Janeiro_2007 - page 46

Ives
Gandra
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JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2007 – R E V I S T A D A E S P M
e, emminha opinião, se estende
por falta de valores – na medida
em que você tem capacidade de
enfrentar com valores, você dá
um instrumento da pessoa poder
desistir; no momento que você
diz que “Deus não existe, tudo é
válido...” É evidente.
JR
– Nosso grandemaestro,Tom Jo-
bim,recentementefalecidodiziameio
brincandomeio sério que “no Brasil
tudo se perdoa, menos o sucesso”.
O nosso Presidente, por exemplo,
valoriza os pobrezinhos e critica as
elites.Mas,arigor,eliteéoqueháde
melhornasociedadeepobreéo
carente,oquedeixadeteral-
gumacoisa.Lembra-sedo
livro
Opaís
dos coita-
dinhos
do
Emil Fa-
rah? Será
que nós
estamos
condena-
dosao fra-
casso?
IVESGANDRA
–Acho
que não. Mas vamos
levar mais tempo, porque
temos uma sériededistorções
na concepção do Estado, no
Brasil.OqueoPresidenteLuladiz,
elenecessariamente,nãoacredita,
não acredita mesmo. Mas o fato
é que, no Brasil, sempre damos
muita importância ao papel do
EstadoProtetor–oBrasilnão tinha
povoe já tinhadivisão territorial e
capitanias hereditárias.
JR
–Umaadministraçãoqueprece-
deu a povoação.
IVESGANDRA
– Tanto é verdade,
que namaioria dos estados você
é chamado de “cidadão” e, aqui
no Brasil, de “administrado”. No
nossoDireitovocênãoécidadão,
você é administrado, há um ad-
ministrador público e você é
administradoporele.Osadminis-
tradores públicos são os donos
do poder sobre quem o Faoro
escreveu. Isto levaaumdiscurso
que nem sempre corresponde à
realidade. O Lula sabe perfeita-
menteque, semaselites, elenão
vive.Qual éapolíticamonetária
do Lula paramanter o superávit
primário? É uma política que só
beneficia quem tem capital, os
mais beneficiados do governo
do Lula são os que têm capital
e – emminha opinião – corre-
tamente; se ele não fizesse uma
política monetária assim, nós
não conseguiríamos baixar
o risco-Brasil. Mas ele
quer convi-
ver com to-
dos – com
os radicais
do MST,
com os bu-
rocratas do
PT (que fa-
zem com
que a má-
quina adminis-
trativa não se reduza
nunca) e com todas as
classes empresariais. O Fur-
lan é um homem de empresa,
o Meirelles é banqueiro, foi
presidente do Banco de Boston.
Então, na prática, o discurso é
popular. Mas as ações têm tido
certa sensatez.VejaqueoLulaé
convidado ao Fórum de Davos
e o Hugo Chavez não, porque
irá lá fazer políticapois não têm
o que dizer. Na prática, não há
capitalista mais selvagem do
que o Chavez nem cidadão
mais inimigo do povo do que
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