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JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
Célia
Marcondes Ferraz
esde o início do processo de indus-
trialização, empresas têm-se juntado
às instituições de ensino no esforço
de formarpessoas, emboranem sem-
pre tenham trabalhado juntas e de
forma harmoniosa. Não são poucas
ascríticas feitasàqualidadedoensino
no Brasil, e mesmo em países onde
o ensino é de excelente qualidade,
comonaEuropaenosEstadosUnidos,
são expressivos os investimentos em
formaçãodepessoas feitospelo setor
produtivo.
O objetivo das empresas em relação
ao tema sempre foi manifestado de
forma clara: era preciso preparar os
trabalhadores para executar funções
operacionaisepromoverodesenvolvi-
mento das habilidades necessárias à
realizaçãodasatividadesprofissionais.
Mais recentemente, os investimentos
na formação de pessoas se voltaram
paraodesenvolvimentodecompetên-
cias importantes para o negócio, e
na busca de atitudes adequadas ao
mundodo trabalho.
Já em 1920 a Ford possuía três es-
colas totalmente mantidas por ela
e, além de ensino, ofereciam bolsas
de estudos em dinheiro. A primeira,
denominada escola Ford, era desti-
nadaaosfilhosdosempregadoseaos
órfãos, revelando, jánaquelaépoca,a
consciência da benéfica cooperação
comopoder públicopara formar ci-
dadãos.Aescoladoserviçopreparava
estudantesestrangeirospara trabalhar
nas sucursais da companhia, e a es-
cola de aprendizagem era voltada à
formação de ferramenteiros, em um
cursocomduraçãode trêsanos, com
aulas durante oito horas diárias. O
alunoestudavanosmanuaisdaForde
os instrutoresdasunidades industriais
assumiam o papel de professores. O
tempo de aprendizado era dividido
entre as salas de aula e os estágios
nas fábricas.
Certamente uma iniciativa louvável,
não fosse pelo fato de que a visão
de mundo oferecida aos alunos era
apenas e tão-somente aquela de
um ponto de vista da empresa. Ao
mesmo tempo em que admiramos
as escolas da Ford, não podemos
deixar deperguntar seconteúdos tais
como: a formação moral, a história
e a literatura, que representam parte
essencial da cultura de um povo,
constavam dos seus currículos. Um
processode formação extremamente
direcionadoao trabalho,eministrado
por profissionais do terreno, até que
ponto tem legitimidade, dispõe dos
conhecimentos e tem propriedade
para formar cidadãos?
Por outro lado, é bem verdade que,
nessamesma época, o ensinobásico
daquase totalidadedospaíses, assim
comodoGrupoEscolareoGinásiono
Brasil, não estavamde forma alguma
voltados à formaçãode pessoas para
as empresas. O preparo pessoal exi-
gido pelas fábricas era, contudo, até
certo ponto superficial. Os preceitos
da administração preconizados por
Taylor, Fayol e também por Ford,
recomendavam que, para operar de
formaeficaz, as funçõesempresariais
deveriam ser executadas separada-
mente, por trabalhadores diferentes,
sendo que aquele que produzisse
não deveria planejar, registrar, ou
controlar e vice-versa. Competia aos
trabalhadoresdaproduçãomanejaras
máquinas,eaossupervisoresde linha
controlar,garantindooritmodesejado.
O conhecimento sobre as diferentes
atividades empresariais era, portanto,
fragmentado, e as tarefas simplifica-
das, permitindo que a qualificação
demandada dos trabalhadores fosse
muitopouca.
No Brasil, a criação do SENAI, em
1942, foiuma respostaànecessidade
de formação de mão-de-obra, para
atender às demandas do crescente
desenvolvimento industrial, agravada
pela Segunda Guerra Mundial. A
iniciativa representou uma evidência
dequeo sistemadeensinooferecido
pelos grupos escolares, e atémesmo
pelos ginásios, não qualificava, ade-
quadamente, profissionais parao tra-
balho.Deveriacaber aoEstadoa for-
maçãodepessoas para as indústrias?
Esta dúvida fez parte das discussões
da época e, talvez por reconhecer
sua responsabilidade no processo, o
SENAI foi organizado com o apoio
do Estado, embora tenham sido in-
dustriais liderados por Euvaldo Lodi,
naépoca,presidentedaConfederação
Nacional da Indústria (CNI), e por
RobertoSimonsen,oentãopresidente
daFederaçãodas IndústriasdoEstado
deSãoPaulo (FIESP),que idealizaram
e defenderam, entre o empresariado
e o poder público, a iniciativa de
viabilizar uma entidade voltada para
a educação profissional, mantida,
administrada e dirigida pelo próprio
setor produtivo.
Nofinal dos anos cinquentas, com a
introduçãodasmáquinasdecontrole
numérico, a produção se tornamais
sofisticada e há uma demanda por
profissionaiscommaiorqualificação.
O SENAI, embora necessário, não
é mais suficiente, e são muitas as
empresas que criam seus próprios
departamentosparao treinamentodos
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