33
SETEMBRO
/
OUTUBRO
DE
2007 – R E V I S T A D A E S P M
Aqui temosumadimensão importante
para os brasileiros na sua relação
com o outro: o teor das relações in-
terpessoais, fora e dentro do local de
trabalho. Este tema é absolutamente
paradigmáticopara todos.Ocompor-
tamentode estrangeiros é visto como
frieza e impessoalidade no trato pes-
soal. Issosignificandoqueelesnãoes-
tão interessadosemnadaouninguém
além de si mesmos, o que bate de
frentecomomodelodesociabilidade
brasileiro, caracterizado pelo prazer
existencial, do encontro humano em
simesmo,independentedasatividades
objetivasemqueestejamenvolvidos,e
dapercepçãodequenoambientede
trabalhopode-se ter, também, amigos
e não apenas colegas. Essa “frieza e
impessoalidade” e a distância entre
o trabalho e a vida privada marcam
a identidade “deles” por oposição a
“nós”e,certamente,éumadasdificul-
dadesa seremenfrentadasparaquem
vai trabalhar foradoBrasil.
Poroutro lado,essadistância interpes-
soal nas relações de trabalho é vista
pelos brasileiros como reforçando a
união familiar. Primeiro porque os
horários de trabalho no exterior são
muitomais disciplinados do que no
Brasil, permitindo aos executivos
despenderem maior tempo com a
família e melhorando, conseqüente-
mente,asuaqualidadedevida.Esteé
umaprendizadoque todosgostariam
de transferirparaoBrasil,que,ao invés
deadotar omodeloeuropeunoqual
“trabalha-separaviver”, tempersegui-
doummodelo“norte-americano”no
qual “vive-separa trabalhar”. “Aqui”,
como exemplifica um brasileiro
que trabalhou na Checoslováquia,
“quandochegaas17horas todosvão
embora e praticam algum esporte,
hobby, que nada tem a ver com o
Segundo,essa“friezaeimpessoalidade
dooutro” faz comque a experiência
do “novo” seja realizada predomi-
nantemente entre o núcleo familiar,
o que faz com que as experiências
compartilhadas emcomum reforcem
o sentimentodeunidadedeste.
Se a distância emocional sentida pe-
los brasileiros no seu relacionamento
com outras culturas favorece uma
visão positiva do “nosso modelo de
relações sociais”, a experiência de
cidadaniadeoutrospaíses,asexíguas
diferenças sociais entre as classes, a
qualidade da educação faz com que
esses executivos, emmuitos casos,
principalmente aqueles ainda em
posição menos sênior, pensem em
estender suapermanêncianoexterior
oumesmo emnão voltar. Dar a seus
Embora o holandês tenha respon-
dido à sua intervenção com um
sorriso e ele, brasileiro, sabia que
não precisava lembrá-lo, o que o
atingiu emocionalmente foi a falta
de qualquer elo mais próximo ou
pessoal na resposta do outro.
Aqui temos uma dimensão im-
portante para os brasileiros na
sua relação com o outro: o teor
das relações interpessoais, fora e
dentro do local de trabalho.
Ð
Lívia
Barbosa
trabalho.Oque eles argumentam é
o seguinte: se eu fiquei aqui o dia
inteiro, seeucomium sanduíchena
minhamesaeaindaassimnãoaca-
bei omeu trabalho, oproblemanão
émeu e simdequemplanejou esta
tarefaparaumnúmero inadequado
depessoas”.Largarum trabalhosem
acabar e/ou ir embora em horário
“normal”, emboradesejado, é visto
pelos brasileiros como uma impos-
sibilidade.Através das horas que se
permanece no escritório, no Brasil,
medem-sevárias coisas comodedi-
cação e motivação, que no futuro
irão afetar a avaliação de desem-
penho, e vários outros aspectos da
vida profissional. Assim, mesmo
concordando que este não deveria
serocasoeadmitindoqueessaprática
se torna absolutamente contraditória
comaspolíticasdequalidadedevida
desenvolvidas por muitas empresas,
os executivos brasileiros admitem
que na cultura empresarial brasileira
onúmerodehoras trabalhadas éum
valor apreciado.
Foto: Jeff Osborn
Foto:AlaaHamed