Janeiro_2008 - page 48

Entrevista
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R E V I S T A D A E S P M –
JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2008
REVISTADA ESPM
–Você acha que
as empresas têm razão de dar tanta
ênfase aos aspectos comportamentais
e psicológicos ao selecionar jovens
candidatosacargosexecutivos?
MAX
–As empresas –principalmente
asgrandes,queatraemmais interessa-
dos – estão tentando administrar uma
situaçãoqueécaracterísticadoséculo
XXI:umaenxurradadecurrículospara
poucasvagasdisponíveis.Então,oque
um dia foi chamado de ‘processo de
seleção’ acabou se transformandoem
‘processodeeliminação’.
Ao receber os currículos, as empresas
começam eliminando os candidatos
que não têm curso superior. Depois,
entre os que têm, eliminam os que
não se formaram em uma instituição
de renome. Em seguida, peneiram os
que não possuem MBA ou quali-
ficações adicionais consideradas
indispensáveis, como inglês fluente
e conhecimentos de informática.
Mesmo assim, sobram dezenas de
candidatos para uma vaga.
O passo seguinte é partir para a ava-
liação comportamental. Há casos de
“dinâmicasdegrupo”quese tornaram
folclóricas: entender como, exata-
mente,carregarumovonumacolher,
escolher a frase que constará em sua
lápide, oudecidir que bicho gostaria
de ser, poderá terqualquer influência
nodesempenhoprofissional... Porém
– excessos à parte – a verdade é que
um cargo absolutamente normal
–caixadebanco,porexemplo–reque-
ria 3mil horas de estudo, na década
de1970 (odito “ginasial completo”).
Hoje, para amesma função – e para
um salárioequivalenteaode30anos
atrás – sãonecessárias11mil horas.
Não porque as empresas decidiram
que seriaassim,masporqueospos-
tulantesàsvagas semostramdispos-
tosaaceitá-las,mesmosabendoque
suaescolaridadevaimuitoalémdos
pré-requisitos para o desempenho
da função.
Emresumo,ofunilficoumuitomaises-
treito.Nunca tivemos tantos jovens tão
bem formados, e, proporcionalmente,
nunca tivemos tãopoucas vagas para
jovensbem formados.
REVISTADAESPM
– Imaginandoque
esses critérios de seleçãonãomudem
no futuro, que recomendações você
dariaàsuniversidadese faculdades?
MAX
– Tentar, na medida do pos-
sível, adaptar o currículo acadêmico
às necessidades da vida profissional.
Umexemplo.Praticamente,nenhuma
faculdadeofereceaOratóriacomodis-
ciplina.Mas,nomercadode trabalho,
a conversação ocupa pelo menos
80% do tempo de um profissional. É
através da palavra falada que ele faz
apresentações, expõe idéias, defende
posições, constrói seumarketing pes-
soal e influencia decisões de colegas
–queéoprimeiropassoparacomeçar
aescalarumorganograma.
REVISTA DA ESPM
– Significa que
as escolas deveriam enfatizar menos
a formação técnico-profissional, em
favor de mais ênfase em atitudes e
comportamento?
MAX
–Sim,seelasrealmentequiserem
prepararprofissionaisparaomercado.
O conhecimento técnico é indispen-
sável para quem quer entrar em uma
boaempresa.Mas,parasemanternela,
eascendernacarreira,umprofissional
precisademonstrarqueéhábiltambém
nessas “atitudes comportamentais”,
amaioria das quais – de fato – não é
ensinadaemescolas.
REVISTA DA ESPM
– E depois de
contratar o candidato, como a em-
presa deveria agir? Deveria investir
maisemoutroscursos,paracompletar
a formação, ou deveria confiar no
aprendizadoprático, nodesempenho
daprópria função?
MAX
–Muitasempresas jásearrepen-
deram de financiar, para seus empre-
gados, cursosquepoderiamajudá-los
amudardeemprego.Asgrandescon-
AORECEBEROSCURRÍCULOS, AS
EMPRESASCOMEÇAMELIMINANDO
OSCANDIDATOSQUENÃOTÊM
CURSOSUPERIOR.
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