Janeiro_2007 - page 45

64
R E V I S T A D A E S P M –
JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2007
Entrevista
características de Máfia; o concor-
rente era eliminado fisicamente – a
construçãodas estradas, os grandes
impérios. Foram aparecendo os
princípios; da competitividade, as
leis antitruste etc. Começa a haver
regras de convívio. Nós, no nosso
instituto, temosapreocupaçãocom
adeontologia, para ir conformando
princípios; há regras que têmde ser
seguidas. Que se busque o lucro,
nem há dúvida, mas dentro de de-
terminadas regras.OqueéaOMC,
por exemplo, senão uma forma de
regulamentar a competitividade
internacional, para assegurar que
não haja procedimentos desleais,
nocomércioenaconcorrência?Ad-
mito que não é um problema fácil,
mashá sinalizaçõesdequeo século
XXI será melhor do que o século
XX, e ambos incomensuravelmente
melhores do que o que tivemos no
século XIX – e sem nenhum tipo
de comparação com a situação na
IdadeMédia.
JR
–Quer dizer quevocêéotimista
em relação ao futuro?
IVES GANDRA
– Eu não sou
otimista em relação ao futuro
próximo por essas razões, mas
por um outro tipo de razão: é que
teremos de enfrentar problemas
convivenciais que superam os
problemas das empresas, que são
os problemas das culturas dos
povos – em nível empresarial.
Diz-se que “Frei Exemplo é o
melhor pregador”, quer dizer: o
cidadão que não dá o exemplo
não pode dizer aos outros o que
fazer. Os próprios empresários
que começam a exigir esse tipo
de responsabilidade sentem que
elesprópriosdevem ser confiáveis,
sendo os primeiros a dar o exem-
plo. Como se dissessem: “estamos
investindo na sua capacidade de
gerar novidades, tecnologia etc.,
para progredir, e não no sentido
de práticas desleais”. Até porque
aspráticasdesleais, quandodesco-
bertas, podem acabar com uma
empresa, como aconteceu re-
centemente, nos Estados Unidos
e também aqui no Brasil. E eu
considero a ética – como disse
no início – extremamente vincu-
lada a uma religiosidade. Acho
que os princípios gerais que hoje
norteiam as ações empresariais
são princípios de que todos têm
consciência – e são melhores em
relação aos do passado – mas há
problemas bem complexos da
internacionalização, daglobaliza-
ção: das diferenças entre salários
por exemplo. Na obra de Thomas
Friedman,
Omundo é plano
, ele
mostracomo secontratam serviços
emão-de-obra na Índia para fazer
trabalhos nos Estados Unidos,
como declarações de imposto de
renda individuais etc., por um
quinto do valor. E é indiscutível
que a automação reduz a mão-
de-obra. Por mais que se diga “as
soluções serão encontradas”Com
o mundo de habitantes que nós
temos, fica cada vez mais difícil
essa convivência entre os países
desenvolvidos e os demais.
JR
–Você está falando a partir de
uma visãomacro...
IVES GANDRA
– Sim. No nível
das empresas, tenho a impressão
que tenha havido uma evolução
razoável. Vou-lhe oferecer três
livros que fazem parte de uma tri-
logia que eu escrevi –
Uma visão
domundo Contemporâneo, A era
das contradições e A queda dos
mitos econômicos.
Em 1996, eu até
previaalgo semelhanteaoqueacon-
teceu com as duas torres, o segundo
é de 2.000 e o terceiro de 2004 em
queeuprocuroexpor umavisãoma-
cromundial dessa sériedeproblemas
edificuldades como, por exemplo, o
narcotráfico. Por mais que se com-
bata, ele cada vez se
estende mais
“PAULODIZ: “NUNCAPRECISEI
DEIXARDETRABALHARPARAVIVER.”
1...,35,36,37,38,39,40,41,42,43,44 46,47,48,49,50,51,52,53,54,55,...121
Powered by FlippingBook