Marco_2008 - page 128

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R E V I S T A D A E S P M –
MARÇO
/
ABRIL
DE
2008
As estruturas e
George Smith
ter o mesmo destino do irmão.
Tomou, naquele momento, uma
decisão admirável: a de que não
ia morrer nunca. Partiu, então,
em busca da imortalidade.
Gilgamesh saiuàprocuradeUtna-
pishtim, o sobrevivente imortal
de uma grande catástrofe, que
podia lhe revelar o segredo da
vida eterna. Na sua busca, passou
por provas terríveis. Pelomedoda
noite, pela ilusão da felicidade
na terra. Mas não desistiu. Estava
a ponto de descobrir o paradeiro
deUtnapshtim, quando ahistória,
bruscamente, se interrompia.
A narrativa da 11
a
tábua, que tanta
surpresa tinha causado a Smith,
começava com os deuses conde-
nando os homens, “os mortais da
terra corrupta”, e cessava. O
começo da tábua revelava
oselementosconhecidos.
Mas não era possível
ler mais do que al-
gumas linhas. Limo
endurecidoencobria
a maior parte da es-
crita e o restaurador
oficial do Museu,
Robert Ready, estava
de férias. Além disto,
a tábua estava danifi-
cada. Não ia além da
décima sétima linha.
Smithmal podia conter a
irritação. Intuíraa seqüência
da epopéia porque as estrutu-
ras, sejam as da ficção ou as da
realidade, contêm uma constante
não observável por comparação e
abstração das semelhanças e dife-
renças. Esta constante estrutural é
desvelada mediante a aplicação à
realidade de uma regra de trans-
formação, uma regra que reduz as
diferenças observáveis a elemen-
tos de uma mesma combinatória.
Tendo apreendido a regra e, por-
tanto, sendo capaz de perceber o
ComaajudadoDailyTelegraphecomuma
licença de seis meses dada pelo Museu
Britânico, Smith chegou a Constantinopla
em 1873.
que viria a seguir no relato, Smith,
impaciente, aguardou que Ready
voltasse e limpasse o fragmento.
Mas de nada adiantou. Faltavam
as linhas que lhe dariam a certeza.
Faltava a prova.
Nestepontocomeçaumepisódioex-
ternoàepopéiadeGilgamesh.Desen-
volve-seumaoutraestrutura,umaoutra
saga, a sagadeGeorgeSmith.
Ele não era um arqueólogo, mas
um simples gravador que tinha
abandonado os estudos formais
por dificuldades econômicas aos
14 anos de idade. A decifração
começaraparaelecomoumhobby.
Conhecera, por acaso, em uma
visita ao Museu Britânico na hora
do almoço, Sir. Austen Layard, o
arqueólogoqueanosantes trouxera
paraLondresas tábuasdaBiblioteca
deAssurbanipal.Namesmaocasião,
Smith conhecera Sir. Henry Rawli-
son, o decifrador da escrita cunei-
forme. Ambos se surpreenderam
com seus conhecimentos.
Google Images
AepopéiadeGilgameshé
múltipla, mas não no sentido
dasMil eumaNoites, que são vários
contos que seentrelaçamemum só.
É uma história que se encaixa em si
mesma, como as bonecas russas.
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