaaonão.
Primeiro lugar,necessidadessãosatis-
feitasedesejossãoatendidos.Sevocê
está com febre de 40 graus, precisa
deumantibiótico, dear fresco, sono,
água, alimento, família...Hácidades,
no Brasil, em que as pessoas têm
DVD,antenaparabólicaenão têmum
planodeassistênciamédicadeR$30
mensais. Isto inverte completamente
Maslow. Se não satisfizer minhas
necessidades, sofro e até morro. Se
eu não saciar desejos, o máximo
que acontece é frustração, em graus
maiores oumenores. Aí talvez entre
a comunicação, para gerar um sofri-
mento artificial maior nas pessoas se
elasnão saciaremdesejos.Mas issoé
induzidopelomeio,pelacultura,pela
comunicação.
JR
– OGracioso e eu entrevistamos
o Georges Chetochine – que é uma
autoridadeemconsumo–eeledisse
algo que pode ajudar. Ele disse que,
como profissional demarketing, tem
respeito ao marketing como técnica
– e que essa técnica vem evoluindo.
Eleachaqueomarketing responsável
é o futuro do marketing e que nós,
nas escolas, temos a obrigação de
contribuir para isso. Mas eu gostaria
de lembrar que marketing – como
cirurgia, siderurgiaoumarcenaria–é
um conjunto de técnicas. Por si, não
écapazdeescolhervalores;quem faz
aopção sãoosprofissionais.
GRACIOSO
–Devíamos tentardefinir
o que é marketing responsável. A
ChinaestámilanosatrásdosEUAem
sofisticaçãodeconsumo.Eticamente,
nãohárazãoparaqueoschinesesnão
desfrutemdomesmoconfortoqueos
americanos.Quempodenegar issoa
eles?Omarketingqueprocuradeses-
timularoconsumodoqueésupérfluo
pode ser responsável nos EUAouna
rua Oscar Freire, mas não será na
China ou na rua 25 deMarço. Não
podemosculparmilhõesdebrasileiros
– que estão agora descobrindo a pri-
meiraTV, a primeira geladeira – pelo
usodematérias-primasque fazemmal
aoambiente.
RICARDO
– Acontece que ago-
ra é o momento, sim, de mudar
essa consciência, esse jeito de fazer.
Atualmente, um chinês que falar de
política não será preso; mas se falar
emdegradaçãodoambiente,épreso,
“FAZ-SEUMACERTACONFUSÃO
ENTRECONSUMOECONSUMISMO.”
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MARÇO
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ABRIL
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