Marco_2008 - page 131

137
MARÇO
/
ABRIL
DE
2008 – R E V I S T A D A E S P M
HermanoRoberto
Thiry-Cherques
que designa as relações constantes
entreos elementosdeumcorpus.
Examinando a epopéia, os estru-
turalistas identificaram a oposição
queconfrontaocivilizadoGilgamesh
ao seu inverso, o selvagemEnkidu.O
processodepassagementreanatureza
e cultura encerra o terceiro elemento
daestrutura.Gilgameshéumdeuseé
umhomem.Enkidupassadeanimala
homem.Nasuaagonia,Enkidulamen-
ta a selvageria perdida. Ante amorte
de Enkidu, Gilgamesh se torna um
selvagem.AamizadeentreGilgamesh,
que representa a cultura, e Enkidu, a
natureza, ligaosepisódiosdaepopéia
e relata a progressão da humanidade
emsuaangústia,revolta,culpabilidade,
recusadamorte, em sua resignação.
Seja como for, na epopéia e na bi-
ografiadeGeorgeSmithas estruturas
se sucedem e se entrelaçam. Talvez
isto derive da imaginação dos in-
térpretes. O que não invalida o seu
raciocínio. O estruturalismo não é
uma postura ideológica,éummodode
ver.Seguindooselementoseasrelações
queunemSmithaGilgamesh, vemos
o desconhecimento, a inexistência
de informações, refletidos em uma
estruturamilenar.No textocuneiforme
enasuatradução,vemososelementos
relacionaisemumasíntese inteligível,
quedenominamosde linguagem.Na
epopéia e na Bíblia a mesma estru-
tura nos revela ou nos informa sobre
a nossa origem e o nosso destino
enquanto mortais. Vemos noMuseu
Britânico e na Biblioteca de Assur-
banipal repousaremos elementos da
cultura, da memória, da permanên-
cia. Vemos comUtnapishtim-Noé o
sistema de pecado e de renovação,
que desde sempre esteve em nossas
crenças religiosas.
Poderíamosveroutrasrelações,outros
conteúdos. O estruturalismo é cati-
vante.Dota-nos de infinitas possibili-
dades. Para onde quer que olhemos,
de qualquer ângulo que analisemos,
sejamepopéias sejam fatos, enxerga-
mosconstantesevariáveis,elementos
e relações. O mundo e a história
parecemconter inumeráveisestruturas
aseremdesveladas.Talvez istoocorra
porque a realidade é assimmesmo.
Talvez porque vejamos unicamente
aquiloque a nossa razão é capaz de
aceitar. Jamaispoderemos tercerteza.
Mas,é indiscutívelque,seGilgamesh,
a Biblioteca, Smith, as tábuas, Noé,
Enkidu,aArca,oMuseu,Utnapishtim
eatéeste texto, fazemalgum sentido,
é porque são elementos de uma es-
truturaabstrata.Deumaestruturaque
deveaexistênciaaos esforços da sua
mente, amável leitor.
BIBLIOGRAFIA
ANÔNIMO
; A epopéia deGilgamesh; SãoPaulo;
Martins Fontes; 2001.
CHERQUES
, HermanoRobertoThiry; Pesquisas
em ciências da gestão:métodos estruturalistas;
SãoPaulo; Atlas; 2007.
KIRK
, Geoffrey Stephen, Elmito, su significado
y funciones en laAntigüedad y otras culturas,
Paidós, Barcelona, 1990, pp. 140 160.
LÉVI-STRAUSS
, Claude; Anthropologie structu-
rale; Paris, Plon. 1958.
MASON
, Herbert. Gilgamesh. a verse narrative
byHerbertMasonwith an afterwordby JohnH.
Marks; NewYork; PenguinBooks, 1970.
SAUSSURE
, Ferdinand ; Cours de linguistique
générale ; Genève ; Bally eSéchehaye ; 1961.
STROTHER
, Robert S.; The great good luck of
mister Smith; Saudi AramcoWorld; Vol. 22 # 1;
January/ February; 1971.
HERMANOROBERTO
THIRY-CHERQUES
Graduado em Administração, mestre
em Filosofia e doutor em Ciências.
Professor titular da FGV-EBAPE e
pesquisador doCNPq.
ES
PM
E
a
í
e
s
t
a
v
a
.
S
m
i
t
h
t
i
n
h
a
d
a
d
o
c
o
m
e
s
t
e
f
a
t
o
e
x
t
r
a
o
r
d
i
n
á
r
i
o
:
o
v
e
l
h
o
e
r
a
N
o
é
.
U
t
n
a
p
is
h
t
i
m
e
r
a
N
o
é
!
Ilustração:MiriamDuenhas
1...,121,122,123,124,125,126,127,128,129,130 132,133,134,135,136,137,138,139
Powered by FlippingBook