126
R E V I S T A D A E S P M –
MAIO
/
JUNHO
DE
2007
E
Ponto de
vista
OZIRESSILVA
ES
PM
xistem hoje dois Brasis. Correção,
talvez muitos outros. Todavia, sem
dúvida,existempelomenosdois,mui-
tofortes,eempermanenteconflito.Há
um,que todosconhecem.Aqueleem
queas liberdadespúblicassefirmaram
eonde, hámais deduas décadas, foi
restauradoodireito legítimodeesco-
lhadegovernantes,exatamentecomo
ocorre nas democracias modernas.
Mas existe também um outro, onde
a democracia é quase uma ficção e
muito acontece como se vivêssemos
nos idos do Império. Nele, as con-
quistas democráticas quase que não
têm repercussão.Ocidadãoparticipa
das campanhas políticas eelege seus
representantes,mas, terminadooritual
cívico, voltaa sero súditode sempre.
Os governantes passam sempre a ter
razão, mantendo regras do passado
e longedas aspirações dapopulação
que poderia ter melhor qualidade
de vida, com menores contrastes
e mais progresso. Longe também
do enorme progresso que omundo
atual, globalmente, mostra.
No início do Século XX, o grande
pioneiro da aviação, Alberto Santos
Dumont, tornou-se não só um dos
maiores brasileiros, mas, sobretudo,
umdosmais destacados realizadores
da época, ao dar uma volta com-
pleta, pelaprimeiravez, em tornoda
Torre Eiffel emParis, demonstrando a
ATITUDES
PARACRESCER
viabilidadedadirigibilidadeaérea.O
criativo conterrâneo logo seguiu em
frente e, em 23 de outubro de 1903,
novamente surpreendeu o mundo
voando, pela primeira vez, com um
aparelho mais pesado do que o ar.
O Brasil, assim, por um seu filho
competente e dedicado, mostrava
ser capaz de produzir tecnologias
e conhecimentos e, mais do que
isso, mostrava que também os
brasileiros eram capazes de, por
si próprios, tomar as rédeas do
destino em suas mãos.
Tudo isso acontecia no alvorecer da
nossaRepública,quandooprogresso
industrialeurbanoemergiacomoum
símbolo de vontade de progredir e
crescer. Entre as chamadas “cousas
da República”, ganhava forma uma
autêntica reforma cultural e edu-
cacional. Procurava-se melhorar a
qualidadedosprofessoresparacom-
petircomasuniversidadeseuropéias,
incentivando o ensino técnico e as
escolas de engenharia, enfim, recu-
perar o tempoperdido.
OBrasil avançou.Contudo, nãocon-
seguiu despojar-se da herança colo-
nial. Ao contrário das conquistas de
SantosDumont,temosnosdistanciado
do mundo moderno em múltiplas
frentes, em particular na educação,
ondeodesafio tendea sermaiscom-
plexo e, também, mais ameaçador,
dado o seu potencial de propagar
o atraso. Estampamos claramente a
nossa tradicional incapacidade de
nosdedicarfirmementepara formare
estimularquadrosdeempreendedores
crescentemente qualificados, de bra-
sileirosvencedores.
Como desdobramento, ampliou-se
a exclusão. A crítica realidade do
quadro atual exige questionar o que
aconteceu com o Brasil. Embutido
num sistema que insiste em não ser
reformado,dealtoabaixo,comclaras
insuficiências, longe de um sistema
gerencial realizador. Dentro de ex-
cessosde regulamentação faltaquase
tudo,emparticularalgoqueprivilegie
as iniciativaseosprogramasdedesen-
volvimento, emcursonos admirados
paísesneo-emergentes.
Nos idosdadécadade60, falávamos
em construir aviões! A EMBRAER
viria provar que não só pudemos
construí-los, mas conquistar ampla
demanda do competitivo mercado
mundial. Foi um avanço, mas não
com fôlego suficiente para romper
com o pecado original que nos
atrela ao conservador, ao ultrapas-
sado que não funcionou.
Será que não encontraremos as ati-
tudesparacrescer?
OziresSilva-ReitordaUNISA
E
SE
DESENVOLVER
Foto: divulgação