Janeiro_2007 - page 48

Ives
Gandra
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JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2007 – R E V I S T A D A E S P M
IVESGANDRA
–Quando sediz“pre-
cisamos reduzir a carga tributária”,
deve-se refletir que, se não reduzir
acargaburocrática,nãovou reduzir
nuncaacarga tributária–e issoestá
vinculado à ética. Quando o ci-
dadão–aquiloqueemDireitoPenal
sechamadeEstadodeNecessidade
– não tem outra alternativa senão
se se admite até amorte por estado
de necessidade, isso é admitido
como um ato de sobrevivência, ou
o roubo em Estado de necessidade
comprovado, também.Naverdade,
se nós nãodiminuirmos o tamanho
do Estado – estou absolutamente
convencido – o Brasil vai ser um
país marginalizado. Thomas L.
Friedman, no seu livro, mostra um
dadoque, em1992, a Índia era um
Estado absolutamente semelhante
ao brasileiro; mas começaram a
ganhar eficiência, porque depois
de diminuída a “máquina”, todos
os outros setores melhoraram. No
Brasil, não se tem a mentalidade
de servidor público, não há car-
reiras públicas, a não ser algumas
comomagistrados, militares, corpo
diplomático etc. A máquina está
inchada, não só por concursos pú-
blicos,maspelos “amigosdos reis”,
aquelesquevãoconseguindo.Claro
que isto prejudica muito a ética
empresarial por que as empresas
sãoobrigadas a fazer determinados
acordos, senão não sobrevivem. O
que chamo de concussão está no
Código Penal Brasileiro. Voltando
à religiosidade, o Cidadão, em-
presário que tiver uma formação
religiosa e uma formação ética terá
mais condições de fazer as opções
certas e – ao mesmo tempo – de
expor menos a empresa, do que
aquele que não tem escrúpulos e
não tem limites. Porque há outro
dadoque temde ser levadoemcon-
sideração: muitas vezes nessa luta
por competitividade, do “vou cor-
romper, vou comprar, tudo é válido
etc.”, vão sedeixando rastros queo
MinistérioPúblicoouumafiscaliza-
ção pegando, podem destruir uma
empresa. Há casos recentes, nos
EstadosUnidos,daArthurAndersen,
que eraumadasmaiores auditorias
do mundo e desapareceu por ter
dado um laudo incorreto no caso
da Enron. A ousadia muito grande
nacompetição semescrúpulodeixa
rastro e tornamais vulnerável.
JR
–MasvocêestácitandoosEstados
Unidos. E aqui?
IVESGANDRA
– No Brasil também,
a toda hora há demonstrações de
empresas, que resolveram ser mais
ousadas e quando se descobre...
– temosumcaso recentenoTribunal
Regional deumaempresa seríssima
e respeitada...
JR
– Eu tinha um tio que dizia:
“Olha meu filho, é melhor ser
honesto, nem que seja por malan-
dragem”.
IVESGANDRA
–Émuitopossívelque,
sob certas circunstâncias, a maior
falta de ética é ser ético, porque se
você leva uma vantagem enorme,
todas as ponderações são feitas
medindo riscos e refletindo: “se eu
não posso deixar de concorrer, é a
regrado jogo, nãohácomo”, então
é um caso de concussão. Agora, se
euposso adotar critérios que sejam
de competitividade, de valorização
– não só nas relações de competi-
tividade, mas também nas relações
sociais com os empregados. Hoje,
um dos grandes problemas que se
colocaéexatamenteessaconvivên-
ciacomoempregado;oempregado
não é uma peça de uma máquina,
mas um cidadão, com formação
ética e religiosa...
JR
– Acho importante esse seu ex-
emplo, porque expressa sua confi-
ança no poder do indivíduo de, de
fato, influenciar as coisas – através
da suaconvicção, da suaética, das
suas crenças...
IVESGANDRA
– Estou convencido
disso.Eununca tiveambiçõespolíti-
cas. Fui presidente de um partido
político, o PL, até 1965. Depois do
Ato Constitucional n
o
2, o PL, aqui
emSãoPaulo, nuncamaisfizpolíti-
ca; fui convidado para Ministro,
SecretáriodeEstado, SecretarioMu-
nicipal,nãoaceitei; convidaram-me
paraDesembargador,naépocaerao
Tribunalqueconvidava,nãoaceitei.
Queriam que eu saísse candidato à
Senador, eunão aceitei porquenão
soupolítico,mas apenas advogado;
tenho consciência, gosto de lecio-
nar, gosto da reflexão política – e
sendoumcidadãocommentalidade
social, escrevo permanentemente
em jornais da cidade...
“NAMÁFIA, SEVOCÊDEIXAR
DESER LEAL, VOCÊÉMORTO.”
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