94
R E V I S T A D A E S P M –
SETEMBRO
/
OUTUBRO
DE
2007
Entrevista
LAMPREIA
– A pioneira, nesse
movimento, foi a Petrobras; mas
houve outras, privadas, como a
Odebrecht, as construtoras de um
modo geral, como Mendes Junior,
CamargoCorrea...Achoessemovi-
mento saudável.
JR
–Eoqueogovernobrasileiropode-
ria fazer paradarmais apoioaele?
LAMPREIA
– As grandes empresas
multinacionais americanas, france-
sas, inglesas, sempre tiverammuito
apoionos seus governos –depoder
real, inclusivemilitar.Mas noBrasil
nãohá isso,ainda, sóum
softpower
,
para fomentar essa presença de
política internacional.
JR
– E quanto ao famigerado “custo
Brasil”? EaConstituiçãode88, que
parece estar acelerando a transfe-
rência de recursos do setor privado
para o setor público?
LAMPREIA
– Isso dificulta, cer-
tamente. Torna mais complicada
a inserção do Brasil no mercado
internacionalemenosatrativaapers-
pectiva de investimento no Brasil
– tira-nos a competitividade.
JR
–O que se pode fazer?
LAMPREIA
–Euachoqueinvestimentos
maciços em infra-estruturae, evidente-
mente,emeducação;masinfra-estrutura
éogargaloprincipal. Essadeveria sera
nossagrandeprioridade.
JR
– O que pode ser feito de con-
creto nesse sentido?
LAMPREIA
– Vêm ocorrendo ini-
ciativas privadas, como da Cia.
Vale do Rio Doce, com estrutura
muito moderna; a empresa de
mineração do Eike Batista tam-
bém tem investido em portos, fer-
rovias e meios de comunicação.
Os governos é que têm investido
pouco, em função, inclusive, da
Constituição de 88, a capacidade
de investir, dos governos emgeral,
épequena.Os serviços dadívidae
ocusteiodamáquinacomemuma
parcela tão grande dos recursos
fiscais que sobra pouco dinheiro
para o mais importante, que são
os investimentos.
JR
–A
Veja
desta semana trazuma
entrevista com o João Geraldo
Piquet Carneiro – que trabalhou
com o Ministro Hélio Beltrão na
questão da desburocratização – e
o depoimento é aterrador: apesar
de todo esforço, ele acha que a
burocracia de hoje é pior do que
a de 20 ou 30 anos atrás.
LAMPREIA
– E está piorandomuito
no governo atual. Está havendo
um inchaço, com pouca ênfase no
mérito, mas sim na filiação par-
tidária, nas lealdades com quem
está no poder – com mais perda
de eficiência da máquina estatal.
A comparação entre omundo em-
presarial brasileiro – cada vezmais
moderno, atualizado e competitivo
– com o governo é devastadora. O
governo, no Brasil, sempre atuou
como um ator vanguardista, na
economia, mas hoje está-se tor-
nandoum peso absurdo.
JR
– E quanto `a “competência”
dos brasileiros, quando vão ao
exterior?
LAMPREIA
– Cada vez melhor,
porquehámais familiaridadecom
os instrumentos operacionais,
cada vez mais gente fala inglês,
espanhol, cada vez mais as pes-
soas estão informadas sobreoutras
culturas,mais dispostas e curiosas
para aprender, há mais profissio-
nais brasileiros com experiência
no exterior, portanto acho que
houveumagrandemudança. Lem-
bro-mede ter ido àCopadoMun-
do, em 1966, na Inglaterra; havia
uma invasão de brasileiros e não
sabiam falar nada, sequer pedir
um sanduíche, tentando acampar
nomeio do Hyde Park, enfim, fa-
zendo coisas impensáveis. Hoje,
isso não acontecemais.
Há que lembrar, também, que
existem, hoje, doismilhões de bra-
sileiros vivendo fora do Brasil. No
passado, talvez houvesse uns dois
mil expatriados.
JR
–Muitos por necessidade...
LAMPREIA
–Semdúvida,mas hoje
existemessesdoismilhões–basica-
menteporescolhaseconômicas.São
pessoasqueestabelecema tramade
relacionamento entre a sociedade
“OBRASILSEMPRE FOI UMPAÍS
SINGULARNAAMÉRICADOSUL.”
“OGOVERNOBRASILEIRODEIXOUA
PETROBRASENTREGUEÀPRÓPRIASORTE.”