Janeiro_2005 - page 94

Mesa-
Redonda
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REV I STA DA ESPM–
J A N E I RO
/
F E V E R E I RO
D E
2005
Castilho – uma das primeiras
jornalistas de moda no Brasil e que
fundouoWork Fashion – costumava
dizer: “Ferreirinha, depois demuitos
anos, cheguei à conclusão de que,
quemmantém a indústria da falsifi-
cação são as próprias marcas de
luxo”. Quando falamos de pirataria
de CD, ou de relógio, que no Brasil
émuito forte, naverdade, em termos
de luxo, noBrasil, é quase nada. Em
lugarescomoTailândia,China, Índia,
Nova Iorque, Itália é uma loucura.
Acabo de comparecer a uma con-
ferência internacional do luxo que
aconteceu na China – já está no
quarto ano. Aliás, ela foi realizada
na China devido a um problema
específico: Hong Kong cresceu esse
ano82%noconsumodiretode luxo,
sóque, aomesmo tempo, trata-sedo
maior produtor mundial de falsi-
ficação. As empresas não perdem
cliente para pirataria, pois cliente de
luxo não compra produto pirata. O
grande prejuízo é em relação à
imagem – arranha a marca. Hoje é
o segundo orçamento de todas as
empresas, depois de marketing,
inovaçãoe tecnologia; abrigaépelo
combate à pirataria. É tão dispen-
dioso, que faz com que grupos
concorrentes se juntem. Chanel
trabalha com Hermès e Louis
Vuitton, compartilhando custos, por-
queocombateàpiratariaécaro. Isso
também tem a ver com a neces-
sidade de se lançar produtos no
mercado que custamUS$ 50mil...
MAURO
– A inovação tem papel
importante, porque os modelos
falsificados ou pirateados tendem a
ser mais clássicos. O processo de
inovação ajuda. Mas não se conse-
gue controlar. Hoje, há até expor-
tadores de produtos piratas.
FERREIRINHA
–NaChina, vi ruas
e ruas só de falsificação. Nossa 25
deMarço é coisa de amador.Vi uns
stands
que não continham produto.
Só catálogos e fotos na parede. Um
indivíduo sentado à mesa; a pessoa
chega, escolhe oproduto e ele, pelo
rádio, passa o pedido para alguém.
São os agentes e representantes da
falsificação – é uma indústria.
JR
–Vamos falar umpoucodo futuro
desse mercado no Brasil, tanto do
pontodevistademercadoconsumidor
quanto demercado de trabalho?
LIVIA
– Embora não seja especia-
lista nessa área, pela minha expe-
riência com a cultura brasileira e o
comportamento do consumidor,
acho que se trata de ummercado
em expansão. E a tendência será
ainda–poralgunsanos–decrescer.
MAURO
– Vejo dois cenários,
parao luxobrasileiro.O luxodeque
se fala – Ferrari, Jaguar, Mercedes –,
conforme aumentam a distribuição
e a disponibilidade das marcas, ele
tende a aumentar, não em volume,
mas em valor do que se adquire.
Quer dizer, o mesmo universo de
consumidores vai consumir mais
quantidade, mas o produto não vai
aumentar a sua penetração. Omer-
cado existe há muito tempo e o
crescimento é vegetativo. A relação
cambial vem sendo cada vez me-
lhor; vamos torcer para que o euro
não dispare. Grande parte das em-
presas que trabalham com produtos
de luxo leva em conta o fator risco,
as importações, essa questão da
banda cambial. Enquanto o dólar
cai, as empresas que se alavan-
caram vão trabalhar com preços
médios.Mas apercepçãodoconsu-
midor é: “O dólar está caindo.
Então, vou comprar o produtomais
barato”. Mas não é bem assim.
FG
–A verdade é que os preços dos
produtosimportadosnãoestãocaindo.
MAURO
–Nãoestão,mas aexpec-
tativa é a de que a relação cambial
se estabilize, para que esse luxo
“intermediário” continue acessível
paraqueumapessoaque tomauísque
possa migrar para um Scotch 12
anos. A renda
per capita
tem de
aumentarparaqueosegmentocresça
em volume. O luxo inacessível vai
continuar assim. Tivemos um
boom
deconsumonoBrasil,em97,quando
a taxa estava um para um.
FERREIRINHA
– Acho que vai
haver umagrandeexpansão. Acurto
prazo é ummercado em expansão,
crescimento e empregabilidade.
Claro que podemos crescer ainda
mais, quando retomarmos o cres-
cimentoeconômico.Mas também se
vê, no futuro, o chamado “novo
luxo”, que é o que os norte-ameri-
canos vêm criando com
cases
como
Starbucks. Aqui, fazemos café Supli-
cy, Santo Grão etc. – elevando o
patamardeconsumo,nãonecessaria-
mente ao luxo inacessível, mas o de
poder consumir serviços e produtos
melhores. O perfil que o jovem
“OUTRACOISARELACIONADAAOLUXO,MUITO
IMPORTANTE,ÉARARIDADEEOEXÓTICO.”
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