Janeiro_2007 - page 47

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R E V I S T A D A E S P M –
JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2007
Entrevista
ele. Um cidadão que, de fato,
favoreça o socialismo, não vai
reduzir a produção do petróleo,
para aumentar o preço, gerando
exatamenteuma criseque vai afe-
tar, fundamentalmente, os países
pobres. Mas também os pobres
dohemisférionorteespecialmente
para enfrentar o frio do inverno, o
rico não tem problemas. Esta era
a técnica mais elementar, que se
utilizava no séculoXIX: “se quero
ganharmais eu reduzoaprodução
paraqueopreço aumente”. Então
eleéumcapitalista selvagem, sem
controle, dizendo-se socialista.
Esses discursos não me impres-
sionaram muito, são para gerar
votos epopularidade, não significa
que sejaoqueelespensam.Agora,
sobre o papel do Estado, noBrasil
–comesseprotecionismo–oelei-
tor acomodou-se a uma situação
em que cabe ao Estado resolver
tudo. Por exemplo, Bolsa Família
éuma formade incentivo aoócio,
apesar do aspecto social positivo,
mas é assistencialista. Outro dia,
soubedeumcaso interessante: um
zelador deprédioemPernambuco
pediu demissão dizendo: “Não
queromais ser zelador. Fizaconta
e, se eu continuar trabalhando
aqui, não ganho a Bolsa Família e
nem a Bolsa Escola; com os filhos
que tenho, eu vou ganhar mais
estando desempregado do que se
eu estivesse trabalhando”. E fez
as contas no papel. Na prática,
nós ainda temos amentalidadede
esperar tudodoEstado. Issovai ter
demudar, pois a competitividade
internacional está sendo de tal
ordem, que não adianta: ou você
se insere no mundo ou vai ficar
para trás.Vejaonossocrescimento
pífio nesses últimos anos.
JR
– Isso não tem ligação, tam-
bém, com o problema ético can-
dente nosso, que é a questão da
corrupção – afinal de contas, a
corrupção começa no Estado ou
começa na empresa?
IVES GANDRA
– Necessari-
amente, começa no Estado. Se
houvesseumEstadoenxuto, have-
riamenos corrupção; quantomais
mastodonte for o Estado, mais
corrupção, porque tudo se faz à
base de corrupção. Aliás, eu não
chamo a isso de corrupção, mas
sim de “concussão”.
JR
– Qual a diferença?
IVES GANDRA
– Na verdade,
nós vivemos mais em função de
concussão do que de corrupção.
Na corrupção, o agente público é
o sujeito passivo; o sujeito ativo é
o agente; na concussão, o sujeito
ativo é o agente público e o ci-
dadão éo sujeitopassivo, quenão
tem alternativa. Se você precisa
de um determinado documento e
lhedizem: “só lhedou se vocême
der tanto, senão vai demorar três
meses” – você não tem escolha.
Isso se chama, em Direito Penal
de concussão. Hoje, no Brasil, a
concussão é muito maior do que
a corrupção porque praticamente
tudoandaàbasedeumacomissão
aqui, uma gorjeta lá etc. E estou
falando na micro-administração
porque – quando se chega na
macro – veja todos os relatórios,
esse ano, sobre superfaturamento;
só podem levar à conclusão de
que boa parte dos recursos foram
destinados aos administradores
públicos. Não sei se você chegou
a ler, há alguns dias, o relatórioda
Heritage Foundation
, e eles põem
o Brasil em sexagésimo segundo
lugar em relação ao item cor-
rupção, entreos centoecinqüenta
e oito países pesquisados.
JR
– Não era uma questão de per-
cepção de corrupção? Creio que
cheguei a escrever sobre isso...
IVES GANDRA
– Percepção de
corrupção por parte dos em-
presários. Porque, na verdade,
você só pode definir a cor-
rupção por percepção, já que
não há registro.
JR
– Lembro-me de que o co-
mentário que me ocorreu foi,
justamente, que o Brasil não es-
tavanem entreosmelhores enem
entre os piores: estava nomeio.
IVES GANDRA
– Sim, mas em
relação aos outros emergentes
nós estamosmal –oChile está em
décimoprimeiroenós estamos em
sexagésimo segundo. Estou con-
vencido, no casodoBrasil, deque
nós ainda temos de evoluirmuito;
chego a achar que nós só temos
um problema, que é o tamanho
do Estado; no dia em que você
reduzir o tamanhodoEstado, você
não vai eliminar a corrupção, não
vai eliminar a concussão, mas vai
reduzi-las sensivelmente. A Inter-
national FiscalAssociation,maior
entidade tributária do mundo,
afirma que existe uma regra ele-
mentar: quanto maior a carga
tributária, maior a sonegação,
maior a corrupção; quantomenor
a carga tributária, menores tanto
uma como outra.
JR
– Uma correlação perfeita.
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