Varejo:
a última fronteira
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M A R Ç O
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A B R I L
D E
2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S PM
“CAPACIDADEOCIOSADELIBERADA,
PARAELES,ÉCONSIDERADANORMAL.”
investimento. Então a saída é muita
competência e profissionalização.
Ou se cresce qualitativamente ou se
fica pelo caminho. Mas 2006 será
um ano bom para o país, como nor-
malmente são os anos de eleição e
Copa doMundo...
JR
– Será que tem algo a ver?
CARLOS ANDRÉ
– As eleições são
acada2anos–então, osanospares,
normalmente, são melhores. Nesse
ambiente, aconjuntura internacional
é favorável. O Brasil nunca esteve
com a taxa de risco tão baixa ou o
capital externo tão interessado no
mercado brasileiro...
FG
– O caso da Richards faz-me
lembrar que as grandes camisarias,
hoje, vendem poucas mercadorias
commarcas de terceiros. Em geral,
e trabalhamcometiquetasdaprópria
loja. Isso é novo?
CARLOSANDRÉ
–ARichardséuma
empresa monomarca: vende sua
própria marca e produz com vários
parceiros.Nocasodacamisaria,60%
do que vendemos é produzido por
uma fábrica nossa, no RJ; 20% são
de parceiros antigos e 20% são
importados, sempre com nossa
marca. Algo que era considerado
ruim para o varejo de confecção –
que era a verticalização – hoje está
na moda. O exemplo máximo de
verticalizaçãoéaZara, onde seque-
braram vários paradigmas. A fábrica
própria está com capacidade ociosa
e os caminhões circulam com
capacidade ociosa, porque o olho
deles é essencialmente no cliente –
produto certo para vender commar-
gem cheia. E toda equação é feita
do ponto-de-venda para a fabrica-
ção. Acho que não há, em todo o
mundo,uma integração tãobem feita
quanto a da Zara. Algo que seria
impensável, há algum tempo –
capacidadeociosadeliberada–,para
eles é considerada normal.
FG
– E mudar o mostruário a cada
15 dias, se for o caso.
CARLOS ANDRÉ
– Exatamente.
CARLOS
– Nesse ambiente de cres-
cimento – até mesmo de euforia –,
segundo os números da ABRASCE,
temos 245 shopping centers em
operaçãoe17serão inauguradosnos
próximos 3 anos. Temos falado com
varejistas e todos têm planos
ambiciosos. Parece que a indústria
terá, então, de criar novos formatos
paraacompanharodesenvolvimento
e abrir pontos para toda essa gente.
JR
–Você acha que há mais otimis-
mo na ponta do varejo do que no
setor industrial?
CARLOS
– De certa forma, os gran-
des espaços para shopping centers
convencionais já estão tomados.
Existem algumas cidades ainda
inexploradas, mas em percentual
menor. Eo focodascadeiashojeestá
na sua revitalização e expansão dos
empreendimentos existentes. Isso
significa, de certa forma, mais do
mesmo.Dificilmente seduplicauma
mesma loja dentro de um shopping,
amenos que sejamuitogrande.Mas
percebemos uma demanda declara-
da. A Renner, por exemplo, quer
dobrar seu número de lojas em 4
anos; as lojas Marisa têm planos de
expansão ousados; a C&A está
ativamente buscando novos pontos.
E faltam novos pontos-de-venda
interessantes dentro do conceito
shopping center regional...
FG
– Você acha que esses grandes
shoppings já estão se dirigindo à
periferia das cidades e querendo
adaptar-se às classes C/D – ou ainda
não chegou essa hora?
CARLOS
–Essaéumapergunta inte-
ressante. Um dos grandes mercados
é o de rendamais baixa –C eD. Se
formos à Zona Norte de SP, encon-
traremosumuniversodevarejocom-
pletamente diferente do que encon-
tramos naZona Sul – asmarcas, nas
mesmas categorias de produtos, são
completamente diferentes. É como
se fosseumpaísaserdescoberto, fora
dos segmentos tradicionais de alta
renda.
MÁRIO
–Os supermercados enfren-
tam uma competição como nunca
houve. Há redes locais e as redes
internacionais, muitas se expan-
dindo,comooWal-Mart ,que, recen-
temente, adquiriu as lojas Bom
Preço, no Nordeste. A região Sul –
comaaquisiçãodoSonaepeloWal-
Mart – acabou ficando uma área do
Wal-Mart. A região Sudeste é mais
CarrefourePãodeAçúcar.As regiões
Nordeste e Centro-Oeste vão definir
a briga dessas grandes redes. Sóque
essas redes não têmmais de40%de
todo o varejo brasileiro. Logo, a