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SETEMBRO
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OUTUBRO
DE
2007 – R E V I S T A D A E S P M
aspectospolíticos.Naépoca,também,
o representante do comercio ameri-
cano, Robert Zoellick, divulgou, em
20de setembro, umdocumentoque
sechamou
Combatendoo terrorcom
o comercio onde dizia “A liderança
americananapromoçãodossistemas
econômicoecomercial internacionais
assume um papel vital. O comércio
representa mais do que a eficiência
econômica
.
Ele impulsionaos valores
nocernedesta lutaadiada
”.Odocu-
mento se fundamentava, portanto,
na importância do comércio para a
segurança internacional. Eu ousaria
dizer que, se não tivéssemos tido o
ataqueàs torres,emNova Iorque,nos
EstadosUnidos,essa rodadanão teria
decolado, pois não havia clima para
isso. O convencimento interno dos
Estados Unidos foi importante e - a
partirdaí–oconvencimentodeoutros
países.ARodadadeDoha teve início
em2003,comoumaprimeirareunião
ministerial,emCancun–Agendapara
o Desenvolvimento era o tema da
rodada. Na verdade nãohaviamuita
coisa,especificamente,sobreodesen-
volvimento, mas sim uma discussão
profunda sobre a questão do prote-
cionismoagrícolaversusoqueseriao
protecionismoindustrial.(Porque,hoje
emdia,ogrande focodeprotecionis-
mo está nos países desenvolvidos e
no setoragrícolaenãomaisdonosso
lado. Aliás, eu diria que somos mais
confusos e burocráticos do que pro-
priamenteprotecionistas).
Dequalquer formaesseeraoenfoque,
naépoca, eoqueficouclaro foi que
tantoosEstadosUnidoscomoaUnião
Européia queriammanter o seu pro-
tecionismo. Coisa curiosa, porque a
posição dos americanos, em 1986,
era a total eliminação de barreiras
tarifárias, totaleliminaçãodesubsídios
à agricultura...A reuniãode2003 foi
um fracasso. Muita gente já pensava
queaprópriarodada fracassaria;mas,
pela primeira vez houve uma união
de países em desenvolvimento a
favor da rodada – foi um fato novo.
EmHongKong, doisanosmais tarde,
numa outra reunião ministerial, em
queseesperavaqueaUniãoEuropéia
diminuísse o nível tarifário agrícola,
isso não aconteceu. Agora, o último
ato foiemRoterdam,nomêspassado,
quandoosquatropaíses–por issome
referiaosquatro líderes–Brasil, Índia,
Estados Unidos e União européia
–determinaramresolveressaquestão.
Nestamesma semana, foi retomadaa
negociação; eu diria que sou pessi-
mistasobreoresultado.Namelhordas
hipóteses teremosumresultadopouco
ambicioso, que, mesmo que não o
salve,deixadedesmoralizarosistema
multilateralcomoumsistemaque joga
a favor daaberturacomercial.
Então, tudo começou com as duas
torresechegamosaalgoqueparece
um fracasso; um fracasso de certa
forma anunciado, porque a autori-
dade que tem o presidente ameri-
canoparanegociar foi simplesmente
deixadade lado, expirouoanopas-
sado,nãohouveuma renovaçãoea
coisa está andandomal.
A primeira conclusão já é o segundo
aspectodoqueeuquerodizer–éque
talvezosistemaatualdecomércionão
reúnacondiçõesparaquese tenhaum
acordo tão abrangente, como o que
se propõe atualmente, incluindo agri-
cultura, indústria, serviços, também
propriedade intelectual e aspectos
relacionadosaoinvestimento–ouseja,
uma agendamuito ambiciosa. Quais
foram as soluções a que se chegou?
Normalmente, não se pode imaginar
esse sistemamultilateral sem os Esta-
dosUnidos.Na verdadeo sistema foi
uma invenção americana e sempre
funcionoucombasenoimpulsonorte-
americano; toda vez queWashington
decidiu que a economia mundial
necessitava de uma abertura maior
(emdefesadospróprios interesses), foi
capazdeconvencero restodomundo
a lançaruma rodada.
É importante entender como a coisa
funcionanosEstadosUnidos.Achoque
há trêselementos importantes,por trás
da decisão deWashington de lançar
umarodada.Desdeosanos30,quando
houve aDepressão, e uma tendência
ao protecionismo, sempre existiu a
consciência de que se deveria evitar
opior, evitaressabrigaprotecionistae
manter osmercados abertos; ou seja,
uma percepção norte-americana de
queolivrecomércioeradoseupróprio
interesse e da economia mundial. E,
paraevitarquepredominemospontos
de vista protecionistas, eles lançam
uma rodada... Sempre foi assim, éum
fatohistórico.Desdemeadosde1990
– já que nãohouve nenhuma rodada
depoisdofinaldaRodadadeUruguai
–vimososantiglobalizadores (ouseja,
movimentos que, de fato, são contra
o livre comércio) criar empecilhos a
qualquernegociação.
O segundo ponto, que sempre influ-
encioumuito, tem sido a questão da
contacorrente, aquestãodaBalança
Comercial. Tradicionalmente, toda
vez que a Balança Comercial teve
déficitmaior doque sequeria, os Es-
tados Unidos lançaram uma rodada.
Por exemplo, o próprio Presidente
Kennedy tinha uma preocupação
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